domingo, 10 de julho de 2011

Moda de viola e a alma do caipira brasileiro

O desbravador Cornélio Pires, de terno, sentado entre Mariano e Zico Dias

 A música caipira, aquela das duplas de viola e violão, com temas voltados para o homem do interior do Brasil, sua alma, sua cultura, foi pouco a pouco sendo sufocada pela música sertaneja, com seus arranjos de orquestras e o desprezo pela viola caipira. O produto foi sendo embalado, empacotado e vendido com um apelo cada vez mais comercial, e a qualidade, por consequência, foi sendo deixada para segundo, terceiro e até último plano.
Nessa longa caminhada da música caipira, que começou no final da década 20 do século passado, muita coisa bonita e de forte expressão da cultura interiorana foi produzida. O interesse das gravadoras só começou graças ao espírito aventureiro e corajoso de Cornélio Pires. Ele enfrentou o preconceito e conseguiu lançar uma série de gravações de música rural a partir de meados do ano de 1929. Começava a ser comercializado um estilo bem interiorano dessa rica história da música brasileira, abrangendo principalmente São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Já falei aqui sobre essa riqueza da nossa cultura musical (para ler clique aqui).
Estava aberto o caminho para artistas valiosos como Paraguassu (com pseudônimo de Maracajá), Raul Torres (chamado de Bico Doce), Mariano e Caçula, Tonico e Tinoco, entre outros, e também para revelar um gênero tipicamente caipira: a moda de viola.
Para se ter uma idéia do tamanho do preconceito das gravadoras, o clássico do século da música rural, Tristeza do Jeca, só foi gravado por Paraguassu em 1937, embora tenha sido composto em 1925.
Faço esse comentário porque ontem, dia do meu aniversário, fui ouvir um CD que o meu amigo Itaney Campos, desembargador e poeta, deu-me de presente. Entre tantas coisas bonitas de canções folclóricas, sertanejas e caipiras, estava lá Cheiro de Relva, composição de José Fortuna e Dino Franco. Uma música bonita, que tem uma letra simplesmente maravilhosa.
José Fortuna (foto), além de músico, foi um poeta de rara sensibilidade. Fez versões de grande sucesso como Índia e Meu Primeiro Amor, gravadas por vários artistas nacionais. Ele também foi beneficiado pelo espírito empreendedor de Cornélio Pires. José Fortuna e o irmão Elclides Fortuna formaram a dupla “Zé Fortuna e Pitangueira” e, depois, o trio “Os Maracanãs”, acompanhados de um sanfonista (primeiro Coqueirinho, depois Rosinha e, por último Zé do Fole).
Essa música interiorana, então, tem coisas boas e artistas de talento. Pena que nos últimos anos, a qualidade está cada vez mais sendo deixada de lado. Para valorizarmos o que é bom, vamos ouvir Cheiro de Relva, nas vozes bonitas de Dino Franco e Mouraí. Ajuda a fechar o domingo e a nos prepararmos para a segunda-feira bruta.

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