segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Sobre autoridade, autoritarismo e liderança

No texto publicado quinta-feira passada (17/09), abordamos o tema compreensão. Logo em seguida, recebi do primo José Camapum de Carvalho, uma reflexão interessante sobre o tema autoridade. Ele é doutor em engenharia e professor de graduação e pós-graduação na UnB e graduado em Administração e Direito.

A questão da autoridade e a diferença entre autoritarismo e liderança estão muito bem abordadas nesse texto, que discorre sobre o tema de forma bem leve e com muita clareza, inclusive com uso de um exemplo didático e com relevos literários.

O texto é de julho de 2011, mas, bastante atual e qualificado para contribuir plenamente nesse debate. Confiram.


Autoridade, Autoritarismo e Liderança: Qual a Diferença?

José Camapum de Carvalho 

Alguns temas requerem constante reflexão ao longo de nossas vidas, inclusive no âmbito de uma empresa, seja ela pública ou privada. Um deles é a questão da autoridade, do autoritarismo e da liderança.

A autoridade é a pessoa investida de poder para comandar, dirigir e orientar outras pessoas com o objetivo de atingir determinados fins. Para isso, a autoridade pode revestir-se de autoritarismo ou de liderança e até seguir os dois caminhos para atingir os mesmos fins. Percebe-se, no entanto, que quase sempre o resultado fruto da atuação do líder é mais perfeito que o da simples autoridade no sentido do autoritarismo. Isso ocorre porque, na liderança, é despertado o amor pelo líder e pelo que ele faz, à medida que, no autoritarismo, a relação é de medo, de obediência cega, desumanizada.

No autoritarismo, o comando se dá pelo grito, pela palavra dura, pela cara feia, e a obediência, pela submissão. Já na liderança, talvez nem sequer se possa falar de comando ou obediência. O fazer desejado pelo líder é expresso pelo exemplo, pela palavra suave e doce, pelo comando sem agressividade e mesmo pelo silêncio. Dessas formas, talvez aquela de mais difícil alcance e que expressa a capacidade máxima de um líder é a que provém do silêncio, pois se volta para a necessidade de reflexão interior de quem se propõe a satisfazer o desejo percebido. Nesse caso, a força de quem emana o desejo, deve ser simples, suave, pura e absoluta enquanto valor interior. O desejo do líder é, então, satisfeito pela vontade de agradá-lo, de ser-lhe útil, por confiar em seus propósitos construtivos na certeza de estar pavimentando os caminhos da vida.


Vou relatar uma pequena história para mostrar a importância do exercício da liderança em lugar do comando autoritário. Lembro-me de quando era garoto e ajudava meu pai na lida com o gado ou observava o modo como os vaqueiros agiam em relação aos animais. Mesmo em relação ao gado, eu pude perceber que o autoritarismo não era o melhor caminho.

Há muitos anos, meu pai teve um vaqueiro, o senhor Valdomiro, que era alguém muito especial, de uma cordialidade indescritível com as pessoas e com os animais; dificilmente, ao contrário da prática corrente à época, ele batia em uma vaca ou em um bezerro quando este não seguia o caminho por ele desejado. Parece que ele percebia, no silêncio desobediente dos animais, que ainda faltava suavidade na expressão de seu desejo. Quando a vaca paria no pasto, usualmente, os vaqueiros, aos gritos e ferroadas, conduziam-na com o bezerro ao curral, mas o senhor Valdomiro não, ele cuidadosamente pegava o rebento e o colocava no cabeçote do arreio para que não se cansasse enquanto a mãe era conduzida ao curral para ser desleitada e, com maior facilidade, amamentar a cria. Isso agradava enormemente ao meu pai, homem simples, com grande senso de respeito pelos animais e pela natureza.

Em um determinado momento, o senhor Valdomiro deixou a fazenda para ir trabalhar em outra propriedade rural. Ao retornar, cerca de um ano depois, quando se aproximou do curral para receber o gado do qual novamente tomaria conta, os animais, em um passe de mágica, como nunca fizeram antes, passaram a mugir em uma expressão de profunda felicidade com a presença do Sr. Valdomiro, o que emocionou todos os presentes. Ele, o senhor Valdomiro, agia com liderança e tinha o apreço do gado. Carrego comigo essa lembrança e me emociono ao partilhá-la com as pessoas.

Dessa forma, penso que, em nossas vidas, quando necessário ou convocados, devemos assumir cargos ou funções revestindo-nos do poder de autoridade, porém, o seu exercício haverá de ser aquele impregnado de liderança e não de autoritarismo. A liderança convence, o autoritarismo obriga. O que resulta do amor, da reflexão, sempre haverá de ser superior ao que resulta do medo, da obediência cega.

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