Dia de Proteção às Florestas e a Saga da Amazônia

O Brasil trava uma árdua batalha para impedir o avanço do desmatamento na Floresta Amazônica. O governo federal chegou a criar um comitê de crise, assustado com o aumento vertiginoso dos índices de desmatamento nos meses de março e abril, em relação a períodos anteriores.

Tudo indica que o comitê está conseguindo segurar a fúria destruidora dos agricultores, que são mais vorazes principalmente no Pará e no Mato Grosso. Segundo dados do Ibama, a reversão pode evitar que o Brasil atinja uma marca maior de desmatamento este ano em relação aos dois anos anteriores.

Essa briga pela preservação da Amazônia e sua exploração de forma sustentável já vem de longa data. Não é uma bandeira de xiitas ambientalistas, como costumam argumentar os seguidores e admiradores da União Democrática Ruralista (UDR).

Hoje é o Dia de Proteção às Florestas. Um bom momento para refletirmos sobre a fúria desenvolvimentista, e também sobre qual sociedade queremos construir para o futuro. Todos nós temos uma contribuição a dar nesse processo. Mínima que seja.

Vital Farias, neste início de noite de domingo, pode colocar uma boa dose de bom senso sobre o tema. Principalmente com a sua bela canção A Saga da Amazônia. Depois, é esperar a segunda-feira calmamente.

Saga da Amazônia

Vital Farias

Composição: Vital Farias

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era: fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, prá onde vai se mudar???
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão:

Pos mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro
roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez, desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
prá gente que tem memória, muita crença, muito amor
prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador...