Waldeck Artur de Macedo era engraçado, bem-humorado e extremamente talentoso, mas dificilmente faria sucesso com esse nome. Logo, logo, bem no começo de sua carreira recebeu o apelido de Gordurinha, por pura ironia à sua exagerada magreza. Seu talento precoce fez com que ele entrasse no mundo artístico com 16 anos de idade, em 1938, na rádio PRA-4, Rádio Sociedade da Bahia, em Salvador, apesar de todo o esforço em sentido contrário da família.
Começou participando do conjunto vocal “Caídos do Céu” e, logo em seguida, fez dupla cômica com o compositor Dulphe Cruz, o que faria o seu lado comediante sufocar o talento de compositor na fase inicial de sua carreira.
Por volta do ano de 1942, cansado de tentar conciliar o trabalho com os estudos, teve que tomar uma decisão importante na vida: medicina ou carreira artística? Não teve dúvidas, abandonou a faculdade e passou a fazer parte de um grupo de teatro. Foi ser mambembe na vida.
No início da década de 50, conheceu Genivaldo Lacerda e Jackson do Pandeiro, que foram os primeiros a gravar suas composições. Daí para o Rio de Janeiro foi um pulo e, em pouco tempo, conseguiu realizar o sonho de todo artista daquela época: assinar um contrato com a Rádio Nacional.
Ainda na década de 50, pela Continental, gravou algumas marchinhas carnavalescas e o seu primeiro grande sucesso: Baiano Burro Nasce Morto. Em 1959, lançou o emblemático “Chicletes com Banana”, que seria sucesso na voz do compositor e de vários outros artistas, como Gilberto Gil, Jackson do Pandeiro e o conjunto Confraria da Bazófia. Nela, o compositor critica a investida americana sobre a nossa cultura.
No início dos anos 60, ainda garoto, tive a felicidade de conhecer o trabalho de Gordurinha na eletrola de Tia Constância, vizinha que possuía esse aparelho tão raro naquela época. Ficava, então, impressionado com a beleza de suas músicas e com a ousadia das letras de Chiclete com Banana, Súplica Cearense, abaixo na belíssima interpretação de Ary Lobo, e Baiano Burro Nasce Morto, que reproduzo na voz do próprio compositor.
Gordurinha era satírico, inteligente e ironizava com classe e talento o preconceito de paulistas e cariocas para com os nordestinos. Em Baianada, uma parceria com Carlos Diniz, chega a dizer: “O baiano nasceu pra falar da Bahia/ tem muito doutor/ O Brasil foi descoberto na Bahia/ o resto é interior”.
Mas Gordurinha foi também lírico, romântico, poético, não apenas em Súplica Cearense, mas também na canção que fez para sua mãe, chamada Poema dos Cabelos Brancos.
Gordurinha sofreu muito com as crises de asma, que o perseguiram por toda a vida. Para superá-las, viciou-se em injeções de morfina, que ele mesmo aplicava em doses cada vez maiores. Morreu de enfarte em consequência de uma overdose, antes mesmo de completar 47 anos de idade.
Na base da brincadeira, em forma de gozação, tratou de temas sérios como a seca, a fome dos nordestinos, miséria, dor, preconceito e a invasão cultural estrangeira. É considerado, com muita justiça, um mito da música popular brasileira. Um capítulo a parte da nossa história musical.
Muito bom esse vídeo do Gordurinha..fez a gente retomar o passado, as lembranças interioranas e da infância em que se ouvia música nordestina..esses versos de "cabeça grande e sinal de inteligência, eu agradeço a providência ter nascido lá" estão bem vivos em minha memória, mas não sabia que era dessa pitoresca composição do Gordurinha...Valeu, José!
ResponderExcluirÉ verdade, Itaney. Isso lembra a nossa infância. Nos versos que você mencionou tem um sutileza interessante. A pronuncia da palavra inteligência, que ao estilo mais tradicional da Bahia, ele diz "inteligênxia", com um suave som de xis e não de esse. Como gostamos de dizer, nós goianos, isso é bom demais!
ResponderExcluirRecebi o seguinte e-mail de Sandro Macedo, neto do genial Gordurinha:
ResponderExcluir" Eu que postei o vídeo de Baiano burro nasce morto. Gordurinha foi meu avô.
Em 2009 foi lançado um livro muito bom sobre ele, escrito por Roberto Torres, você tem?
Muito obrigado pela homenagem ao meu avô!"
Sandro,
ResponderExcluirNão tenho o livro do Roberto Torres, mas vou procurar nas livrarias. Você não precisa agradecer nada que se diga sobre o Gordurinha. Esse reconhecimento é uma obrigação de todos os brasileiros que amam a nossa cultura. Abraço.
Recebi o seguinte e-mail do amigo Josafá Dantas:
ResponderExcluir"Zé o texto sobre o Gordurinha é porreta. Fiz um texto no local apropriado, mas a tecnologia não quer nada comigo,
será que o nosso heroi teria problema com esse tal de computador e suas ferramentas? Sei não! Dizem que a única tecnologia que
o baiano controla é como colocar a água no coco. Já é alguma coisa! Afinal, não precisamos disso, porque temos a música do
Gordurinha e seus seguidores."