Dizem (eu não sei bem se é verdade,
pois nunca passei por situação semelhante) que quase todo marido já acordou, pelo
menos uma vez na vida, bem cedo, com a esposa murmurando ao seu lado alguma
coisa que, geralmente, acaba provocando um diálogo parecido com o transcrito abaixo, obviamente uma peça de ficção:
- Hum...
-
Você não me ama mais, né?
- Amo...
-
Ama nada!
- Claro que amo.
-
Mas... Você não fala, né?
- Falo.
-
Então, diz agora.
- Diz agora o quê,
mulher?
- Que você me ama...
- Claro que eu amo.
- Então fala!
- Mas, gente...! Acabei
de falar. Meu Deus... Deixa dormir só mais um pouquinho...
- Já está querendo fugir da conversa. Você não pode dizer: eu te amo, né?
- Mais pra quê, meu
Deus? Você não acredita em mim?
- Acredita como, se você não fala?!
- Já disse, mas você
não acreditou.
-
Meu bem, se você me ama de verdade, o que custa dizer: Eu te amo?
- Não custa nada. Mas
por que tenho que dizer agora e exatamente dessa forma?
-
E por que não pode dizer? É tão sofrido assim? É um fim de mundo dizer pra sua
mulher: eu te amo?
- Claro que não é
nenhum fim de mundo. Eu só não entendo por que tenho que dizer exatamente desse
jeito.
-
Porque é assim que se diz quando se ama alguém.
- Eu amo a minha mãe e
não tenho que ficar dizendo pra ela: eu te amo!
-
Tá vendo! Pra sua mãe, que me odeia, você acaba de dizer: eu te amo! Com todas
as letras. Para sua esposa, você não pode dizer. Acha que é um fim de mundo!
- Meu Deus do céu!
Perdi até o sono. Você sabe que amo desde que eu te conheci.
- Depois que nós casamos você nunca mais falou!
- Meu bem, presta
atenção! Se eu casei é porque eu amo. Alguém casa com alguém sem amar?
-
Casa! E quem ama fala “eu te amo”, espontaneamente... Não precisa ser cobrado.
- Não acredito que você
pensa dessa forma...?
-
Penso.
- Isso pra você é tão
importante assim, meu Deus do céu?
-
É.
- Então tá bom, eu vou
dizer.
-
Então, diz.
- Eu te amo.
-
Mas... É nesse TOM?!
UAU...poético, lindo ! O texto, o casal infantil, e Marisa Monte . Tudo junto é poesia ! Parabéns !
ResponderExcluirConcordo com a mulher, e com o Carlos Drummond de Andrade:
ResponderExcluirQuero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
Belo poema, esse do Drummond..a obsessão do amor que não se satisfaz com a certeza momentânea de ser amado..insegurança total, e a verdade de que a cada instante tudo muda inclusive o amor....essa do casal de crianças é linda! E veja que a menina foi clara, transparente. Ele, calado, não dizia do seu amor e nem sabia que era amado. Nem sempre o silêncio é ouro...Marisa, sempre linda, em tudo! valeu!
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