Altamiro Carrilho toca flauta com Pixinguinha - o instrumento que iria... |
...acompanhá-lo pelo resto da vida, que terminou ontem, pela manhã |
Este ano de 2012 tem
sido muito amargo para a música popular brasileira. Já tivemos perdas
significativas e agora ficamos sem a inspiração e o talento de Altamiro
Carrilho. Uns dos maiores músicos da nossa história, Altamiro compõe, com Patápio
Silva, Pixinguinha e Benedito Lacerda, o quarteto dos melhores flautistas de
nossa história musical. Pelo apego enorme que tinha pelo estudo do instrumento
(pelo menos duas horas por dia) e pela busca incessante de novas sonoridades
pode ser que tenha chegado mais longe do que os outros três. O maestro Júlio
Medaglia, por exemplo, acredita nisso.
Altamiro Carrilho tinha
também uma paixão avassaladora pela criatividade. Adorava o improviso e
mostrava orgulho disso. Chegou a dizer, certa vez: “não toco uma frase repetida,
cada vez é uma frase diferente”. Essa paixão o aproximava dos grandes jazzistas
americanos e sempre comprovou que o nosso choro tem uma alma parecida com a do
jazz.
Nosso Altamiro Carrilho
morreu aos 87 anos. Teve uma carreira artística que passou de 70 anos – pra se
ter uma ideia, sua primeira gravação foi aos 15 anos de idade, acompanhando
Moreira da Silva. De lá pra cá, uma torrente de paixão pela música. Chegou a se
apresentar em quase 50 países, lançou mais de 112 discos e compôs cerca de 200
músicas.
Com sua flauta, Altamiro
acompanhou gerações de artistas, desde Francisco Alves, Orlando Silva, Linda e
Dircinha Batista, Caubi Peixoto, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa,
Maria Bethânia, entre muitos outros. Fazia questão de lembrar, com aquele seu
jeitinho humilde e bem-humorado, que aquela flauta na música Detalhes, de Roberto Carlos, era ele
tocando. Parece um pequeno detalhe, mas não. Todos nós amamos o som daquela
flauta na música do Roberto, mas poucos sabiam que ela era de Altamiro
Carrilho.
Mas não viajava com
maestria apenas pelas canções populares, não. Executava com talento e
virtuosismo também os clássicos, com Bach, Mozart, Chopin, Schubert, Vivaldi,
Mendelssohn e Tchaikovsky. Fez um belo trabalho com o maestro Júlio Medaglia
sobre Mozart. E tinha orgulho de ter contribuído para misturar a música
clássica e os ritmos brasileiros.
Altamiro Carrilho era
um gênio Daqueles artistas que passam como um meteoro por esse planeta. Viveu
87 anos plenamente dedicados à música. Se vivesse mais uma década,
provavelmente teria ampliado, e muito, o universo de suas contribuições para
essa nossa rica música brasileira.
Por ocasião de seu
último show, em Uberlândia, disse, em entrevista a uma emissora local de TV: “Eu
tenho a impressão de que seu eu parar com a música, eu paro. Desde criança eu
convivo no meio dos músicos”. Isso foi em junho deste ano. Em julho, ficou 17
dias internado quando foi descoberto que tinha câncer no pulmão. Parou de tocar
e agora parou de viver.
Sua obra, seus exemplos
e seu talento continuarão vivos pelo Brasil e pelo mundo afora. Esses são
imortais.
(Abaixo um belo vídeo sobre Altamiro e sua flauta. Depois, uma genial interpretação de Gargalhada, música composto por Pixinguinha para execução de Altamiro).
Estou preparando acróstico-homenagem: "ALTAMIRO CARRILHO!" (www.recantodasletras.com.br/autores/joaomiguel)
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