domingo, 30 de agosto de 2020

Madrugada na rua é remédio para a alma e o coração

Desenho - Emília Ulhoa
Quem tem um pezinho na boemia sabe quanto é saudável a madrugada. Não a madrugada desse tempo de pandemia, em que, ao perdemos o sono, o que se nos oferece é o limitado espaço de uma janela para procurarmos pela lua. Madrugada boa é a dos seresteiros que amanhecem na rua e saboreiam os diversos momentos noturnos.

Na nossa pequena Uruaçu – aquela que fica no centro de Goiás, do Brasil, do mundo e quiçá do Universo –, um dos programas prediletos era ficar à noite na rua, num banco de praça, tocando violão, depois fazendo serenata e, mais tarde, improvisando algum tipo de refeição antes do amanhecer.

Desenho - Emília Ulhoa
Naquelas madrugadas, tudo era lindo, as pessoas eram boas e todos estavam vivos. Os únicos ladrões na rua, erámos nós mesmos a pular muros para atacar um galinheiro, depois preparar uma saborosa galinhada com farinha e pimenta. Roubavam-se galinhas, ou pães nas sacolas dos alpendres. Nada que pudesse nos enquadrar na Lei de Segurança Nacional, à época tão em voga.

Noite nas ruas nos traz a brisa, faz passar os ventos, destaca cores na madrugada antes nunca imaginadas e que não são captadas da janela de um quarto, de onde hoje buscamos alívio para os sofrimentos.

Isolamento Brasiliense - Emília Ulhoa
O cume da madrugada ocorre por volta de três horas depois da meia-noite. F. Scott Fitzgerald dizia que “na noite profunda e escura da alma, são sempre três horas da madrugada”. O compositor, cientista e boêmio paulista Paulo Vanzolini tem uma música que se chama Valsa das Três da Manhã.

Mas, quem troca a noite pelo dia, sabe quão valioso é o silêncio. Na madrugada só se ouve o barulho da brisa, o farfalhar das folhas e o bordão de violões seresteiros. As cores passam pela madrugada tão sutil e delicadamente que se misturam com a alvorada.

Desenho - Emília Ulhoa
Trabalhar é bom. Alimentar é saudável, absolutamente necessário. Dormir é reconfortante e revigorante. Mas, nada tão gostoso e belo como atravessar a noite embriagado pela madrugada. Só os boêmios sabem disso. Eles conhecem um pouco mais sobre felicidade.

Como consolo, nesse tempo de isolamento, esses belos desenhos de Emília Ulhoa. Que tal, também, ouvir uns versos sobre a madrugada e a bela e sugestiva canção de Paulo Vanzolini, com a interpretação magistral de Paulinho Nogueira?

Boas madrugadas para todos.


3 comentários:

  1. Zé as nossas madrugadas são inesquecíveis. Sentados na escadaria da Catedral ou nos degraus do Banco do Brasil nós sonhávamos ouvindo a Radio Mundial (860) do Rio. As nossas serenatas, o Bar do Tonin, o mexida^o em sua casa ou na casa do Léo, são lembranças que sempre retornam e eu as recordo com um misto de saudade e prazer imensos
    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, amigo. Tempos inesquecíveis para todos nós. E tinha também os bancos da praça do Fórum, em frente ao Hotel Araguaia, e o arroz com ovo de madrugada na rodoviária. Obrigado pela participação.

      Excluir
  2. Eita coisa boa hein? Só os boêmios sabem o quão renovador pode ser uma madrugada despretensiosa com os amigos, bons drinks e músicas sob a luz do luar...

    ResponderExcluir