Estava escrevendo sobre o Dia Internacional dos
Povos Indígenas, comemorado neste domingo (09/08), quando recebo a nota de falecimento
do bispo emérito da Prelazia do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, que tinha
sido transferido às pressas para uma UTI em São Paulo. Morreu neste
sábado, às 9h40, em Batatais (SP), aos 92 anos.
Vai fazer muita falta para o
enfrentamento de tudo que estamos vivendo. O bispo catalão dedicou e arriscou a
vida na defesa dos posseiros e dos indígenas da Amazônia. Um dos líderes mais influentes da Igreja Católica no Brasil e na América Latina das últimas décadas.
Dom Pedro foi uma voz
incansável contra o latifúndio e em favor da reforma agrária. De sua prelazia,
participou, ao lado de outros bispos progressistas, da criação do Conselho
Missionário Indigenista (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga e a
toda sua luta, antecipo o texto que seria publicado no domingo:
Como se não bastassem as inúmeras
dificuldades enfrentadas há décadas, as comunidades indígenas brasileiras vivem
e sofrem este ano com a pandemia da Covid-19, espalhada pelo mundo pelo coronavírus.
Diante disso, não há o que comemorar neste dia Internacional dos Povos Indígenas.
Cerca de 150 povos foram atingidos pela doença. Os casos confirmados já beiram
23 mil, com a morte de 639 indígenas.
O responsável maior e primeiro por mais essa tragédia
é o Estado brasileiro. Não apenas foi omisso como ajudou a disseminar o vírus
pelas tribos. Profissionais de saúde levaram o corona para esses povos,
garimpeiros e mineiros aumentaram as invasões durante a pandemia, e os indígenas
contaminados tiveram que buscar auxílio emergencial nas cidades.
Na última quarta-feira, dia 5/08, a Covid-19 levou o
cacique Aritana Yawalapíti, aos
71 anos, depois de ficar internado por duas semanas num hospital em Goiânia.
Rondon percorreu mais de 100 mil quilômetros
abrindo caminho por este Brasil afora. Foi responsável pela elaboração das
cartas geográficas de cerca de 500 mil quilômetros quadrados deste mundão
brasileiro. Fundou o Serviço de Proteção ao Índio, propôs a fundação do Parque
Nacional do Xingu e inaugurou o Museu Nacional do Índio. Chegou a ser indicado
para o Prêmio Nobel da Paz, em 1957.
Foi o espírito aventureiro e destemido de Cândido Mariano da Silva Rondon, o marechal patrono das comunicações do Exército Brasileiro, que abriu caminho para mudar a realidade de um Brasil litorâneo. Nos livros de História do Brasil, a constatação que se segue, feita em 1622, é bem conhecida:
"Da largura que a
terra do Brasil tem
para o sertão não trato,
porque até
agora não houve
quem a andasse,
por negligência dos
portugueses que,
sendo grandes
conquistadores de terras,
não se aproveitam delas,
mas contentam-se
de as andar
arranhando
ao longo do mar
como caranguejos”.
(Frei Vicente de
Salvador)
Carlos Drummond de Andrade fez ao grande brasileiro
que foi Marechal Rondon uma bela e justa homenagem. De minha parte, uma singela lembrança em forma de Haicai sobre essa
belíssima foto acima de Santi Asef. E, de Caetano Veloso, a
maravilhosa canção Um Índio, nas voz de Milton Nascimento. Na
sequência, Beto Guedes e o seu Amor de Índio.
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