segunda-feira, 13 de abril de 2020

Brasil perde o talento inspirador de Moraes Moreira


Moraes Moreira faz parte daquele timaço de músicos, cantores, artistas, que fizeram a nossa cabeça nos anos de 1970 e nas décadas seguintes. O disco Acabou Chorare dele e dos Novos Baianos é uma obra-prima da Música Brasileira.

Muito triste essa partida repentina, completamente fora do combinado. Moraes Moreira tinha somente 72 anos e, como milhões de brasileiros, estava em isolamento social por causa do coronavírus.

Lembro, como se fosse hoje, a explosão de ritmo e alegria que foi o surgimento do grupo Novos Baianos com o disco Ferro na Boneca, lançado em 1970 pela RGE, que trazia também A Casca de Banana Que Eu Pisei, e a música De Vera, que concorreu no Festival da Canção de 1969. Na origem dessa turma está a influência de Tom Zé, um dos músicos mais criativos e talentosos do Brasil.


Dois anos depois, em 1972, Acabou Chorare viria consolidar o talento musical do grupo, com riqueza de ritmos e melodias ousadas e criativas. Esse trabalho foi desenvolvido com maestria depois que o grupo recebeu a visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, no Rio de Janeiro. O disco é uma junção de samba, frevo, bossa-nova, rock e baião.

Moraes Moreira vai fazer muita falta para a música brasileira. Nossa história cultural perde uma peça importante. Esse baiano de Ituaçu é uma página memorável da nossa vida artística.

R.I.P., Moraes Moreira! 


Pequena História – Antonio Carlos Moreira Pires nasceu em Ituaçu, no interior da Bahia, em 8 de julho de 1947. Moraes Moreira começou tocando sanfona de doze baixos em festas de São João e outros eventos na cidade. Na adolescência aprendeu a tocar violão, enquanto fazia curso de ciências em Caculé, na região sudoeste da Bahia, em 1967.
Aos 19, ele foi para Salvador, onde começou a estudar no Seminário de Música da Universidade Federal da Bahia. Lá, ele conheceu seus futuros companheiros dos Novos Baianos, Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor, além de Tom Zé.
Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal.
O grupo já tinha também a participação de Baby do Brasil (Baby Consuelo, na época) na voz e o guitarrista Pepeu Gomes quando foi participar do popular Festival da Música Popular Brasileira na TV em 1969, com a música “De Vera”, de Moreira e Galvão.
Com a regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira, o álbum de 1972 é reconhecido como um dos melhores - senão o melhor - trabalho do pop brasileiro.


Foi um passo adiante do tropicalismo de Caetano, Gil e Tom Zé - no abraço ao rock e à psicodelia hippie, na fusão de ritmos brasileiros, na recusa a seguir padrões no período mais duro da ditadura militar.
O grupo foi morar em um sítio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos EUA e da Europa em plena ditadura militar brasileira. Lançaram ainda três discos, cujo sucesso não tão grande começou a gerar desentendimentos. Ele ficou no grupo de 1969 até 1975, quando saiu em carreira solo.
Em 1976, já em carreira solo, ele se tornou o primeiro cantor de trio elétrico, ao subir no trio de Dodô e Osmar, e cantou a música “Pombo correio”, sucesso na época.
Já em 1997, ele reuniu o grupo Novos Baianos para lançar o disco ao vivo Infinito Circular, com canções dos discos anteriores e algumas inéditas. Em 2007, Moraes Moreira publicou o livro A História dos Novos Baianos e Outros Versos, escrito em linguagem de cordel, que conta a história dos Novos Baianos.
Em 2017, ele lançou outro livro, o "Poeta Não Tem Idade", com cerca de 60 textos sobre homenagens a Luiz Gonzaga, Machado de Assis, Gilberto Gil e muitos outros.
Nos últimos anos, Moraes Moreira se envolveu em shows de reunião dos Novos Baianos e de trabalhos solo. O artista também se dedicou a trabalhos com o filho. No total, ele lançou mais de 60 discos entre a carreira solo, Novos Baianos, Trio Elétrico Dodô e Osmar, além da parceria com o guitarrista Pepeu Gomes.
(Informações com o G1)


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