domingo, 13 de setembro de 2020

Cachaça com arte; faça sua parte que eu te ajudarei

A sabedoria popular ensina que quem não sabe beber cachaça não deve se meter a besta. Como toda e qualquer bebida, a cachaça precisa ser apreciada com moderação, não por questões, digamos, morais, mas, por questões éticas e estéticas. Em plena pandemia da Covid-19, com mais de seis meses de isolamento, tem sido companheira e consolo para milhares brasileiros e brasileiras que apreciam essa bebida.

A cachaça, popularmente também conhecida como pinga, pode e deve ser degustada prazerosamente, tal qual um bom uísque, um vinho de qualidade, uma boa cerveja, uma tequila, ou rum. Passamos a ter consciência dessa peculiaridade de algumas décadas pra cá. Isso porque o produto ganhou em qualidade, aceitabilidade no mercado, e nos tornamos mais conscientes quanto à melhor forma de apreciá-lo. 

 

No dia de hoje, 13 de setembro, comemora-se o Dia Nacional da Cachaça. Mas o grande presente para essa bebida aconteceu mesmo foi no mês de abril de 2013, quando os Estados Unidos reconheceram, finalmente, a cachaça como bebida exclusiva e genuinamente brasileira. Caiu por terra o maior preconceito para com essa bebida tão nacional quanto o samba e a paixão pelo futebol.

A cachaça é a segunda bebida mais vendida no Brasil, perdendo apenas para a cerveja, que é fermentada. Cerca de 6,9 litros de cachaça são consumidos no Brasil por cada brasileiro ao ano. No mundo, a bebida é o terceiro destilado mais consumido, perdendo apena para a coreana Soju (destilado de arroz) e a Vodca em segundo.

O mercado brasileiro movimenta  anualmente algo em torno de um bilhão de reais com o produto, comercializando cerca de 1,3 bilhão de litros por ano. O Brasil tem como meta aumentar em até dez vezes a venda do produto no exterior em uma década. Os países que mais importam o nosso produto são justamente aqueles que, há muitos anos, reconhecem a cachaça como genuinamente brasileira: Inglaterra e Alemanha. Com a decisão dos americanos, nossas exportações tendem a aumentar e por consequência a produção, com geração de mais renda e empregos.

O produto feito de forma artesanal, em alambiques de cobre, e depois curtido em toneis de madeira, vem ganhando mercado aqui e lá fora pela sua qualidade. Ao contrário de bebidas como uísques, brandies e o vinho, que vão sempre para envelhecimento em toneis de carvalho, a cachaça tem a notável particularidade de ser envelhecida em diversas madeiras.

Além do tradicional carvalho, usamos a umburana, bálsamo, ipê, eucalipto, jequitibá, amendoim e muitas outras. Ainda temos a expertise de envelhecer a pinga em mais de uma madeira, dando a ela a formatação de um brandie. De todas elas, o amendoim, segundo especialistas, é a rainha das madeiras para o envelhecimento da cachaça. Hoje é uma madeira rara, em extinção, de extração proibida ou controlada em lei, mas ainda pode ser encontrada no Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, geralmente em reservas ou parques florestais.

Dizem os estudiosos que, quando curtido, preparado adequadamente, o amendoim realiza o verdadeiro envelhecimento: revela e acentua as virtudes da cachaça, exibe a alma da pinga. A cor pode ser levemente alterada para o amarelo muito claro, pálido. O aroma e o gosto da verdadeira cachaça, isto é, o perfume e o sabor da cana, são preservados. O amendoim abaixa um pouco a acidez e o teor alcoólico da cachaça, mantendo o caráter e a integridade (gosto disso) da bebida.

marvada da cachaça, que depois virou bendita, surgiu em meio aos escravos, adquiriu a pecha de bebida de gente desqualificada e sem classe. Foi manipulada pelos nossos colonizadores para estimular o trabalho dos escravos e depois proibida porque podia estimular rebeliões. Ao ser proibida, ficou melhor ainda e virou orgulho nacional, obrigando os portugueses a voltar atrás na proibição.

Em outras palavras, temos ótimas cachaças produzidas a partir da cultura dos negros e dos colonizadores portugueses e de imigrantes alemães no Sul do país. Essa mistura brasileira é de enlouquecer qualquer sulista dos Estados Unidos. E tem diversos sotaques, como o caipira Marvada Pinga, na interpretação de Rolando Boldrim e dos seus casos, ou o do samba com solo de guitarra do velho e bom Erasmo Carlos, em Cachaça Mecânica.

Depois de tudo isso, é possível passar um domingo em paz, tomar umas quatro ou nove, apesar do risco de acordar amanhã, uma baita segunda-feira, de ressaca. Mas, amanhã vai ser outro dia... Saúde a todos!

PS - Antes que eu me esqueça, “beba com moderação”, e, “se beber, não dirija”, e, se dirigir não beba, seja o motorista da vez.


Um comentário:

  1. Ótima crônica em louvor à pinga, digo caninha, , digo branquinha! Parece até relato de especialista na marvada! E com direito a haicai, cuidado que aí cai, e moda da pinga, da saudosa Inezita, com o ótimo Boldrin! Merece compartilhar!

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