domingo, 17 de julho de 2011

O talento sete ponto zero de Jorge Mautner


Jorge Mautner é uma das páginas interessantes dessa rica história da música popular brasileira. Sua formação diferenciada tem raízes no seu passado e também na mistura que sempre caracterizou a cultura brasileira. Mautner é filho de imigrantes que fugiram dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Sua mãe, Anna Illich, austríaca de origem iugoslava, católica, cuidava dos afazeres domésticos. Seu pai, Paul Mautner, judeu-austríaco, era extremamente culto.
Jorge Mautner nasceu logo que o casal chegou ao Rio de Janeiro, no dia 17 de janeiro de 1941. Sua irmã Susana Mautner não conseguiu vir para o Brasil, ficando na Áustria. A mãe dele caiu em depressão, tendo inclusive crises de paralisia. Com isso, Jorge Mautner passava a maior parte do tempo com a babá Lúcia, que era Yalorixá e levava o garoto para os terreiros, onde começou a conviver com os batuques do candomblé.
Anna Illich separa-se de Paul Mautner e, algum tempo depois, casa-se com o violinista Henri Müller e com ele muda-se para São Paulo, levando Jorge em sua companhia. Henri era a primeira viola da Orquestra Sinfônica de São Paulo e ensina o enteado a arte do violino.
Estava delineada a receita capaz de gerar um músico do talento e da criatividade de Jorge Mautner, que este ano realiza uma série de apresentações e projetos para comemorar os seus 70 anos de idade. Começou com um grande show no Circo Voador, no Rio de Janeiro, com a Orquestra Imperial e a participação de Jards Macalé, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Vercillo e do grupo de Teatro Afro Reggae. Depois, apresentou-se na Casa de Francisca, tendo ao lado o violão do seu parceiro Nelson Jacobina.
Jorge Mautner escreveu vários livros, entre eles, Deus da Chuva e da Morte, que recebeu o prêmio Jabuti de literatura, em 1962. Criou o Partido do Kaos, aderiu ao Partido Comunista e tinha uma coluna diária, no jornal Última Hora, chamada Bilhetes do Kaos, onde comentava sua visão de mundo, baseada na trilogia do sexo, sangue e futebol. Depois do Golpe Militar de 64, foi preso, enquadrado na Lei de Segurança Nacional e exilou-se nos Estados Unidos, onde trabalhou na Unesco.
Voltou para o Brasil e juntou-se ao Tropicalismo de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Compôs muitas canções belíssimas, como Maracatu Atômico, com Gil, e Eu Não Peço Desculpas, que gravou com Caetano.
Neste domingo frio e modorrento, nada melhor do que refletir um pouco sobre esse talentoso compositor e músico brasileiro, seu bom astral e sua filosofia de vida. Vale a pena ouvir as duas canções citadas acima. Primeiro um vídeo em que ele canta e fala um pouco sobre sua vida. No segundo, um áudio da gravação de Eu Não Peço Desculpas - e não pede mesmo.


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