quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Baudelaire, o mais bendito poeta maldito da literatura


Charles Baudelaire, sem dúvidas, está entre os maiores poetas da humanidade. Seu livro Flores do Mar é uma obra-prima da literatura mundial. Ao ser lançado, na França, no ano de 1857, o livro tinha cem poemas e provocaria uma reação que iria repercutir por toda a vida do poeta. Por abordar temas controversos para a época, como o lesbianismo e o satanismo, a obra chocou leitores e críticos.
O jornal Le Figaro fez uma crítica mordaz a Baudelaire, que iria marcá-lo para o resto da vida. A partir de então passou a ser estigmatizado como poeta maldito. Foi multado e seis poemas, considerados exageradamente imorais, proibidos de serem divulgados. Só voltariam a fazer parte da obra do poeta na edição de 1911, quando ele já havia morrido.
Baudelaire foi um gênio para as artes, mas sua vida social e econômica, sempre um caos.


Da mesma forma que nasceu, em Paris, no dia 9 de abril de 1821, morreu nos braços da mãe, em 31 de agosto de 1867, com apenas 46 anos de idade, endividado e corroído pela sífilis que adquiriu ainda jovem e que, em várias ocasiões, levaria o poeta a crises de sentir-se enlouquecido.

É difícil escolher um poema de Charles Baudelaire. Todos são maravilhosos, de uma beleza poética indescritível. Opto pelo poema de nome estranho – Heautontimoroumenos – por considerá-lo o que mais retrata a vida de Baudelaire, sua capacidade de contestar a existência, seu radicalismo e o caráter insólito. O título foi inspirado na peça grega Heauton Timoroumenos do século IV A.C., do poeta ateniense Menandro, e que literalmente significa “carrasco de si mesmo”. Tudo a ver com Baudelaire, um gênio da poesia.

Heautontimoroumenos
Charles Baudelaire - À J.G.F.

Sem cólera te espancarei,
Como o açougueiro abate a rês,
Como Moisés à rocha fez!
De tuas pálpebras farei, 

Para o meu Saara inundar,
Correr as águas do tormento
O meu desejo ébrio de alento
Sobre o teu pranto irá flutuar

Como um navio no mar alto,
E nem meu saciado coração
Os teus soluços ressoarão
Como um tambor que toca o assalto!

Não sou acaso um falso acorde
Nessa divina sinfonia,
Graças à voraz Ironia
Que me sacode e que me morde?

Em minha voz ela é quem grita!
E anda em meu sangue envenenado!
Eu sou o espelho amaldiçoado
Onde a megera se olha aflita.

Eu sou a faca e o talho atroz!
Eu sou o rosto e a bofetada!
Eu sou a roda e a mão crispada,
Eu sou a vítima e o algoz!

Sou um vampiro a me esvair
– Um desses tais abandonados
Ao risco eterno condenados,
E que não podem mais sorrir!

Tradução: Ivan Junqueira

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