terça-feira, 21 de agosto de 2012

Diálogo entre esposa e marido logo de manhã é um perigo

Dizem (eu não sei bem se é verdade, pois nunca passei por situação semelhante) que quase todo marido já acordou, pelo menos uma vez na vida, bem cedo, com a esposa murmurando ao seu lado alguma coisa que, geralmente, acaba provocando um diálogo parecido com o transcrito abaixo, obviamente uma peça de ficção:

- Amor, você não me ama mais...
- Hum...
- Você não me ama mais, né?
- Amo...
- Ama nada!
- Claro que amo.
- Mas... Você não fala, né?
- Falo.
- Então, diz agora.
- Diz agora o quê, mulher?
- Que você me ama...
- Claro que eu amo.
- Então fala!
- Mas, gente...! Acabei de falar. Meu Deus... Deixa dormir só mais um pouquinho...
- Já está querendo fugir da conversa. Você não pode dizer: eu te amo, né?
- Mais pra quê, meu Deus? Você não acredita em mim?
- Acredita como, se você não fala?!
- Já disse, mas você não acreditou.
- Meu bem, se você me ama de verdade, o que custa dizer: Eu te amo?
- Não custa nada. Mas por que tenho que dizer agora e exatamente dessa forma?
- E por que não pode dizer? É tão sofrido assim? É um fim de mundo dizer pra sua mulher: eu te amo?
- Claro que não é nenhum fim de mundo. Eu só não entendo por que tenho que dizer exatamente desse jeito.
- Porque é assim que se diz quando se ama alguém.
- Eu amo a minha mãe e não tenho que ficar dizendo pra ela: eu te amo!
- Tá vendo! Pra sua mãe, que me odeia, você acaba de dizer: eu te amo! Com todas as letras. Para sua esposa, você não pode dizer. Acha que é um fim de mundo!
- Meu Deus do céu! Perdi até o sono. Você sabe que amo desde que eu te conheci.
- Depois que nós casamos você nunca mais falou!
- Meu bem, presta atenção! Se eu casei é porque eu amo. Alguém casa com alguém sem amar?
- Casa! E quem ama fala “eu te amo”, espontaneamente... Não precisa ser cobrado.
- Não acredito que você pensa dessa forma...?
- Penso.
- Isso pra você é tão importante assim, meu Deus do céu?
- É.
- Então tá bom, eu vou dizer.
- Então, diz.
- Eu te amo.
- Mas... É nesse TOM?!


3 comentários:

  1. UAU...poético, lindo ! O texto, o casal infantil, e Marisa Monte . Tudo junto é poesia ! Parabéns !

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  2. Concordo com a mulher, e com o Carlos Drummond de Andrade:

    Quero que todos os dias do ano
    todos os dias da vida
    de meia em meia hora
    de 5 em 5 minutos
    me digas: Eu te amo.

    Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
    creio, no momento, que sou amado.
    No momento anterior
    e no seguinte,
    como sabê-lo?

    Quero que me repitas até a exaustão
    que me amas que me amas que me amas.
    Do contrário evapora-se a amação
    pois ao não dizer: Eu te amo,
    desmentes
    apagas
    teu amor por mim.

    Exijo de ti o perene comunicado.
    Não exijo senão isto,
    isto sempre, isto cada vez mais.
    Quero ser amado por e em tua palavra
    nem sei de outra maneira a não ser esta
    de reconhecer o dom amoroso,
    a perfeita maneira de saber-se amado:
    amor na raiz da palavra
    e na sua emissão,
    amor
    saltando da língua nacional,
    amor
    feito som
    vibração espacial.

    No momento em que não me dizes:
    Eu te amo,
    inexoravelmente sei
    que deixaste de amar-me,
    que nunca me amastes antes.

    Se não me disseres urgente repetido
    Eu te amoamoamoamoamo,
    verdade fulminante que acabas de desentranhar,
    eu me precipito no caos,
    essa coleção de objetos de não-amor.

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  3. Belo poema, esse do Drummond..a obsessão do amor que não se satisfaz com a certeza momentânea de ser amado..insegurança total, e a verdade de que a cada instante tudo muda inclusive o amor....essa do casal de crianças é linda! E veja que a menina foi clara, transparente. Ele, calado, não dizia do seu amor e nem sabia que era amado. Nem sempre o silêncio é ouro...Marisa, sempre linda, em tudo! valeu!

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