O Inverno começou frio, de madrugada,
às 2h04, com termômetro marcando 13 graus. Mas a noite foi uma das mais quentes
da história do Brasil desde que acabou a ditadura militar. Manifestação em
todas as capitais e várias cidades do interior, com centenas de milhares de
pessoas nas ruas, sendo que em pelo menos 13 capitais ocorreram violência e
ação de vândalos. Um jovem de 18 anos morreu atropelado na cidade de Ribeirão
Preto.
Enquanto o mundo todo assistiu vários
movimentos populares para derrubada de regimes ditatoriais, chamados de
Primavera e outras estações do ano, aqui no nosso país, infelizmente, o
movimento ganha contornos de um Inverno triste, cinzento, nublado, tirando
qualquer possibilidade de podermos enxergar uma luz no fim do túnel.
As lideranças do movimento, talvez
pelo fato de serem muitos jovens, inexperientes, erraram ao não definir mais
claramente quais são os objetivos que querem atingir e as bandeiras que de fato
estão ostentando. Cometeram também o equívoco de desvalorizar, chegando a
tripudiar em cima dos partidos políticos. A crítica genérica e ostensiva à
atividade política não contribui para o movimento, muito menos para a
democracia.
Como disse lá no Facebook – a ferramenta
mais eficaz da rede social –, o momento é muito sério e por isso mesmo exige
reflexão, e menos ação, principalmente regada a tanto destempero. Quem critica
os gastos com a Copa do Mundo não pode ir para as ruas destruir o patrimônio
público que foi construído a duras penas. Aqui, na capital da República, estão
depredando monumentos como o Palácio do Itamaraty e a Catedral de Brasília. Não
acredito mais que seja apenas ação de uma meia dúzia de baderneiros. Nas
imagens da frente do Itamaraty é possível ver centenas de pessoas e ninguém
aparece tentando reverter a situação. Pelo contrário, aparecem aplaudindo o vandalismo.
Não existe liderança capaz de
aglutinar e aproveitar o que o movimento tem de bom, talvez, pelo fato de os
partidos políticos terem sido rejeitados pelos manifestantes. Os prefeitos,
vereadores, governadores, deputados, senadores e a própria presidente da República
estão todos perplexos e demonstram fraquezas nos pronunciamentos a respeito do
que está ocorrendo. É preciso ação firme, mas não violenta, e um discurso claro
e objetivo, mas desprovido de interesses pessoais, demagógicos e eleitorais.
Caso contrário, ninguém sabe onde tudo isso irá acabar.
Eu continuo preferindo o Inverno do Meu Tempo. Aquele do mestre Cartola, que escreveu uma música genial – talvez a
melhor, ou pelo menos, uma das melhores de seu repertório. O Inverno é frio e, ao mesmo tempo, está quente! Vamos trabalhar para que o que tem de bom no calor e no lampejo
dessa geração seja realmente capitalizado rumo a um novo caminho.
Zé Carlos,
ResponderExcluirparabéns pelo texto bastante esclarecedor sobre nossa situação atual.
um abraço
Valeu, Marlon. Todos precisamos refletir sobre esse momento, caso contrário perderemos o que há de bom (e não é pouco).
ExcluirTriste isso viu Zéca. Sou jovem, sou também um idealista, mas antes disso tudo, sou brasileiro, amo meu país e é por isso que acho lamentável esta atitude dessas pessoas. Ignorância em massa, vandalismo, imagem grotesca de pura burrice. Fico perdido me perguntando: Querem melhoria para o Brasil, ou acabar com o que já temos e somos?
ResponderExcluirÉ verdade, Vanderlei. Não podemos colocar em risco as nossas conquistas democráticas e até as sociais, principalmente as que foram alcançadas neste início de século. Grande abraço.
ExcluirGrata Zé,
ResponderExcluirVocê expressou exatamente o que venho sentindo ao longo desses dias!
Há tantas formas de protesto...Cada vidro quebrado do Itamaraty, cada móvel destruído na Assembléia Legislativa do Rio será pago com o NOSSO dinheiro. Cada ônibus queimado, é um a menos a servir a população já tão carente de transporte!! Se é contra a Copa e a construção de estádios bilionários, melhor seria protestar não indo aos jogos, não pagando por ingressos abusivos. Mas quem quer perder o melhor da festa? O Goooooooooollllllllll!!!!???? Lembro-me bem a euforia do povo, esse mesmo povo que agora protesta, quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa de 2014. Mas eram outros tempos....
É isso, mesmo, Thereza Cristina. Há muita incoerência solta no ar. Isso acaba dispersando o movimento, que teve o lado bom de despertar a sociedade e alertar os governantes. Abraço e obrigado pela sua participação.
ExcluirBelo texto, valiosa reflexão, cançào maravilhosa essa do Cartola! Vou compartilhar, meu amigo, para que outros leiam e ouçam!
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