Minha avó Naninha, Ana de Alencar
Camapum, figura esquálida, pequena, de pouca visibilidade, não se enquadrava
naquele exemplo clássico de vó. Não era
de nos agasalhar no colo, fazer gracinhas, dengos e outras peripécias que tanto
entusiasmam as crianças. Mas gostava de presentear. Costumava aproximar-se de
nós com um dinheirinho enrolado na mão, dizendo: “toma meu filho, pra comprar
um refrigerante”.
Meu avô Toinho, Antônio Pereira
Camapum, era mais pragmático. Convivi poucos anos com ele que era bem mais
velho do que minha avó. Mas, o suficiente para aprender o lado prático da vida.
Ensinou-me a fazer poupança, ganhar dinheiro vendendo laranja, pirulito,
engraxando sapatos nas ruas. Dele era difícil conseguir algum trocado; o bolso
da calça era muito fundo...
Ambos nos ensinaram a sermos caridosos,
solidários e a fazer orações antes de dormir – rezar um Padre-Nosso, uma
Ave-Maria e concluir, dizendo: “Com Deus me deito, com Deus me levanto, na graça
de Deus, Espírito Santo”. Amém.
São lembranças que veem à memória neste
dia 26 de julho, dos Avós e de Nossa Senhora Santana, padroeira de
Uruaçu. É também a data do meu casamento com a Stela, que nesta noite chega aos 33 anos de
vivência, convivência e sobrevivência. Estamos completando as Bodas de Crizo,
ou Crizopata, pedra também conhecida como Crisólita, que, dizem, os egípcios
chamavam de Topázio. Ela emitia radiações à noite. Os mineradores então
marcavam o local e, no dia seguinte, voltavam para retirá-las.
Essa simbologia é interessante.
Durante as Bodas de Crizo, o casamento emana uma luz diferente, radiante, em
meio à escuridão dos tempos. O casal pode demarcar seu espaço, suas conquistas,
seus sonhos, e depois reunir os frutos debaixo das Oliveiras, ao completar 34
anos de casados.
Bom , essas pelo menos são as minhas conclusões, meras ilusões, mas o que seria da
vida sem elas. Acrescento mais alguns versos ao poema escrito pela primeira vez
quando completamos 31 anos de casados. Neste ritmo, vai acabar ficando maior do
que Os Lusíadas...
O passar do
tempo
José Carlos Camapum Barroso
José Carlos Camapum Barroso
O amor, quando faz
Trinta e alguns anos,
Deixa a concha
De madrepérola,
Pois, ao sair do papel,
Em plena lua de mel,
Enrolou-se no algodão.
Em meio a buquê de
flores,
Fez-se duro como madeira
Entrelaçada de amores...
O sabor do açúcar trouxe
O perfume da
papoula,
Que passou pelo barro
E foi virar cerâmica
(Sem quebrar a louça).
Ah... Todos esses
anos...
Quantos desenganos
A envergar o aço,
A desafiar o abraço,
A rasgar seda, cetim.
O linho trouxe a renda
E as bodas viraram
marfim.
No resplandecer do
cristal,
A turmalina cor de rosa
Desaguou na turquesa...
Ao amor e sua beleza,
Juntou-se a maioridade.
O que fazer agora,
então?
A água-marinha já não
Banha a mesma porcelana?
Resiste a louça, coberta
Em palha, guardada
Em opala, que desperta
O brilho fino da
prata...
Ah... Como passam os
anos...
Novos e novos desenganos
Trazem um cheiro de erva
Ao amor balzaquiano...
Tudo agora é pérola!
E a força do Nácar
ajudou
A passar trinta e um
anos.
Como não ficar
sozinho...?
Entre anos e desenganos,
Vieram as Bodas de
Pinho.
E nós, em nosso ninho,
A aguardar indecisos:
O que será meu Deus
Essa tal Bodas de Crizo?
Aos trinta e três
anos...
Melhor seria “Bodas de
Cristo”.
Os dias se passaram...
Agora podemos caminhar
Rumo às Oliveiras...
Símbolo da amizade,
Da paz e prosperidade.
Um ramo apenas bastará,
A nos encher de
esperança.
Depois de tanta
turbulência,
Teremos “terra à vista”.
Sinal que a vida
continuará
A nos trazer conquistas.
Parabéns pela perseverança da união. Desejos de que o amor fale sempre mais alto e se imponha no seio de sua família. Abraços Selma
ResponderExcluirParabéns ao casal amigo!Que Deus permaneça na vida de vocês e que na sombra das oliveiras vocês sejam sempre e mais felizes!Grande abraço!
ResponderExcluirRômulo e Solange
Amei, vc é ótimo e inspirador. Belas outras Bodas a esse casal tão romântico.
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