Imaginem também se naquela época a
gente levava namorada pra boate. Aquele lugar escurinho, barulhento, geralmente
animado por música ruim, que não dá pra conversar, onde não se ouve nem
murmúrio ao pé do ouvido. Boate, quando raramente se ia, não era para ficar,
mas sim pra arrumar alguma coisa, podendo ser até mesmo uma namorada pra quem
estivesse totalmente descompromissado.
Outro termo completamente em desuso.
Descompromissado... Hoje, ninguém tem compromisso com mais nada. No máximo se
dá atenção para a namorada pelas redes sociais. O Dia dos Namorados é um
sofrimento hoje em dia. O garotão tem que largar o computador pra sair com a
namorada, encontrar com os amigos, com as amigas dela, sentar todo mundo em
volta de uma mesa, cada um municiado de seu celular, smartphone, iPad, iPhone,
Tablet, todos de última geração e interligados entre si. De vez em quando, um
vira pro outro e pergunta: E aí, véio?
Claro que nem todos são assim. Há
aqueles que preferem levar a namorada para o cinema, assistir A Hora do Pesadelo 16 – O 16º Retorno de
Freddy Krueger. Mas, há também os jovens, bem jovens, que levam suas
namoradas para um restaurante, ou fazem em casa um jantar à luz de vela,
ouvindo boa música, recitando poesias e levando um bom papo. Pasmem, mas existem!
Na verdade, há espaço para tudo e para
todos os gostos nesse mundo de hoje, moderno, globalizado e interligado 24
horas por dia: do ficar a namorar, do desligamento ao ligamento
romântico, da indiferença à presença constante, atenciosa e carinhosa. Não
existem regras fixas, pré-estabelecidas, preconceituosas. Nesse sentido os
jovens de hoje estão anos luzes na frente das gerações passadas.
Fico aqui escrevendo todas essas coisas e
amanhã, Dia dos Namorados, estarei
passando mais um dia 12 de junho distante da minha namorada! Ano
passado, digitei mal traçadas linhas sobre esse dilema de passar o Dia dos Namorados distante
da pessoa amada (para ler, ou reler, clique aqui).
Agora, a história se repete e ainda não
consegui resolver um dilema tão elementar, depois de quase 33 anos de namoro
oficial e de mais uns cinco anos ficando,
extraoficialmente. Realmente, os jovens de hoje são muito mais bem resolvidos.
E eu que achava que ficar era mais complicado...
O Amor
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer.
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.
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