As
vestimentas minhas e dos meus três irmãos eram costuradas pela minha mãe Maria
Iracema do Perpétuo Socorro Coelho Barroso, que, depois de casada, trocou o
nome de princesa e passou a se chamar Iracema Barroso Camapum. Para nós, a
melhor e a mais importante costureira a ser homenageada nesse Dia Nacional da
Costureira.
Esse tema da
costura sempre me deixou fascinado. Quando criança, observava minha mãe
costurando, junto à velha máquina Vigorelli (foto acima), que eventualmente se
transformava em carrinho dirigido pelos sonhos de criança. O volante era a
imensa roda que fazia funcionar a máquina, e o assento do carro era a placa que
servia de pedal – nas máquinas antigas, os pedais, grandes, suportavam uma
criança, sentada, confortavelmente.
A
arte de costura é antiga. Remonta a mais de 30 mil ano, na era do Paleolítico.
Inicialmente dominada pelos homens, a arte de costurar foi gradualmente sendo
dominada pelas mulheres.
O
primeiro modelo de máquina foi patenteado por Thomas Saint, em 1790, sendo
descrito como um aparelho para trabalhos em couro que fura usando uma água. Em
1830, o francês Barthelemy Thimonnier apresentou um projeto que usava uma
agulha de gancho, fazendo 200 pontos em cadeia por minuto. As costureiras
faziam só 30 pontos por minuto na mão.
O psicólogo e poeta Ítalo Francisco
Campos, que já foi citado mais de uma vez neste blog e entrevistado sobre as
reações de uma mãe ao conteúdo de um poema (para ler, ou reler, clique aqui), nos
presenteou com o poema Corte e Costura, que reproduzimos abaixo,
acompanhado da bela canção Carrinho de Linha, composição de Walter Queirós, na interpretação
extraordinária de Teresa Cristina e o Grupo Semente.
A
arte de costurar voltou a ter destaque nesse cenário de pandemia. Isoladas em
casa, as pessoas estão dedicando por parte de seus tempos a fazer costuras,
máscaras de proteção, aventais e mesmo roupas para crianças e adultos.
Um bom Dia da
Costureira para todos, com muito prazer e arte, em meio a esse mundo ameaçado
pela Covid-19 e confinado para fugir do coronavírus!
Corte e costura
Ítalo Campos
Vivo de corte e costura
Dos meus panos e planos;
Indo como patho
Ao fundo do fundo,
Do lago que me reflete.
Vivo de corte e costura
Da letra que o ferrão
Me fez: ifc, fic, cif,
Cfi, fci, amarrados
Entre si.
Refrão de sentidos
Enrolados em carretel.
Vivo de corte e costura
E, se mais costuro,
Mais me prendo,
Em camisa de força.
Remendo.
Se tudo corto,
Resto-me solto,
Sem nenhum sentido.
Bordeando o abismo.
Vivo de corte e costura,
Em ensaio, em treino,
Em artesanato.
Vivo em rastro, resto
E pathos.
Vivo por um fio.
Vivo costurando
Planos e panos,
Refletindo no lago
O que me reflete.
Vivo costurando,
Fazendo nós
Em borda e cós,
Estirando carretel.
Vivo de cortar sentidos
Amarrados em mim,
Remendando
Para não sumir.
Vivo bordando palavras,
Escrevendo sentidos,
Belos e sofridos
Amarrados por si.
Vivo pisando rastro,
Vivo costurando restos,
Vivo roto e pathos,
Equilibrando no fio
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