sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Dia do Nutricionista. Os gordinhos gritam: Viva a comida bruta!

 José Renato Leitão era um gordinho empedernido, apaixonado por comida. Tinha verdadeira paixão por pratos saborosos, gordurosos, daqueles que fazem um bem, mas, dizem, fazem um mal também. Gostava mesmo é da comida bruta. Nasceu assim, e dessa maneira viveu nos tempos de bebê, criança, adolescente e adulto (enquanto foi solteiro).
Foi um bebê guloso. Secava a mãe pelos peitos e esvaziava duas mamadeiras de leite engrossado de uma tacada só. Entre tirar uma mamadeira e engatar a próxima, eram cinco segundos de um choro agudo e doído. Comia papa em travessa, e a sua sopinha era, na realidade, um sopão, em prato fundo e já prévia e estrategicamente esfriado.
Nos tempos de criança – ali já quase beirando a pré-adolescência –, certa vez, almoçou lá em casa. Fiquei impressionado. Como podia alguém comer alface com aquela voracidade?! Tá certo que recheava a folha com arroz, feijão e uns pedaços de carne, que ninguém é de ferro. Fazia um bolinho, fechava-o bem fechadinho, e o enfiava na boca, por inteiro.
Na adolescência, era apenas um razoável bebedor de cerveja, que consumia desde que viesse regada a tira-gosto de tirar a fome de qualquer mortal. Torresmo, costelinha de porco, pastel, quibe frito, mandioca com manteiga de garrafa e outras coisitas mais, enquanto aguardava ansioso o almoço. Nada sobrava nos pratos, nem nas travessas dos botecos e restaurantes.
Foi assim até conquistar o verdadeiro amor de sua vida. Era uma nutricionista e vegetariana. Como todo homem apaixonado, casou e mudou. Mudou não apenas de endereço, mas principalmente de postura, personalidade e de cardápio. E claro, sumiu dos amigos, da turma e dos ambientes calóricos...
Hoje, Dia do Nutricionista, de farra, fomos almoçar com alguns amigos em um restaurante vegetariano. Quem estava por lá? Nosso amigo Zé Renato. Magro, esquálido, entristecido e envelhecido. Tão logo me viu entrando no restaurante, abriu os braços e um sorriso.
- Você por aqui?! Que surpresa agradável! Fico feliz em saber que você aderiu à comida vegetariana. Sua vida vai melhorar trezentos por cento. Você vai sentir como eu estou me sentindo hoje: mais novo, saudável, cheio de alegria e de energia para enfrentar o dia-a-dia.
Não fiz maiores nem melhores comentários. Correspondi aos afagos. Consegui, num esforço tremendo, não sorrir apenas com o lábio de baixo. Despedimos-nos, cordialmente.
Saí do restaurante me sentindo, de fato, mais leve do ponto de vista físico. Mas com a consciência pesada. Teria traído meus amigos? Por que não disse ao Zé Renato, companheiro de outras épocas, a real impressão que me causou o seu aspecto físico?
Para aliviar a consciência, fiz uma promessa. Almoçarei pelo menos uma vez por ano em restaurante vegetariano, de preferência no Dia do Nutricionista. Será uma forma de referenciar meu amigo Zé Renato e de pagar alguns dos meus (muitos) pecados acumulados pela vida.
Viva o Dia do Nutricionista!
Viva a comida bruta!




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