Toda
Poesia, de Paulo
Leminski, vai fechar o mês de julho na 13ª posição dos livros de ficção mais
vendidos no ano de 2013, no ranking do Publish
News, acumulando até a semana passada um total de 32.116 exemplares
vendidos. O poeta polaco louco paca, curitibano que viveu apenas 45 anos, de
1944 a 1989, é o único autor brasileiro entre os vinte livros de ficção mais
vendidos nos primeiros sete meses de 2013, segundo a mesma fonte.
Esse é um quadro que nos enche de alegria.
Vem para quebrar a máxima do mercado editorial de que livros de poesia não
vendem. Toda Poesia tem 424 páginas, reúne 600 poemas desse autor extraordinário, custa
a bagatela de R$ 46,00, e mesmo assim ocupa posição de destaque no ranking de
vendagem, chegando, em algumas semanas a desbancar da primeira posição a
trilogia de E. L. James (Cinquenta Tons de
Cinza, Cinquenta Tons de Liberdade
e Cinquenta Tons Mais Escuros).
Leminski é um poeta que traz contentamento. A leitura de seus livros nos propicia prazer seja pela capacidade de
escrever respeitando e utilizando-se de construções formais, nas águas do
concretismo, bem como pela sensibilidade em utilizar-se da linguagem coloquial,
improvisando sem medo e sem risco de cair no lugar comum. Toda Poesia reúne em
um livro todos os livros que o poeta publicou ao longo de uma carreira muito
curta, mas intensa e reconhecidamente original. Sua estreia na poesia foi em
1976 e ele morreu poucos meses antes de completar 45 anos, em 1989.
Aviso aos náufragos
Paulo Leminski
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?
Seu talento está intimamente ligado
também à música popular brasileira, por meio de composições como Verdura, gravada por Caetano Veloso, e
letras feitas para canções do próprio Caetano, Gilberto Gil, Moraes Moreira,
Paulinho Boca de Cantor, Arnaldo Antunes, José Miguel Wisnik, Itamar Assumpção
e tantos outros.
Toda Poesia pode ser apreciado de um
gole só ou em doses homeopáticas. Não tem bula, muito menos contra indicações. O
colega jornalista e amigo Maranhão Viegas disse que degustou todas as 424
páginas em uma noite de perda de sono. Eu preferi absorver todas as 600 poesias
em doses bem dosadas ao longo da semana. Confesso que tive a sensação de que
esse livro cura tudo, de depressão à espinhela caída.
É difícil comentar quando o poeta é muito bom . Os versos são viagens, prazer, melancolia,alegria pela sensibilidade . Bate no peito um respeito por aqueles que nos encanta, nos suaviza,nos faz pensar, chorar, amar...comprar o livro é melhor ainda.
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