Rodoviários iniciaram a paralisação na área central de Brasília... |
... e nada fizeram para conter a fúria de alguns dos "manifestantes" |
Já escrevi aqui e no Facebook minhas preocupações com alguns aspectos do movimento popular que saiu às ruas. Os
ganhos aconteceram e o País acordou do sono alienante que atingia
principalmente os mais jovens. Agora, juntos, precisamos refletir sobre alguns
aspectos do movimento que transborda oportunismo.
Em Brasília, em função da manifestação de ontem, dia 24 de junho, realizada na rodoviária do
Plano Piloto, a manipulação da onda de protesto ficou muito clara. Se não, vamos aos fatos:
1)
Os
rodoviários, sem a participação do sindicato que é reconhecidamente atuante,
decidiram fazer uma paralisação e protesto contra um possível desemprego no
novo sistema de transporte que será implantado no decorrer do segundo semestre
deste ano. O sindicato percebeu que os empresários de ônibus – leia-se Vagner
Canhedo e Valmir Amaral – estavam por trás do movimento, pelo simples
fato de que perderam a licitação e vão ter que deixar o sistema depois de quase
50 anos à frente do (péssimo) transporte público do Distrito Federal.
2)
Os
próprios rodoviários, apoiados por algumas pessoas, conduziram o movimento para
o quebra-quebra, partindo inclusive para a tentativa de queimar ônibus. Paralelamente
a tudo isso, os ônibus sumiram de circulação, deixando milhares de pessoas sem
condições de voltar pra casa – quem mora no lado sul do DF teve que se espremer
nos vagões do metrô. Tudo muito bem orquestrado entre manifestantes e
empresários.
3)
O
quebra-quebra só não se concretizou em maior dimensão graças a ação da polícia,
inclusive a da tropa de choque. Por coincidência, os primeiros novos ônibus do
novo sistema de transporte do Distrito Federal começam a chegar a partir desta
sexta-feira. Os atuais empresários – alguns deles não puderam participar da
licitação porque são devedores de impostos – vão gradativamente ter que largar o osso em que estão grudados há décadas.
Não aceitam essa realidade e querem criar um clima de confronto para impedir
que o novo sistema seja implantado. O que vão fazer os manifestantes daqui pra
frente? Vão quebrar os novos ônibus que virão para beneficiar a população,
principalmente os mais pobres?
4)
Também
por coincidência, nos últimos dias circulou pela internet uma “mensagem”,
atribuída ao GDF, dando conta de que o preço das passagens em Brasília seria
aumentado em R$ 0, 20. Qualquer pessoa razoavelmente informada sabe que isso não é verdade. Tudo foi articulado pra criar o clima favorável à manifestação de ontem na
rodoviária, que deveria terminar em quebra-quebra. Prontamente, o GDF veio a
público negando peremptoriamente qualquer possibilidade de reajuste das passagens
até o fim da atual gestão.
5)
Além
de as passagens não aumentarem, os usuários de ônibus coletivo do DF terão,
gradativamente, ganho real com a implantação do transporte integrado por meio
do bilhete único – ônibus novos com ônibus novos, ônibus novos com metrô e
ônibus novos com ônibus da TCB (empresa pública do DF). Importante lembrar que os estudantes do DF têm passe-livre nos ônibus. No final do ano, serão
três mil novos veículos em circulação. Tem muita gente torcendo para que isso não
se torne realidade!
6)
Juntam-se
aos interesses desses empresários que patrocinaram a manifestação de ontem, a
má-fé de alguns rodoviários em disputa pelo sindicato da categoria, a falta de
escrúpulos de alguns políticos locais já de olho nas eleições do ano que vem e
também a falta de seriedade de alguns colegas jornalistas (por motivos os mais diversos).
Por tudo
isso e por muitas outras coisas que ainda virão, volto a insistir, como fiz no
texto que escrevi no Facebook e aqui no blog: é preciso saber por qual
motivo se está indo para as ruas! Ninguém pode se tornar massa de
manobra de interesses espúrios e estranhos aos verdadeiros anseios de quem realmente
quer mudar este país. Os oportunistas de plantão, certamente, estarão presentes
na manifestação que está sendo convocada para amanhã, dia 25, na Esplanada dos
Ministérios. Aliás, quem está convocando e quem vai liderar o protesto desta quarta-feira?
Sinceramente, volto a insistir sobre aquilo que disse antes: está sobrando ação
e faltando reflexão. O risco é muito grande.
Não custa nada lembrar que até a canção de Geraldo Vandré, Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores, atualmente toca em passeata de grupos ruralistas...
Não custa nada lembrar que até a canção de Geraldo Vandré, Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores, atualmente toca em passeata de grupos ruralistas...
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