O
que dizer sobre o otimismo num mundo mergulhado em uma das suas maiores tragédias
de todos os tempos? O pensador chinês Confúcio, há mais de dois mil anos, observou
que “o pessimismo torna os homens cautelosos, o otimismo torna os homens
imprudentes”.
A
escritora e ativista social norte-americana Helen Keller, a primeira surdocega
a alcançar um bacharelado, aponta numa direção um pouco diferente. Ela diz que “o
otimismo é a fé em ação; nada se pode levar a efeito sem otimismo”. Keller
tornou-se famosa pelo extraordinário trabalho que realizou em favor das pessoas
com deficiência.
O
drama entre otimismo e pessimismo tomou conta das cabeças de milhões de
habitantes desse planeta desde o surgimento do coronavírus. Nesta quarta-feira
(20/05), enquanto escrevo, a Covid-19 atinge 188 países, com 5 milhões de contaminados,
tendo a doença causado a morte de mais de 324 mil pessoas.
O
pessimismo toma conta pelo viés do desconhecimento, ou do pouco conhecimento
que os profissionais de saúde têm da doença, desde as suas origens, contágios,
infecções causadas, tempo de tratamento, convalescença, sequelas e possibilidade,
ou não, de recidiva.
O otimismo pode ser sentido na corrida dos laboratórios, cientistas e estudiosos na busca de medicamento capaz de curar o paciente infectado, mas, principalmente, na busca de vacina em tempo recorde. Hoje, no mundo, cerca de 100 projetos estão em andamento para se alcançar a vacina. Os especialistas consideram ser este o caminho eficaz para conter o vírus, que pode continuar circulando por tempo indeterminado.
A
humanidade quer e precisa ser otimista. Os sistemas de saúde estão sendo
levados ao colapso e aumentam ainda mais o número de mortes, desta vez por incapacidade
de assistência. O otimismo para que sejam encontrados medicamentos e vacina
mora nos corações de milhões de pessoas em todo o mundo.
O
jornalista, ensaísta e filósofo francês Émile-Auguste Chartier, que nasceu em
1868 e morreu em 1951, tendo, portanto, vivido duas guerras mundiais e a gripe
espanhola, disse com muita sabedoria que “o pessimismo é humor; o otimismo é
vontade”.
Na
literatura, a obra do poeta brasileiro Augusto dos Anjos, que viveu pouco,
apenas 30 anos, é marcada pela presença da morte, angústia, uso de metáforas,
exploração de um tom melancólico e pessimista. Mas, alguns estudiosos,
descobriram aspectos diversos na análise de sua obra completa, inclusive com
tons de otimismo, com vocabulário mais amenos e temas tratados de forma mais
leve.
Neste dia nacional do otimismo, destaco, abaixo, o poema Soneto. Ele traduz bem essa faceta do poeta Augusto dos Anjos, que morreu em 1914, depois de ser vítima de uma forte gripe, seguida de pneumonia. Sinais daquele tempo assim como os de agora.
No
mundo da música, destaco a belíssima e otimista canção do extraordinário Cartola O Sol Nascerá, em parceria justamente com Nelson Cavaquinho, que tornou-se conhecido pelos temas mórbidos e apego à melancolia. Aspecto também curioso no conflito dos artistas entre o pessimismo e o otimismo. Até o maluco-beleza Raul Seixas, em parceria com Paulo Coelho, andaram tendo visões otimistas, como na canção Tente Outra Vez.
Este
blog acredita que tudo isso vai passar, teremos um luz inspiradora e renovadora
ao final de tudo, e a certeza de que o sol nascerá para aquecer corações e mentes de
todos.
Assim seja, e, breve.
Soneto
Augusto dos Anjos
O sonho, a crença e o amor,
sendo a risonha
Santíssima Trindade da Ventura,
Pode ser venturosa a criatura
Que não crê, que não ama e que
não sonha?!
Pois a alma acostumada a ser
tristonha
Pode achar por acaso ou
porventura
Felicidade numa sepultura,
Contentamento numa dor medonha?!
Há muito tempo, o sonho, do meu
seio
Partiu num célere arrebatamento
De minha crença arrebentando a
grade,
Pois se eu não amo e se também
não creio
De onde me vem este
contentamento,
De onde me vem esta felicidade?!
Cartola e Raul, muito apropriado no momento. Nós acreditamos também!
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