Nelson Rolihlahla Mandela, ou simplesmente Mandela, carinhosamente apelidado de Madiba, ou ainda apelidado pela imprensa de Pimpinela Negro nos tempos em que era ferozmente perseguido pela polícia sul-africana, é aquele cidadão que não irá morrer nem mesmo quando desligarem os aparelhos que o mantêm vivo. Embora já tenha sido considerado morto por diversas vezes, mais amiúde neste mês de junho, depois que foi internado vítima de infecção pulmonar.
Seu estado é considerado crítico e o anúncio de sua
morte não será surpresa nem para os familiares, nem para o povo pelo qual lutou
e sofreu durante décadas. Mandela é mais do que um ser que nasce, cresce e
morre.
Na verdade, Nelson Mandela é muito mais
do que a África do Sul, mais do que um continente dividido pela segregação
racial, implodido pelo sangue de Sharpeville e reconquistado pela sua
extraordinária capacidade de liderança, depois de enfrentar 27 anos de prisão.
Mandela é universal. Foi e continuará
sendo sempre a voz de um povo que sofreu durante quase meio século de
existência do regime conhecido como apartheid. Viveu a luta, a prisão, a
vitória e conheceu o poder sem perder a ternura jamais, embora nunca tenha
deixado de ser firme, quando precisou sê-lo, e nem de conciliar quando o
destino do povo sul-africano exigiu que assim procedesse.
Madiba só deixou de ser unanimidade
quando presidiu a África do Sul, de 1994 a 1999, e optou por criar a Comissão da Verdade e Reconciliação - encarregada de apurar, mas não punir, os fatos ocorridos durante o apartheid -, empenhando-se
em assegurar à minoria branca um futuro no país. Evitou, assim, a guerra
civil, mais derramamento de sangue e incertezas quando aos dias que viriam.
Dúvidas essas que
foram afastadas naquela época, mas voltam a permear o cenário político com a
perspectiva de sua morte. O legado de Mandela é forte, a democracia está em
pleno vigor na África do Sul, mas as desigualdades sociais são imensas – a renda
média de um lar branco é seis vezes o de uma família negra. As comunidades se
misturam, mas de maneira bastante limitada. Analistas dizem que pode fazer
falta, daqui pra frente, uma voz conciliadora nas esferas mais alta do sistema.
O povo africano vai
chorar a morte de Mandela. Mas, na verdade, não teme pela sua ausência e sim
pelo risco de que o seu legado venha a se perder. Anunciar a qualquer momento a
morte de Nelson Mandela será apenas uma formalidade. O que os sul-africanos – negros e
brancos – não querem é ficar sem o sonho de que é possível construir uma
sociedade democrática, mais justa e multirracial.
O fim desse sonho
será um pesadelo muito mais cruel do que a morte do Pimpinela Negro.
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