domingo, 3 de julho de 2011

Amor de corpo e alma e a arte de amar

Manuel Bandeira é dos meus poetas preferidos. Seus versos são delirantes, apaixonantes. Percorrem a modernidade sem virar as costas para o romantismo. Mostram a razão e os sentimentos, sem perder a sintonia e, muito menos, a harmonia. São livres, sem perder o ritmo e a sonoridade das frases e das palavras. Seus versos, quando encaixados formalmente na métrica, falam de liberdade e abrem as portas para a imensidão. Então, nos deixam livres de qualquer risco de submissão.
Dias desses, li esses versos abaixo de Manuel Bandeira que me deixaram, de certa forma, intrigado. Não tive a ousadia de divergir do poeta. Longe disso.
Mas como o amor é tão profundo e complexo, tive e continuo tendo uma inspiração diversa. Cheguei até a arriscar uns versos sobre a busca da felicidade entre corpos e almas nesta vida mundana. Resolvi arriscar mais ainda: os versos foram dedicados ao grande poeta, com todo e o maior respeito.

Arte de Amar
Manuel Bandeira

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


Amor de corpo e alma
José Carlos Camapum Barroso
                     A Manuel Bandeira

O amor é o encontro de almas
Em águas calmas e profundas
É mergulhar em um mundo
Onde os corpos, sós, não se juntam

É desafio pleno e contínuo
Por atritos que geram faíscas.
Se o corpo trisca, a alma pisca...
E o tremor vira um tsunami

É pulsar diário, quântico,
Ondas que deságuam na baía.
Basta um leve toque romântico...
As almas levitam na travessia

Em Deus o amor é extremo.
Almas se juntam; corpos, não.
Curvam-se ao poder Supremo,
Longe dos desafios da solidão

Riscos mundanos são eternos.
Os celestes, nem tanto assim.
E nesses pulsares incertos,
Almas e corpos dizem sim,
Em uma sinfônica sintonia.

Com o coro de poetas a cantar,
Uma luz nova então irradia,
Como Bandeira a bandeirar.
Amor quando de corpo e alma:
É terra, é fogo, é água e ar...

2 comentários:

  1. Achei muito legal o poema, José. Você tá pleno de lirismo. O texto é musical e lírico. Afeta a sensibilidade. Mas por curiosidade, que v. quis dizer com "os riscos mudanos são eternos"? Como vc diz, o Bandeira em muitos momentos é extremamente lírico, como naquele poema em que diz "Seu corpo claro e perfeito/ seu corpo de maravilha/ quero estreitá-lo no leito/estreito da redondilha". Genial, né?

    ResponderExcluir
  2. Grande mestre, Itaney. Que bom que você gostou. Aqui nesta vida, neste mundo, tudo o que fazemos, inclusive no amor, tem sempre risco. E nós estamos sempre aceitando esse "correr riscos" para ter aquilo que julgamos prazeroso. Imagino que lá na outra vida, ao lado de Deus, no que seria o Paraíso, as coisas são eternas, mas os riscos não existem. Como será então o prazer? Talvez eu tenha viajado um pouco nessa meditação... Sei lá.

    ResponderExcluir