sábado, 8 de agosto de 2020

Dom Pedro Casaldáliga morre mas deixa um legado de luta


Estava escrevendo sobre o Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado neste domingo (09/08), quando recebo a nota de falecimento do bispo emérito da Prelazia do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, que tinha sido transferido às pressas para uma UTI em São Paulo. Morreu neste sábado, às 9h40, em Batatais (SP), aos 92 anos.

Vai fazer muita falta para o enfrentamento de tudo que estamos vivendo. O bispo catalão dedicou e arriscou a vida na defesa dos posseiros e dos indígenas da Amazônia. Um dos líderes mais influentes da Igreja Católica no Brasil e na América Latina das últimas décadas.

Dom Pedro foi uma voz incansável contra o latifúndio e em favor da reforma agrária. De sua prelazia, participou, ao lado de outros bispos progressistas, da criação do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).


Em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga e a toda sua luta, antecipo o texto que seria publicado no domingo:

Como se não bastassem as inúmeras dificuldades enfrentadas há décadas, as comunidades indígenas brasileiras vivem e sofrem este ano com a pandemia da Covid-19, espalhada pelo mundo pelo coronavírus. Diante disso, não há o que comemorar neste dia Internacional dos Povos Indígenas. Cerca de 150 povos foram atingidos pela doença. Os casos confirmados já beiram 23 mil, com a morte de 639 indígenas.


O responsável maior e primeiro por mais essa tragédia é o Estado brasileiro. Não apenas foi omisso como ajudou a disseminar o vírus pelas tribos. Profissionais de saúde levaram o corona para esses povos, garimpeiros e mineiros aumentaram as invasões durante a pandemia, e os indígenas contaminados tiveram que buscar auxílio emergencial nas cidades.

Na última quarta-feira, dia 5/08, a Covid-19 levou o cacique Aritana Yawalapíti, aos 71 anos, depois de ficar internado por duas semanas num hospital em Goiânia.


Para comemorar o Dia Internacional dos Povos Indígenas, o importante num contexto como esse que estamos vivendo é voltar no tempo. Um bom caminho é lembrar do Marechal Rondon, de origem indígena por parte de seus bisavós paternos e da bisavó materna.

Rondon percorreu mais de 100 mil quilômetros abrindo caminho por este Brasil afora. Foi responsável pela elaboração das cartas geográficas de cerca de 500 mil quilômetros quadrados deste mundão brasileiro. Fundou o Serviço de Proteção ao Índio, propôs a fundação do Parque Nacional do Xingu e inaugurou o Museu Nacional do Índio. Chegou a ser indicado para o Prêmio Nobel da Paz, em 1957.


Foi o espírito aventureiro e destemido de Cândido Mariano da Silva Rondon, o marechal patrono das comunicações do Exército Brasileiro, que abriu caminho para mudar a realidade de um Brasil litorâneo. Nos livros de História do Brasil, a constatação que se segue, feita em 1622, é bem conhecida:

"Da largura que a terra do Brasil tem 
para o sertão não trato, porque até
 agora não houve quem a andasse, 
por negligência dos portugueses que, 
sendo grandes conquistadores de terras, 
não se aproveitam delas, mas contentam-se
 de as andar arranhando
 ao longo do mar como caranguejos”.

(Frei Vicente de Salvador)

Carlos Drummond de Andrade fez ao grande brasileiro que foi Marechal Rondon uma bela e justa homenagem. De minha parte, uma singela lembrança em forma de Haicai sobre essa belíssima foto acima de Santi Asef. E, de Caetano Veloso, a maravilhosa canção Um Índio, nas voz de Milton Nascimento. Na sequência, Beto Guedes e o seu Amor de Índio.


Nenhum comentário:

Postar um comentário