quinta-feira, 4 de abril de 2013

Luther King tinha um sonho. Nós herdamos o pesadelo



No dia 04 de abril de 1968, em Memphis, Tennessee, nos Estados Unidos, morria o pastor batista Martin Luther King, mas não morria o sonho de milhões de cidadãos norte-americanos em uma sociedade mais justa, em que negros e brancos pudessem desfrutar de oportunidades iguais, livres do ódio e do rancor de um racismo enraizado, preservado e cultivado na alma americana.
No dia 07 de março de 2013, portanto há menos de um mês, a Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados do Parlamento brasileiro elegia o pastor evangélico Marco Feliciano para presidi-la, em sessão fechada para evitar o protesto de centenas de manifestantes que não se conformavam com a eleição de um deputado acusado de homofobia e racismo. Está sendo difícil acusá-lo formalmente de racismo, mas poucos duvidam que não existam preconceito e falta de equilíbrio na sua declaração postada no twitter: "Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato. O motivo da maldição é a polêmica. Não sejam irresponsáveis twitters rsss". Quase ninguém acredita que não haja homofobia na frase dita pelo pastor deputado: "A podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam ao ódio, ao crime, à rejeição".
A distância entre a postura de um pastor e outro nos faz acreditar que o Universo é realmente infinito. Caso contrário, ficaríamos enlouquecidos tentando realizar esse cálculo. Enquanto um lutou por toda a sua vida contra o preconceito, as discriminações, a favor de uma sociedade igualitária, o outro investe na exclusão, no distanciamento entre povos e no afastamento de pessoas com orientação sexual diversa daquela que acredita ser a única aceitável. Enquanto um enxergava igualdade entre desiguais, acreditando serem irmãos mesmo os adversários; o crente dos tempos atuais enxerga em tudo a presença do diabo. Não foi por acaso que o deputado Feliciano disse durante um culto evangélico: “Pela primeira vez na história deste Brasil um pastor cheio de Espírito Santo conquistou espaço que até ontem era dominado por Satanás”.


O mais incrível em toda essa história é que, no dia 05 de abril deste ano, ao ser escolhido candidato à presidência da Comissão dos Direitos Humanos, o deputado Feliciano disse se basear na posição política de Martin Luther King, pastor norte-americano líder na luta pelos direitos dos negros e vencedor do Prêmio Nobel da Paz. Como presidente daquela comissão, ele tem poder para retirar ou colocar na pauta de votação projetos de lei relacionados a direitos humanos e defesa das minorias.
Nas redes sociais são muitos os comentaristas que enxergam preconceito contra os pastores evangélicos na campanha pelo afastamento de Feliciano da presidência da CDH. Não conseguem distinguir a diferença de interpretação e de transposição para ação da leitura feita do evangelho segundo Martin Luther King e por Marco Feliciano.
Quantas águas passaram por debaixo da ponte da salvação de 1968 a 2013. Quantos belos exemplos foram deixados por pastores, párocos, padres, bispos, apóstolos, freis e freiras até chegarmos à insensatez marcofeliciana dos dias de hoje. Martin Luther King tinha um sonho. Marco Feliciano é apenas um dos nossos inúmeros pesadelos.
A Comissão dos Direitos Humanos até se esqueceu de lembrar dos 45 anos do falecimento daquele que foi uma das maiores razões da existência da própria comissão nos dias de hoje. O presidente da CDH deve ter passado o dia inteiro tentando exorcizar os diabinhos que ainda insistem em habitar naquele reduto.
Viva, porque ainda vive, Martin Luther King!
Vade Retro, Satanás! Mangalô três vezes! Salve-nos São Jorge Mautner!


 

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