Moraes Moreira faz
parte daquele timaço de músicos, cantores, artistas, que fizeram a nossa cabeça
nos anos de 1970 e nas décadas seguintes. O disco Acabou Chorare dele e
dos Novos Baianos é uma obra-prima da Música Brasileira.
Muito triste essa
partida repentina, completamente fora do combinado. Moraes Moreira tinha somente
72 anos e, como milhões de brasileiros, estava em isolamento social por causa
do coronavírus.
Lembro, como se fosse
hoje, a explosão de ritmo e alegria que foi o surgimento do grupo Novos Baianos
com o disco Ferro na Boneca, lançado em 1970 pela RGE, que trazia também
A Casca de Banana Que Eu Pisei, e a música De Vera, que concorreu
no Festival da Canção de 1969. Na origem dessa turma está a influência de Tom
Zé, um dos músicos mais criativos e talentosos do Brasil.
Dois anos depois, em 1972, Acabou Chorare viria consolidar o talento musical do grupo, com riqueza de ritmos e melodias ousadas e criativas. Esse trabalho foi desenvolvido com maestria depois que o grupo recebeu a visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, no Rio de Janeiro. O disco é uma junção de samba, frevo, bossa-nova, rock e baião.
Moraes Moreira vai fazer muita falta para a música brasileira. Nossa história cultural perde uma peça importante. Esse baiano de Ituaçu é uma página memorável da nossa vida artística.
R.I.P., Moraes Moreira!
Pequena História – Antonio Carlos Moreira Pires nasceu em Ituaçu, no interior da Bahia, em 8 de julho de 1947. Moraes Moreira começou tocando sanfona de doze baixos em festas de São João e outros eventos na cidade. Na adolescência aprendeu a tocar violão, enquanto fazia curso de ciências em Caculé, na região sudoeste da Bahia, em 1967.
Aos 19, ele foi para Salvador,
onde começou a estudar no Seminário de Música da Universidade Federal da Bahia.
Lá, ele conheceu seus futuros companheiros dos Novos Baianos, Luiz Galvão e
Paulinho Boca de Cantor, além de Tom Zé.
Em 1968, eles criaram o
espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do
Dilúvio Universal.
O grupo já tinha também a
participação de Baby do Brasil (Baby Consuelo, na época) na voz e o guitarrista
Pepeu Gomes quando foi participar do popular Festival da Música Popular
Brasileira na TV em 1969, com a música “De Vera”, de Moreira e Galvão.
Com a
regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”,
“Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas
de coautoria de Moraes Moreira, o álbum de 1972 é reconhecido como um dos
melhores - senão o melhor - trabalho do pop brasileiro.
Foi um passo adiante do tropicalismo de Caetano, Gil e Tom Zé - no abraço ao rock e à psicodelia hippie, na fusão de ritmos brasileiros, na recusa a seguir padrões no período mais duro da ditadura militar.
O grupo foi morar em um sítio
em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos EUA e da
Europa em plena ditadura militar brasileira. Lançaram ainda três discos, cujo
sucesso não tão grande começou a gerar desentendimentos. Ele ficou no grupo de
1969 até 1975, quando saiu em carreira solo.
Em 1976,
já em carreira solo, ele se tornou o primeiro cantor de trio elétrico, ao subir
no trio de Dodô e Osmar, e cantou a música “Pombo correio”, sucesso na época.
Já em 1997, ele reuniu o grupo
Novos Baianos para lançar o disco ao vivo Infinito Circular, com canções dos
discos anteriores e algumas inéditas. Em 2007, Moraes Moreira publicou o livro
A História dos Novos Baianos e Outros Versos, escrito em linguagem de cordel,
que conta a história dos Novos Baianos.
Em 2017, ele lançou
outro livro, o "Poeta Não Tem Idade", com cerca de 60
textos sobre homenagens a Luiz Gonzaga, Machado de Assis, Gilberto Gil e muitos
outros.
Nos últimos anos, Moraes Moreira se envolveu em shows
de reunião dos Novos Baianos e de trabalhos solo. O artista também se dedicou a trabalhos com o filho. No total, ele lançou mais de 60 discos entre a carreira
solo, Novos Baianos, Trio Elétrico Dodô e Osmar, além da parceria com o
guitarrista Pepeu Gomes.
(Informações com o G1)
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