domingo, 27 de novembro de 2011

Mário Lago: Nada Além de compositor, poeta, escritor, ator...

Desde ontem, dia 26 de novembro de 2011, começamos a comemorar o centenário do compositor, ator, escritor, radialista e poeta Mário Lago. Se estivesse vivo, teria completado 100 anos. Ao contrário do que muita gente pensa – principalmente as feministas –, Mário Lago não era machista. Pelo contrário, amou sua mulher Zeli, com quem viveu mais de 50 anos, até 1997, quando ela faleceu. Disse, então, simplesmente: “À noite, minha cama parece uma Maracanã vazio”.
Amélia, mulher de verdade, virou sinônimo de mulher submissa. A exaltação “aquilo sim é que era mulher de verdade” rendeu algumas críticas dos que consideram a música, composta por Ataulfo Alves e Mário Lago, uma louvação ao machismo e uma redução do papel da mulher à subserviência. Na realidade, o poeta estava apenas retratando um comportamento muito comum na sociedade de então.
Nesse sentido, a polêmica maior ocorreu quando Mário compôs Número Um, em parceria com Benedito Lacerda. A letra fala de um homem despeitado, por ter amado e ajudado uma mulher que chegou na sua vida, “vaidosa, desiludida, triste mendiga de amor”, e que depois o trocaria por outro – “isso em mulher é comum”.
Poucos poetas conseguiram retratar, de forma tão lírica, o despeito de um homem desprezado, que destila veneno contra a ex-amada do início ao fim da música. Uma letra maravilhosa, com rimas ricas e uma melodia bem feita.
Mário Lago pode ser considerado um dos expoentes culturais do Brasil do século XX. Atuou com talento no teatro de revista, fez diversos papeis na televisão e no cinema, foi relevante na literatura, coerente na militância política, destacado como radialista e compositor de invejável talento na Música Popular Brasileira e um marido apaixonado pela esposa e a família.
Com o genial Custódia Mesquita, deu-nos a belíssima canção Nada Além, um foxtrot que fez sucesso, assim como Atire a Primeira Pedra, composta com Ataulfo, e Aurora, com Roberto Roberti. Abaixo um vídeo raro do próprio Mário interpretando Nada Além.
Como pensador, Mário Lago deixou frases marcantes como a que diz assim: “Gosto e preciso de ti,/ mas quero logo explicar,/ não gosto porque preciso./ Mas preciso por gostar”. Ou, então: “Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: Nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra”.
E foi assim. Um dia ele e o tempo se encontraram. Mais precisamente no dia 30 de maio de 2002 – ano em que o seu tantas vezes candidato, Luis Inácio Lula da Silva, ganharia pela primeira vez a eleição à Presidência da República. Mário não viveu para ver e se deliciar com essa conquista, mas fez parte dela e deve estar acompanhando até hoje o que acontece, ou deixa de acontecer, com esse Brasil que ele tanto amou.
Mário Lago amou e foi amado. É o brasileiro do século XX.


Número um

Passaste hoje ao meu lado
Vaidosa, de braço dado
Com outro que te encontrou
E eu relembrei comovido
O velho amor esquecido
Que o meu destino arruinou
Chegaste na minha vida
Cansada, desiludida
Triste, mendiga de amor
E eu, pobre, com sacrifício
Fiz um céu do teu suplício
Pus risos na tua dor
Mostrei-te um novo caminho
Onde com muito carinho
Levei-te numa ilusão
Tudo porém foi inútil
Eras no fundo uma fútil
E foste de mão em mão
Satisfaz tua vaidade
Muda de dono à vontade
Isso em mulher é comum
Não guardo frios rancores
Pois entre os teus mil amores
Eu sou o número um


Um comentário:

  1. Do amigo e jornalista Marco Túlio, recebi o seguinte e-mail:
    "Caro Zezão, este fim de semana, coincidentemente, revi várias cenas da atuação de Mário Lago, na coleção de DVDs que trazem um compacto da novela Dancin' Days, de Gilberto Braga (1978).
    Além disso, há cenas gravadas em Brasília - naquele ano em que vim pela primeira vez à cidade. Abraço,
    Marco Túlio"

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