No
texto publicado quinta-feira passada (17/09), abordamos o tema compreensão. Logo
em seguida, recebi do primo José Camapum de Carvalho, uma reflexão interessante
sobre o tema autoridade. Ele é doutor em engenharia e professor de graduação e pós-graduação
na UnB e graduado em Administração e Direito.
A
questão da autoridade e a diferença entre autoritarismo e liderança estão muito
bem abordadas nesse texto, que discorre sobre o tema de forma bem leve e com
muita clareza, inclusive com uso de um exemplo didático e com relevos
literários.
O
texto é de julho de 2011, mas, bastante atual e qualificado para contribuir plenamente nesse debate. Confiram.
Autoridade, Autoritarismo e Liderança: Qual a Diferença?
José Camapum de Carvalho
Alguns temas
requerem constante reflexão ao longo de nossas vidas, inclusive no âmbito de
uma empresa, seja ela pública ou privada. Um deles é a questão da autoridade,
do autoritarismo e da liderança.
A autoridade é a
pessoa investida de poder para comandar, dirigir e orientar outras pessoas com
o objetivo de atingir determinados fins. Para isso, a autoridade pode
revestir-se de autoritarismo ou de liderança e até seguir os dois caminhos para
atingir os mesmos fins. Percebe-se, no entanto, que quase sempre o resultado
fruto da atuação do líder é mais perfeito que o da simples autoridade no
sentido do autoritarismo. Isso ocorre porque, na liderança, é despertado o amor
pelo líder e pelo que ele faz, à medida que, no autoritarismo, a relação é de
medo, de obediência cega, desumanizada.
No autoritarismo, o
comando se dá pelo grito, pela palavra dura, pela cara feia, e a obediência,
pela submissão. Já na liderança, talvez nem sequer se possa falar de comando ou
obediência. O fazer desejado pelo líder é expresso pelo exemplo, pela palavra
suave e doce, pelo comando sem agressividade e mesmo pelo silêncio. Dessas formas,
talvez aquela de mais difícil alcance e que expressa a capacidade máxima de um
líder é a que provém do silêncio, pois se volta para a necessidade de reflexão
interior de quem se propõe a satisfazer o desejo percebido. Nesse caso, a força
de quem emana o desejo, deve ser simples, suave, pura e absoluta enquanto valor
interior. O desejo do líder é, então, satisfeito pela vontade de agradá-lo, de
ser-lhe útil, por confiar em seus propósitos construtivos na certeza de estar
pavimentando os caminhos da vida.
Vou relatar uma pequena história para mostrar a importância do exercício da liderança em lugar do comando autoritário. Lembro-me de quando era garoto e ajudava meu pai na lida com o gado ou observava o modo como os vaqueiros agiam em relação aos animais. Mesmo em relação ao gado, eu pude perceber que o autoritarismo não era o melhor caminho.
Há
muitos anos, meu pai teve um vaqueiro, o senhor Valdomiro, que era alguém muito
especial, de uma cordialidade indescritível com as pessoas e com os animais;
dificilmente, ao contrário da prática corrente à época, ele batia em uma vaca
ou em um bezerro quando este não seguia o caminho por ele desejado. Parece que ele
percebia, no silêncio desobediente dos animais, que ainda faltava suavidade na
expressão de seu desejo. Quando a vaca paria no pasto, usualmente, os
vaqueiros, aos gritos e ferroadas, conduziam-na com o bezerro ao curral, mas o
senhor Valdomiro não, ele cuidadosamente pegava o rebento e o colocava no
cabeçote do arreio para que não se cansasse enquanto a mãe era conduzida ao
curral para ser desleitada e, com maior facilidade, amamentar a cria. Isso
agradava enormemente ao meu pai, homem simples, com grande senso de respeito
pelos animais e pela natureza.
Em um determinado
momento, o senhor Valdomiro deixou a fazenda para ir trabalhar em outra
propriedade rural. Ao retornar, cerca de um ano depois, quando se aproximou do
curral para receber o gado do qual novamente tomaria conta, os animais, em um
passe de mágica, como nunca fizeram antes, passaram a mugir em uma expressão de
profunda felicidade com a presença do Sr. Valdomiro, o que emocionou todos os
presentes. Ele, o senhor Valdomiro, agia com liderança e tinha o apreço do
gado. Carrego comigo essa lembrança e me emociono ao partilhá-la com as pessoas.
Dessa forma, penso que, em nossas vidas, quando necessário ou convocados, devemos assumir cargos ou funções revestindo-nos do poder de autoridade, porém, o seu exercício haverá de ser aquele impregnado de liderança e não de autoritarismo. A liderança convence, o autoritarismo obriga. O que resulta do amor, da reflexão, sempre haverá de ser superior ao que resulta do medo, da obediência cega.
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