quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Como e quando comemorar o Dia do Poeta?


Hoje é Dia do Poeta. Melhor seria se fosse a noite do poeta, ou a madrugada. Poeta é notívago. Antes mesmo de surgirem os primeiros raios de sol, ele abandona a vida devassa, a boemia, os amigos e os parceiros de versos e canções e busca o aconchego do lar e da mulher amada... Bonito, não?
Bonito ma non troppo. Os poetas de hoje vivem realidades bem diferentes das de outrora. Trabalham muito, acumulam contas para pagar, dormem pouco. E sonham muito menos. Vivem mais da realidade do que da fantasia.
Poeta da era moderna é funcionário público, bancário, jornalista, artesão de feira. Se bem sucedido, dono de lojinha de planta ou de produtos ecológicos. Sai cedo e volta tarde da noite para casa, onde a mulher amada o espera com um cardápio de problemas a serem resolvidos, ou não, no dia seguinte. Se for uma poetisa, é só inverter os papeis, o roteiro será o mesmo ou algo bem parecido.
Onde começam os sonhos e termina a realidade? Como buscar inspiração no emaranhado de problemas que salpicam na vida de todos nós? Os poetas descobrem os caminhos quando olham pra dentro de si mesmo e enxergam o mundo. Quando estendem a vista para o mundo e conseguem observar as pessoas, o ser humano, suas dores e alegrias, seus desencontros, embora existam alguns encontros pela vida.
O poeta olha para a tela do computador como Noel Rosa olhava para o guardanapo de papel em cima da mesa de bar. Os espaços são os mesmos. Comportam os mesmos sofrimentos, angústias, alegrias e desesperos. As soluções para os problemas do mundo salpicam dos teclados digitais, como jorravam das teclas da velha máquina de escrever ou da caneta de bico de pena.
O poeta não se esconde por trás da tecnologia revolucionária da época em que vive. Pelo contrário, é por meio dela – seja qual for – que se manifesta suave e despretensiosamente, mas de maneira cortante, profunda e perene. Os poetas não se limitam pelo tempo, muito menos pelas convenções humanas do que seja dia ou noite, semana, mês, ano, século... O poeta se perde e se encontra na eternidade.
Como homenagear um poeta? Desejar a ele um feliz Dia do Poeta?  É como se alguém encontrasse Ferreira Gullar na rua e começasse a cantar “parabéns pra você, nesta data querida”... Vai dar a ele um presente? Que presente? Uma gravata?
Pois é. Precisamos pensar bastante sobre o que fazer no dia, ou na noite, ou na madrugada do poeta. Uma serenata pode ser uma boa alternativa. Mas e se o poeta não estiver em casa? Estiver de plantão pra ganhar umas horas extras. É arriscado...
O melhor mesmo é fazer o seguinte: ouvir Another Brick in the Wall, de Pink Floyd, interpretada pela London Philharmonic Orchestra, com legenda de um belo poema do mais belo dos poetas: Fernando Pessoa (gravura acima), O Último Sortilégio. São oito minutos e vinte três segundos de puro prazer, delírios e sonhos. Aí, sim, dá pra comemorar o Dia do Poeta, mesmo que não seja este ano, mesmo que seja noite ou madrugada.




Um comentário:

  1. Não poderia ter escolhido melhor poema para homenagear o Dida do Poeta, é marivilhoso o nosso Profeta Fernando Pessoa. O seu comentário está demais, bem humorado, e como sempre sensível e inteligente.Parabéns pelo artigo e pelo seu dia também e de todos Poetas, gostaria de enviar um poema, mas hoje minha inspiração só goteja, gostaria de ganhar um mar versos para enviar ao ZecaBlog. Beijos!

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