sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Dizem que Arnaldo é louco, mas louco é quem o diz e não é feliz

Rita Lee, Arnaldo e Sérgio nos bons tempos da banda os Mutantes
Arnaldo Baptista no sítio para onde se mudou com sua "menina"
Arnaldo Batista é uma das figuras mais interessantes da música brasileira. Não apenas pelo seu talento de músico – que herdou da mãe pianista e compositora – e de letrista - que herdou do pai jornalista e poeta –, mas principalmente pelo exemplo de vida, de figura humana que cerca sua existência, marcada por altos e baixos – ambos muito distantes de qualquer parâmetro do que se poderia chamar de normalidade.
Talvez, por isso mesmo, algumas pessoas mais apressadinhas e superficiais, costumam dizer que Arnaldo é completamente louco – ou pelo menos, os mais condescendentes, dizem que ele era louco por completo. Na verdade, Arnaldo respondeu a todos eles, na letra da bela canção Dizem Que Sou Louco, ao afirmar poeticamente que “louco é quem me diz, mas não é feliz”.
Líder da banda “Os Mutantes”, marco importante na história do rock’n roll no Brasil, com reconhecimento não apenas aqui, mas também no exterior, Arnaldo Batista viveu sempre muito perto dos limites e nunca perdeu sua capacidade de ousar, com criatividade e talento. Era instigante e intrigante e fez a música pop brasileira do seu tempo voar mais alto.
Foi internado diversas vezes. Numa delas, tentou suicídio, pulando do quarto andar do Hospício Municipal de São Paulo. Sofreu traumatismo craniano e ficou internado numa UTI pelo período de quase dois meses. Foi então que surgiu em sua vida uma figura de dimensão que também ainda precisa ser mais bem analisada e explicada. Lucinha Barbosa – a “minha menina” – era apenas uma fã de Arnaldo, mas passou a visitá-lo todos os dias na UTI. Quando percebeu que ninguém mais ia vê-lo, nem mesmo os parentes, Lucinha levou-o para um sítio. Vivem juntos há mais de trinta anos.
Kurt Cobain, do Nirvana, chegou a manifestar em carta, quando andou pelo Rio de Janeiro, sua profunda admiração pelo talento musical e pela grandeza de Arnaldo como pessoa. Manifestação semelhante fez, em público, durante um show, Sean Lennon, o filho de John Lennon. O maestro Rogério Duprat garante que os Mutantes são a coisa mais importante do Tropicalismo. E foi peremptório: “a cabeça disso é o Arnaldo, que é a coisa mais importante que aconteceu de 1967 para frente”.

A mentalidade mediocrizante brasileira gosta de tratar a genialidade de Arnaldo Batista como uma forma de loucura. Mas, Arnaldo com os Mutantes e o Tropicalismo foi genial. Em sua carreira solo, também. Chegou a gravar cinco álbuns, sendo que um deles é uma obra-prima do rock nacional: Lóki? Um disco, como recomenda Rogério Duprat, para ser ouvido em alto volume. Ao lado do irmão Sérgio, produziu e participou de shows históricos, não apenas na época do grupo original, mas também neste milênio, como a série de apresentações no exterior para relembrar os Mutantes. O show começou por Londres e chegou a reunir público de 80 mil pessoas. Lançou dois livros de ficção científica e centenas de pinturas a óleo.
Arnaldo é uma pessoa extremamente sensível, afável, cordial, de bem com a vida e com o mundo. Foi o primeiro a defender o meio ambiente, muito antes do modismo que hoje cerca o tema. Está preparando mais um disco para ser lançado este ano: Esphera.
Pra relembrar Arnaldo, Os Mutantes e o Tropicalismo, nada melhor do que ouvir, numa sexta-feira, a psicodélica canção Panis et Circenses. Depois, a canção Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki?, com música, letra e um arranjo maravilhoso de Arnaldo.



Um comentário:

  1. Muito bom. Comecei a conhecer a obra do Arnaldo a partir de seu album Let It Bed, o qual achei show de bola!

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