sexta-feira, 21 de junho de 2013

Noite fria, mas o Inverno começa quente e confuso no Brasil



O Inverno começou frio, de madrugada, às 2h04, com termômetro marcando 13 graus. Mas a noite foi uma das mais quentes da história do Brasil desde que acabou a ditadura militar. Manifestação em todas as capitais e várias cidades do interior, com centenas de milhares de pessoas nas ruas, sendo que em pelo menos 13 capitais ocorreram violência e ação de vândalos. Um jovem de 18 anos morreu atropelado na cidade de Ribeirão Preto.
Enquanto o mundo todo assistiu vários movimentos populares para derrubada de regimes ditatoriais, chamados de Primavera e outras estações do ano, aqui no nosso país, infelizmente, o movimento ganha contornos de um Inverno triste, cinzento, nublado, tirando qualquer possibilidade de podermos enxergar uma luz no fim do túnel.
As lideranças do movimento, talvez pelo fato de serem muitos jovens, inexperientes, erraram ao não definir mais claramente quais são os objetivos que querem atingir e as bandeiras que de fato estão ostentando. Cometeram também o equívoco de desvalorizar, chegando a tripudiar em cima dos partidos políticos. A crítica genérica e ostensiva à atividade política não contribui para o movimento, muito menos para a democracia.
Como disse lá no Facebook – a ferramenta mais eficaz da rede social –, o momento é muito sério e por isso mesmo exige reflexão, e menos ação, principalmente regada a tanto destempero. Quem critica os gastos com a Copa do Mundo não pode ir para as ruas destruir o patrimônio público que foi construído a duras penas. Aqui, na capital da República, estão depredando monumentos como o Palácio do Itamaraty e a Catedral de Brasília. Não acredito mais que seja apenas ação de uma meia dúzia de baderneiros. Nas imagens da frente do Itamaraty é possível ver centenas de pessoas e ninguém aparece tentando reverter a situação. Pelo contrário, aparecem aplaudindo o vandalismo.
Não existe liderança capaz de aglutinar e aproveitar o que o movimento tem de bom, talvez, pelo fato de os partidos políticos terem sido rejeitados pelos manifestantes. Os prefeitos, vereadores, governadores, deputados, senadores e a própria presidente da República estão todos perplexos e demonstram fraquezas nos pronunciamentos a respeito do que está ocorrendo. É preciso ação firme, mas não violenta, e um discurso claro e objetivo, mas desprovido de interesses pessoais, demagógicos e eleitorais. Caso contrário, ninguém sabe onde tudo isso irá acabar.
Eu continuo preferindo o Inverno do Meu Tempo. Aquele do mestre Cartola, que escreveu uma música genial – talvez a melhor, ou pelo menos, uma das melhores de seu repertório. O Inverno é frio e, ao mesmo tempo, está quente! Vamos trabalhar para que o que tem de bom no calor e no lampejo dessa geração seja realmente capitalizado rumo a um novo caminho.

7 comentários:

  1. Zé Carlos,
    parabéns pelo texto bastante esclarecedor sobre nossa situação atual.
    um abraço

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    1. Valeu, Marlon. Todos precisamos refletir sobre esse momento, caso contrário perderemos o que há de bom (e não é pouco).

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  2. Triste isso viu Zéca. Sou jovem, sou também um idealista, mas antes disso tudo, sou brasileiro, amo meu país e é por isso que acho lamentável esta atitude dessas pessoas. Ignorância em massa, vandalismo, imagem grotesca de pura burrice. Fico perdido me perguntando: Querem melhoria para o Brasil, ou acabar com o que já temos e somos?

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    1. É verdade, Vanderlei. Não podemos colocar em risco as nossas conquistas democráticas e até as sociais, principalmente as que foram alcançadas neste início de século. Grande abraço.

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  3. Thereza Cristina Pereira21 de junho de 2013 às 14:25

    Grata Zé,
    Você expressou exatamente o que venho sentindo ao longo desses dias!
    Há tantas formas de protesto...Cada vidro quebrado do Itamaraty, cada móvel destruído na Assembléia Legislativa do Rio será pago com o NOSSO dinheiro. Cada ônibus queimado, é um a menos a servir a população já tão carente de transporte!! Se é contra a Copa e a construção de estádios bilionários, melhor seria protestar não indo aos jogos, não pagando por ingressos abusivos. Mas quem quer perder o melhor da festa? O Goooooooooollllllllll!!!!???? Lembro-me bem a euforia do povo, esse mesmo povo que agora protesta, quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa de 2014. Mas eram outros tempos....

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    1. É isso, mesmo, Thereza Cristina. Há muita incoerência solta no ar. Isso acaba dispersando o movimento, que teve o lado bom de despertar a sociedade e alertar os governantes. Abraço e obrigado pela sua participação.

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  4. Belo texto, valiosa reflexão, cançào maravilhosa essa do Cartola! Vou compartilhar, meu amigo, para que outros leiam e ouçam!

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