quarta-feira, 20 de julho de 2022

Dia pra se guardar e preservar os amigos de sempre


Amigo é coisa pra se guarda do lado esquerdo do peito...
Assim falava a canção de Milton Nascimento, e deve continuar assim dizendo hoje e sempre. Nos dias atuais, mais ainda. Estamos rompendo, gradativamente, com o tempo de isolamentos, distantes de familiares e dos amigos. Durante quase dois anos, nos afastamos daquelas pessoas que podiam nos apoiar e emprestar um ombro reconfortante, uma palavra amiga e estimulante para que enfrentássemos tantos desafios.

O cruel desse tempo de pandemia – ainda não totalmente superado – é que ficamos distantes dos amigos de copo e de bar. Aqueles fiéis e autênticos companheiros, que são capazes até de tomar uma, ou até mesmo duas!, em homenagem a um parceiro ausente, distante, ou mesmo para aqueles que os deixaram por um outro mundo, provavelmente melhor que este. O desprendimento dos amigos costuma ser tanto que chegam a oferecer “um gole pro santo”... Isso é que é grandeza.

E nós brasileiros valorizamos tanto a amizade que o Dia do Amigo é comemorado por aqui duas vezes no ano. A primeira comemoração, mais popular e bem conhecida, acontece no dia 18 de abril. No Brasil, Uruguai, Argentina e Moçambique a comemoração ocorre no dia de hoje, 20 de julho, em função do já consagrado Dia Internacional do Amigo, criado pelo argentino Enrique Ernesto Frebbaro, por considerar a chegada do homem à lua um símbolo de união entre todos os seres humanos. Várias nações consideram o 30 de julho como O Dia Internacional da Amizade.

O cartunista Péricles Maranhão, da revista O Cruzeiro, que deixou de circular há muitos anos, criou o personagem Amigo da Onça e por consequência a expressão que se tornou popular, justamente por trazer no seu bojo uma crítica àquele sujeito que pensa mais em si do que nos amigos.

O personagem foi baseado em um garçom que sempre se aproximava de Péricles para saber o que o freguês estava fazendo. O cartunista explicou que ganhava a vida assim, fazendo aqueles desenhos de humor para a revista Cruzeiro. E o garçom não titubeou: “Puxa, eu queria ter um vidão desse”.

Na verdade, Péricles tirou a expressão de uma piada antiga e bastante popular, que não nos fará mal algum recordá-la nesta página: 

- O que você faria se estivesse na selva e aparecesse uma onça na sua frente?

- Dava um tiro nela

- E se você não tivesse uma arma de fogo?

- Furava ela com minha peixeira

- E se você não tivesse uma peixeira?

- Pegava qualquer coisa, como um grosso pedaço de pau, para me defender

- E se não encontrasse um pedaço de pau?

- Subia numa árvore

- E se não tivesse nenhuma árvore por perto?

- Saía correndo

- E se suas pernas ficassem paralisadas de medo?

Nisso, o outro perdeu a paciência e explodiu:

- Peraí! Você é meu amigo ou amigo da onça?"

Amizade é um bem que não faz mal a ninguém e é bem mais feliz quem a tem. Digo isso porque jogo naquele time das pessoas que valorizam os amigos. Sem eles, a vida perde muito da razão de ser. As grandes tragédias da humanidade, além de outras motivações, revelavam sempre por trás o dedo forte e temerário da inimizade. Os nazistas, por exemplo, tinham por princípio considerar o povo judeu seus inimigos. Deu no que deu.

O bom mesmo é ter sempre, ao nosso redor, verdadeiros amigos, e deixar os amigos da onça, os falsos amigos, apenas para o universo das piadas e das charges humorísticas.

Melhor repetir com Milton Nascimento que “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”...


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