quarta-feira, 8 de abril de 2020

Em tempos de pandemia, quem pode nos salvar é a poesia


Em tempos de pandemia, as pessoas se comunicam mais, se procuram mais. Trocam textos, mensagens. Parece que a carência se torna universal e cada vez mais aflitiva.

Recebi pelo WhatsApp, esse poderoso veículo de comunicação, um texto sensível e instigante do amigo, desembargador e poeta Itaney Campos.

Foi como um desafio. Como se dissesse assim: vai, amigo, use a sua criatividade, sua veia poética! Vamos em busca de palavras que confortem a humanidade em tempos tão obscuros!

Aceitei o desafio. Seguem algumas palavras inspiradas no texto do amigo, publicado abaixo. Esperamos, de alguma forma, contribuir para acalmar as pessoas e trazer a paz as famílias isoladas pelo mundo afora.

Na sequência, a voz inspiradora e confortante de Elizeth Cardoso em Manhã de Carnaval, de Luiz Bonfá.


Esta é a hora, poeta!
Itaney Campos

É nesta hora, poeta, quando aves negras vagam pelo céu, em círculos macabros, que urge a voz da poesia, e no temporal infectado, se requerem os sons curativos do poema!

É agora, poeta, quando a cinza do silêncio e do medo recobre as ruas, os tetos, penetra nos olhos congelados nas varandas, que a poesia deve levantar-se como temporal que lava a noite e as luzes do amanhecer.

Este é o território das lágrimas, das algas, do lodo, o espaço das sombras e da patina, o templo do engano e do medo.

É a noite da pessoa sozinha. Não vês, poeta, as mãos não se tocam, os abraços não alçam voo, os lábios se contraem, enojados uns dos outros! O medo da noite interminável paralisa os gestos solidários. Os discursos amorosos despetalam-se ao golpe frio do inesperado.

Onde está sua música, poeta? Desafinou-se ao menor ruído dos ventos poentes? Silenciou -se aos ventos ruidosos da manhã? Desfralda o seu verbo, poeta, desata a sua verve, que só essa é capaz de iluminar a relva.

Não subestimes o gume afiado da poesia, nem o peso indelével da tua voz, agente poderoso a purificar o humano convívio! É agora que quero vê-lo, poeta, destemido, encarando de frente as parcas, as farsas, a fúria das armas dos fados.

Vês as hordas de anciãos marchando para o abismo? Vês o turbilhão de crianças desfilando sem rumo? Esta é a hora, poeta, de desvendar a capacidade de sonhos, por maior que seja o pesadelo que nos atropela!

É hora de desfraldar a esperança, pois o inimigo invisível, por letal e feroz que seja, não é capaz de contagiar os acordes da sua lira!



Súplica aos poetas
José Carlos Camapum Barroso

Vai poeta!
Abrir os campos, desvendar horizontes
Por trás os montes, entre vales
Que possa a cura nos encontrar...

Lá onde as sementes espalham
Sonhos, e as flores o pólen
Da sabedoria e do conhecimento.
Só aos poetas é dado trazer a luz
Que clareia a escuridão
Em tempos de sofrimento...

Vai poeta!
E traz o clarão que encandeia os males,
Ilumina a sabedoria e as ciências
Em tempos em que a escuridão
Teima em se espalhar incólume
Indiferente aos apelos vãos...

Vai poeta!
Ergue a barreira do saber
Por onde a ciência estenderá
Altiva e soberana o véu
Da cura e o bálsamo da dor.

Só aos poetas é dado o dom
Da sensibilidade onde a
Razão segue em busca da paz.


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