Manuel Bandeira é dos meus poetas preferidos. Seus versos são delirantes, apaixonantes. Percorrem a modernidade sem virar as costas para o romantismo. Mostram a razão e os sentimentos, sem perder a sintonia e, muito menos, a harmonia. São livres, sem perder o ritmo e a sonoridade das frases e das palavras. Seus versos, quando encaixados formalmente na métrica, falam de liberdade e abrem as portas para a imensidão. Então, nos deixam livres de qualquer risco de submissão.
Dias desses, li esses versos abaixo de Manuel Bandeira que me deixaram, de certa forma, intrigado. Não tive a ousadia de divergir do poeta. Longe disso.
Mas como o amor é tão profundo e complexo, tive e continuo tendo uma inspiração diversa. Cheguei até a arriscar uns versos sobre a busca da felicidade entre corpos e almas nesta vida mundana. Resolvi arriscar mais ainda: os versos foram dedicados ao grande poeta, com todo e o maior respeito.
Arte de Amar
Manuel Bandeira
Manuel Bandeira
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
Amor de corpo e alma
José Carlos Camapum Barroso
A Manuel Bandeira
O amor é o encontro de almas
Em águas calmas e profundas
É mergulhar em um mundo
Onde os corpos, sós, não se juntam
É desafio pleno e contínuo
Por atritos que geram faíscas.
Se o corpo trisca, a alma pisca...
E o tremor vira um tsunami
É pulsar diário, quântico,
Ondas que deságuam na baía.
Basta um leve toque romântico...
As almas levitam na travessia
Em Deus o amor é extremo.
Almas se juntam; corpos, não.
Curvam-se ao poder Supremo,
Longe dos desafios da solidão
Riscos mundanos são eternos.
Os celestes, nem tanto assim.
E nesses pulsares incertos,
Almas e corpos dizem sim,
Em uma sinfônica sintonia.
Com o coro de poetas a cantar,
Uma luz nova então irradia,
Como Bandeira a bandeirar.
Amor quando de corpo e alma:
Amor quando de corpo e alma:
É terra, é fogo, é água e ar...
Achei muito legal o poema, José. Você tá pleno de lirismo. O texto é musical e lírico. Afeta a sensibilidade. Mas por curiosidade, que v. quis dizer com "os riscos mudanos são eternos"? Como vc diz, o Bandeira em muitos momentos é extremamente lírico, como naquele poema em que diz "Seu corpo claro e perfeito/ seu corpo de maravilha/ quero estreitá-lo no leito/estreito da redondilha". Genial, né?
ResponderExcluirGrande mestre, Itaney. Que bom que você gostou. Aqui nesta vida, neste mundo, tudo o que fazemos, inclusive no amor, tem sempre risco. E nós estamos sempre aceitando esse "correr riscos" para ter aquilo que julgamos prazeroso. Imagino que lá na outra vida, ao lado de Deus, no que seria o Paraíso, as coisas são eternas, mas os riscos não existem. Como será então o prazer? Talvez eu tenha viajado um pouco nessa meditação... Sei lá.
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