Sequência de fotos da tragédia norueguesa, ocorrida na última sexta-feira |
O ovo da serpente dos tempos da economia globalizada começa a tomar contornos claros e assustadores na Europa, mais acentuadamente no norte europeu. A crise econômica, acompanhada do desemprego e da falta de investimentos nas economias nacionais, vem gerando, cada vez mais, preconceitos contra imigrantes e muçulmanos, somados a uma forte e clara aversão às atividades culturais e políticas. A tragédia ocorrida na Noruega, com a morte de 76 pessoas, é mais uma etapa desse processo.
Tenho escrito sobre os riscos que a crise econômica européia vem gerando para as atividades culturais de países como Grécia, Portugal, Irlanda e Itália (para ler clique aqui). Mas a dimensão da ameaça soa cada vez maior, na medida em que as ações extremistas visam também o que eles chamam de “marxismo cultural”, conforme declarações de Anders Behring Breivik, o autor dos assassinatos na sexta-feira norueguesa, que também professa seu ódio por muçulmanos.
As dezenas de jovens assassinados a tiros na ilha de Utoeya estavam simplesmente participando de uma colônia de férias do Partido Trabalhista, atualmente no poder. O caldeirão da intransigência está fervendo, numa mistura de ódio contra muçulmanos, imigrantes, atividades culturais e políticas supostamente marxistas.
O caldeirão da intransigência, no qual foi aquecido o fanatismo nazista e fascista, numa época não tão distante, tinha ingredientes como o nacionalismo exacerbado, o ódio contra judeus e comunistas. Além de trágico é triste, mas não deixa de ser curioso, perceber essa troca de ódio contra manifestações religiosas de judeus para mulçumanos.
No manifesto de cerca de 1.500 páginas, Anders Behring destila seu ódio também contra a miscigenação de culturas no Brasil. Segundo ele, foi isso que produziu a corrupção e a ineficiência no estado brasileiro, e também gerou a falta de coesão nacional e a eterna disputa entre “culturas conflitantes”.
Dirigentes de países europeus têm defendido insistentemente a morte do multiculturalismo. A chanceler Angela Merkel, da Alemanha, decretou o fracasso completo do projeto que defendia a convivência entre imigrantes e alemães, se para tanto for preciso preservar a cultura daqueles.
Minhas preocupações com as ameaças ao patrimônio cultural nos países da Europa procedem. E agora ainda vem esse fanático, assassino sanguinário, atacar a nossa mistura de raças e cultura. Para ajudar a espantar a tristeza do povo da Noruega e reafirmar a paixão pela nossa cultura, nada melhor do que assistir a esse vídeo em que Maria Bethania canta o Samba da Benção, de Vinícius de Moraes e Baden Powel.
E viva Vinícius, o branco mais preto do Brasil! Saravá!
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