terça-feira, 27 de setembro de 2011

O que é melhor? Calote ou presente de grego?

Mais de três mil e duzentos anos depois do lendário cavalo oferecido como presente aos troianos, o povo grego agora quer oferecer algo equivalente ao mundo capitalista financeiro. Desta vez, a oferta é a de um calote parcial na dívida grega para com as instituições financeiras, que, ironicamente, é chamada de "dívida soberana".
Os riscos advindos desse presente de grego da era globalizada serão o desemprego e inflação na Grécia, com agitação política e social, além de ameaça para a estabilidade do euro e um freio brusco na tímida recuperação da economia mundial. As autoridades gregas – desfalcadas de poder de conquista de um Menelau, ou do plano mirabolante de um Ulisses – preferem dizer que não é bem assim, sabem como é...
Para não correr riscos ainda maiores, a comunidade européia já fala em aumentar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira dos atuais € 440 milhões para € 2 trilhões. Ninguém, muito menos os banqueiros, quer correr o risco de receber um presente de grego sob o título de “calote parcial”.
O medo no Brasil não é diferente. Depois de alertar em seu discurso na ONU que a capacidade de enfrentar uma crise econômica não é ilimitada, a presidente Dilma teve uma reunião tensa ontem, no Palácio do Planalto, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. A avaliação de ambos é a de que a crise financeira mundial mudou, infelizmente para pior.
Na avaliação dos brasileiros, a crise na Grécia deve ter um desfecho ainda esta semana, com conseqüências imprevisíveis para a economia mundial. A situação está bem mais complicada do que as autoridades brasileiras esperavam, o que deve exigir novos ajustes na política econômica. Um deles seria o de acelerar a queda dos juros e reduzir a taxa Selic, na próxima reunião do dia 19 de outubro do Banco Central, em 0,75 ponto percentual, ou até mesmo em um ponto percentual. Estratégia que tem um complicador pela frente: a inflação, em alta, chegou a 7,33% no acumulado dos últimos doze meses.
É o horizonte que se vislumbra com esse “meio” presente de grego, ou simplesmente calote parcial. Como não existe um Paris – o homem mais belo do mundo –, a quem se poderia responsabilizar pelo seqüestro da Helena dos tempos modernos, o jeitinho brasileiro está sendo, mais uma vez, preparar-se para tirar o seu (nosso) da reta. Faz muito bem a presidente Dilma em tomar as providências que julgar necessárias. Tomara que acerte na receita e não erre na dose.
Enquanto isso, nós que não somos de ouro, de ferro ou mesmo da era do bronze, nem temos ações de bancos europeus, vamos ficar por aqui, ouvindo essa bela interpretação de Amelinha para Mulher Nova Bonita e Carinhosa, de Zé Ramalho e Otacílio Batista, que conta um pouco da história do confronto entre gregos e troianos. E, para ninguém reclamar que não sou bonzinho, um verdadeiro presente de brasileiro: a bela interpretação da dupla Polixeni Arabatzis e Tassos Bouyiessis para a maravilhosa canção grega de Mikis Theodorakis: Sto Perigiali. 


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