quinta-feira, 27 de junho de 2013

Podem desligar os aparelhos, Mandela continuará vivo


Nelson Rolihlahla Mandela, ou simplesmente Mandela, carinhosamente apelidado de Madiba, ou ainda apelidado pela imprensa de Pimpinela Negro nos tempos em que era ferozmente perseguido pela polícia sul-africana, é aquele cidadão que não irá morrer nem mesmo quando desligarem os aparelhos que o mantêm vivo. Embora já tenha sido considerado morto por diversas vezes, mais amiúde neste mês de junho, depois que foi internado vítima de infecção pulmonar.
Seu estado é considerado crítico e o anúncio de sua morte não será surpresa nem para os familiares, nem para o povo pelo qual lutou e sofreu durante décadas. Mandela é mais do que um ser que nasce, cresce e morre.
Na verdade, Nelson Mandela é muito mais do que a África do Sul, mais do que um continente dividido pela segregação racial, implodido pelo sangue de Sharpeville e reconquistado pela sua extraordinária capacidade de liderança, depois de enfrentar 27 anos de prisão.
Mandela é universal. Foi e continuará sendo sempre a voz de um povo que sofreu durante quase meio século de existência do regime conhecido como apartheid. Viveu a luta, a prisão, a vitória e conheceu o poder sem perder a ternura jamais, embora nunca tenha deixado de ser firme, quando precisou sê-lo, e nem de conciliar quando o destino do povo sul-africano exigiu que assim procedesse.
Madiba só deixou de ser unanimidade quando presidiu a África do Sul, de 1994 a 1999, e optou por criar a Comissão da Verdade e Reconciliação - encarregada de apurar, mas não punir, os fatos ocorridos durante o apartheid -, empenhando-se em assegurar à minoria branca um futuro no país. Evitou, assim, a guerra civil, mais derramamento de sangue e incertezas quando aos dias que viriam.
Dúvidas essas que foram afastadas naquela época, mas voltam a permear o cenário político com a perspectiva de sua morte. O legado de Mandela é forte, a democracia está em pleno vigor na África do Sul, mas as desigualdades sociais são imensas – a renda média de um lar branco é seis vezes o de uma família negra. As comunidades se misturam, mas de maneira bastante limitada. Analistas dizem que pode fazer falta, daqui pra frente, uma voz conciliadora nas esferas mais alta do sistema.
O povo africano vai chorar a morte de Mandela. Mas, na verdade, não teme pela sua ausência e sim pelo risco de que o seu legado venha a se perder. Anunciar a qualquer momento a morte de Nelson Mandela será apenas uma formalidade. O que os sul-africanos – negros e brancos – não querem é ficar sem o sonho de que é possível construir uma sociedade democrática, mais justa e multirracial.
O fim desse sonho será um pesadelo muito mais cruel do que a morte do Pimpinela Negro.



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