domingo, 30 de setembro de 2018

Morre Ângela Maria, a sapoti que encantou os anos 50 e 60


Abelim Maria da Cunha, ou seja, Ângela Maria, uma das rainhas do rádio, morreu ontem, aos 89 anos, mesma idade de Tito Madi, que nos deixou na semana passada. A geração que fez estrondoso sucesso nos anos de 1950 e 1960 está levando suas vozes para cantar em outro mundo, num coral bem mais harmonioso, celestial. Ângela estava há 34 dias internada no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo, e não resistiu a uma infecção generalizada. Será sepultada hoje no Cemitério Congonhas, na zona sul da capital paulista.
Comovente o vídeo que o marido dela, o empresário Daniel D’Angelo, divulgou no Facebook, ao lado do filho adotivo Alexandre. “É com meu coração partido que eu comunico a vocês que a minha Abelim Maria da Cunha, e a nossa Angela Maria, partiu, foi morar com Jesus", disse emocionado.
Ângela Maria é uma das poucas cantoras brasileiras que tem uma trajetória parecida com a das tradicionais cantoras americanas. Filha de pastor protestante, desde menina cantava nas igrejas de sua infância e adolescência, vividas em Niterói, São Gonçalo e São João de Meriti. Foi operária tecelã e inspetora de lâmpadas na fábrica da General Eletric, mas seu sonho era ser cantora apesar da oposição de sua família.


Nos últimos anos da década de 1940, começou a frequentar programas de rádio e passou a usar o nome de Ângela Maria para não ser descoberta pelos parentes. Apresentou-se no “Pescando Estrelas”, de Arnaldo Amaral, na Rádio Clube do Brasil (hoje Mundial); na “Hora do Pato”, de Jorge Curi, na Rádio Nacional; no programa de calouros de Ari Barroso, na Rádio Tupi; e no “Trem da Alegria” - programa dirigido por Lamartine Babo, Iara Sales e Heber de Bôscoli, na Rádio Nacional.
Ângela Maria deixou os estudos, abandonou o emprego na indústria e foi morar com uma irmã no subúrbio de Bonsucesso, começando, definitivamente, uma admirável carreira de cantora. Em 1951, pela RCA Victor, gravou os sambas Sou Feliz e Quando Alguém Vai Embora. O primeiro grande sucesso veio no ano seguinte com o samba Não Tenho Você, batendo recorde de vendas.



Ganhou o apelido de Sapoti, de ninguém menos do que o presidente da República Getúlio Vargas, que teria dito: “menina você tem a voz doce e a cor do sapoti”. No ano de 1954, tornou-se a Rainha do Rádio, vencendo concurso popular e teve a sua primeira participação no cinema, no filme Rua Sem Sol. 
Ainda durante a década de 1950, vários de seus sambas-canções viraram sucesso, como “Fósforo queimado”, “Vida de bailarina”, “Orgulho”, “Ave Maria no morro” e “Lábios de mel”. Na década de 1960, o grande sucesso foi “Gente humilde”, destaque nas paradas e uma composição de Garoto, Chico Buarque e Vinícius de Moraes.
Não poderia deixar de registrar aqui o primeiro sucesso da cantora, um samba muito bonito de Paulo Marques e Ari Monteiro. Mas, na sequência, posto a belíssima interpretação que Ângela deu a Bastidores, de Chico Buarque de Holanda.


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