terça-feira, 9 de agosto de 2016

Dia Internacional dos Povos Indígenas é aqui e agora



Para comemorar o Dia Internacional dos Povos Indígenas é fundamental lembrar do Marechal Rondon, de origem indígena por parte de seus bisavós paternos e da bisavó materna. Percorreu mais de 100 mil quilômetros abrindo caminho por este Brasil afora. Foi responsável pela elaboração das cartas geográficas de cerca de 500 mil quilômetros quadrados deste mundão brasileiro. Fundou o Serviço de Proteção ao Índio, propôs a fundação do Parque Nacional do Xingu e inaugurou o Museu Nacional do Índio. Chegou a ser indicado para o Prêmio Nobel da Paz, em 1957.
Foi o espírito aventureiro e destemido de Cândido Mariano da Silva Rondon, o marechal patrono das comunicações do Exército Brasileiro, que abriu caminho para mudar a realidade de um Brasil litorâneo. Nos livros de História do Brasil, a constatação que se segue, feita em 1622, é bem conhecida:

"Da largura que a terra do Brasil tem 
para o sertão não trato, porque até
 agora não houve quem a andasse, 
por negligência dos portugueses que, 
sendo grandes conquistadores de terras, 
não se aproveitam delas, mas contentam-se
 de as andar arranhando
 ao longo do mar como caranguejos”.

(Frei Vicente de Salvador)

Carlos Drummond de Andrade fez ao grande brasileiro que foi Marechal Rondon uma bela e justa homenagem, com os versos que se seguem. De minha parte, uma singela lembrança em forma de Haicai sobre essa belíssima foto (acima) de Santi Asef. E, de Caetano Veloso, a maravilhosa canção Um Índio, nas voz de Milton Nascimento.

Pranto Geral dos Índios
Carlos Drummond de Andrade

Chamar-te Maíra Dyuna
 Criador seria mentir
pois os seres e as coisas respiravam antes de ti
mas tão desfolhados em seu abandono
que melhor fôra não existissem
As nações erravam em fuga e terror
Vieste e nos encontraste
Eras calmo pequeno determinado
Teu gesto paralisou o medo
tua voz nos consolou, era irmã

Protegidos do teu braço nos sentimos.
O akangatar mais púrpura e sol te cingiria
mas quiseste apenas nossa fidelidade.

Eras um dos nossos voltando às origens
e trazias na mão o fio que fala
e o foste estendendo até  o maior segredo da mata

A piranha a cobra a queixada a maleita
não te travavam o passo
militar e suave
nossas brigas eram separadas
e nossos campos de mandioca marcados
pelo sinal da paz
E dos que se assustavam pendia o punho
fascinado pela força de teu bem-querer
Ó Rondon, trazias contigo o sentimento da terra.
Uma terra sempre furtada
pelos que vêem de longe e não sabem
possuí-la
terra cada vez menor
onde o céu se esvazia da caça e o rio é memória
de peixes espavoridos pela dinamite
terra molhada de sangue
e de cinza estercada de lágrimas
e lues
em que o seringueiro o castanheiro o garimpeiro o
bugreiro colonial e moderno
Celebram festins de extermínio
Não nos deixaste sós quando te foste
Ficou a lembrança, rã pulando n’água
do Rio da Dúvida: voltarias?
Amigos que nos despachastes contavam de ti sem luz
antigo, entre pressas e erros, guardando
em ti, no teu amor tornado velho
o que não pode o tempo esfarinhar
e quanto nossa pena te doía

Afinal já regressas. É janeiro
tempo de milho verde. Uma andorinha
um broto de buriti nos anunciam
tua volta completa e sem palavra
A coisa amarga
Girirebboy circula nosso peito
e Karori a libélula pousando
no silêncio de velhos e de novos
é como o fim de todo movimento
A manada dos rios emudece
Um apagar de rastros um sossego
de errantes falas saudosas, uma paz
coroada de folhas nos roça
e te beijamos
como se beija a nuvem na tardinha
que vai dormir no rio ensanguentado
Agora dormes
um dormir tão sereno que dormimos
nas pregas de teu sono
Os que restam da glória velha feiticeiros
oleiros cantores bailarinos
estáticos debruçam-se em teu ombro
ron don  ron don
repouso de felinos toques lentos
de sinos na cidade murmurando
Rondon
Amigo e pai sorrindo na amplidão.



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