segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Descaso põe fogo no Museu Nacional e destrói memória

 


Descaso. Desrespeito com a cultura e a memória nacional, com a pesquisa científica e até mesmo com o turismo nacional. O incêndio no Museu Nacional, na Zona Norte do Rio de Janeiro, não destruiu apenas um monumento histórico, tombado e admirado nacional e internacionalmente, mas também, a nossa memória, a cultura brasileira tão desprezada e abandonada pelas autoridades que deveriam ser responsáveis pela sua preservação.
O fogo começou por volta das 19h30 de domingo e se alastrou rapidamente porque boa parte da estrutura do prédio era de madeira e o acervo tinha muito material inflamável. Demorou a ser contido porque dois hidrantes próximos estavam com a pressão baixa. Os bombeiros tiveram que recorrer a soluções inusitadas, como o uso de carros-pipas e bombeamento de água de uma lagoa próxima. Perdeu-se tempo e o fogo só foi controlado na madrugada desta segunda-feira.


As causas do incêndio serão investigadas. Na verdade, a tragédia tem sua causa no descaso que se acumulou ao longo de décadas. A instituição vinha sofrendo com a falta de recursos e de pessoal, má conservação com fios elétricos aparentes e paredes descascadas. Cupins destruíram a base onde estava instalada a reconstrução do fóssil de um dinossauro de 13 metros que foi descoberto em Minas Gerais e viveu há 80 milhões de anos.
Havia um repasse anual previsto de R$ 550 mil, oriundo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que, em função de uma crise financeira, só conseguia repassar 60% desse valor desde 2013. Neste ano, inclusive, os serviços chegaram a ser suspensos porque não tinha dinheiro para pagar pessoal.

Funcionário, desesperado, tenta salvar equipamento do Museu Nacional
O Museu Nacional completou 200 anos no último mês de junho. Foi residência oficial da família imperial. Tinha renome internacional e recebeu visitas ilustres, como a do cientista Albert Eisten. Tinha um acervo de mais de 20 milhões de itens. Entre eles, o crânio de Luzia, o fóssil mais antigo das Américas e tesouro arqueológico nacional. 
Segundo o arqueólogo e historiador do Iphan, Claudio Prado de Mello, as perdas são "inestimáveis, incomensuráveis". Ele disse ao G1: “a gente está falando de um museu que formou uma coleção histórica na época em que os grandes museus da Europa estavam se formando. Tinha pesquisa acontecendo, tinha a reserva técnica de material arqueológico." 
Podemos acrescentar que toda a História do Brasil estava ali dentro. Funcionários e voluntários, desesperados, tentaram salvar alguma coisa enquanto as chamas se espalhavam cada vez mais. Muitos trabalhadores, emocionados, se abraçavam aos prantos.

O meteoro Bendegó, uma das poucas peças a resistir ao calor das chamas
O Brasil é isso. Um país que não respeita e não preserva sua memória, sua cultura e relega a terceiro, quarto, quinto, último plano a manutenção, reforma e ampliação de seus espaços culturais. Isso não tem valor. Se houvesse respeito, tragédias como essa não seriam tão comuns na nossa história. Vale a pena ler o que aconteceu em 2013 no incêndio do Museu da América Latina (clique aqui).
Triste, muito triste. Estamos todos de luto.




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