terça-feira, 21 de abril de 2020

Brasília e seus 60 anos de sonhos e esperanças


Brasília vive em mim e vivo sob suas asas há 47 anos, quase meio século. Aquele ano de 1973 foi marcada pela tragédia de Ana Lídia, mas, tudo era belo e puro naquele horizonte de céu imenso e tardes resplandecentes quando por aqui cheguei.
Nem tudo era tragédia, embora vivêssemos ainda sob o manto escuro e obscuro de uma ditadura sangrenta e opressora. Amigos presos, amigos sumindo, e o povo ansioso por uma luz no fim do túnel.
Nos anos de 1970 o Lago Paranoá fedia em uma cidade ainda não afetada pela poluição do ar e dos seus rios e córregos. Até sua completa despoluição no final da década, o lago estava longe de ser uma opção de lazer e entretenimento.
Essas e outras tragédias marcaram a cidade que nunca perdeu a marca da esperança e dos sonhos de milhões de brasileiros. Perdemos nosso fundador e criador Juscelino Kubitschek, depois Tancredo Neves que encarnava o sonho da democratização.
Foi aqui que me formei e exerci, e ainda exerço, orgulhosamente a profissão de jornalista, tão ameaçada e incompreendida atualmente. Nessas mesmas Asa Sul e Norte constitui família e criamos nossos filhos, em uma cidade tida “como o melhor lugar do mundo para se criar os filhos”.
Brasília sempre foi fascinante pela capacidade de acolher e abrigar quem a procurasse. Um dom que ela já irradiava desde antes mesmo de existir, quando os raios de aconchego brilhavam da Cidade Livre.


A cidade cresceu. Superou todos os desafios, embalada pelo horizonte musical de serestas, sambas, chorinhos e as tão promissoras bandas de rock. Atravessou décadas criando, recriando e se reinventando num mundo cada vez mais moderno e tecnológico.
Atravessou o século, o milênio, e chegou incólume, garbosa e sempre gentil aos anos de 2020. Agora, sexagenária, mostra ares de amadurecimento sem perder sua natural juventude, jamais.
Assim como o mundo todo, os cinco continentes e dezenas de países, Brasília comemora seus 60 anos de existência sob o signo ameaçador e onipresente do coronavírus. Nós, candangos, seus filhos, que já são muitos, seus visitantes, transeuntes, vivemos uma mesma e cruel realidade. É preciso isolar-se socialmente, afastar das pessoas que amamos, recusar abraços e apertos de mãos que sempre marcaram a existência dessa cidade.
Brasília assiste seus entes queridos adoecerem, se isolarem e morrerem. Os fins de tarde, os alvoreceres tão famosos, o céu de Brasília e a luminosidade de um horizonte de sonhos e esperanças estão ofuscados, à meia luz, à espera de um novo sonho de Dom Bosco, de onde possam transbordar mel e bálsamo para dores que teimam em não se aplacarem.
A cidade dos sonhos enfrenta mais um pesadelo sem perder a esperança e agarrada à missão para a qual logrou existir: somos o futuro e ele ressurgirá no amanhã.
Brasília é o que somos, o que plantamos e o que colhemos.
Obrigado, Brasília. De coração.


Superquadras
José Carlos Camapum Barroso

Quadras quadradas,
Retângulos obtusos,
Saídas em círculos
De retas infinitas...
Triângulo (in) vértice,
Curvas imaginárias,
Onde paralelas finitas
Enfim se encontram
Entre duas asas.

Povo e povoado
Distantes do amanhã.
Casa e casebre...
Longe, perto, edifício...
Um mato que mata
Um sonho, pesadelo.
Árvore arvoredo...
De buscar bem cedo
Antes que o retorno
Sombrio da noite
Tire o Eixo dos eixos.

Brasília em brasa.
Círculo do circo
Que teima em circular.
Brasília de traços
Vistos do horizonte...
Hoje ainda de manhã,
Belas tardes de ontem.

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