quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Delegado faz poesia mas desagrada a Corregedoria

Reinaldo Lobo, delegado-poeta, em foto do Correio Braziliense
A inusitada petição do poeta-advogado Ronaldo Cunha Lima, que em versos pediu a liberação de um violão apreendido durante uma serenata (para ler neste blog, clique aqui), serviu de inspiração para um delegado de polícia do Distrito Federal, que também usou sua veia poética ao relatar, em versos, a prisão de um homem acusado de receptação.
O fato ocorreu na 29ª Delegacia de Polícia, na região administrativa do Riacho Fundo, no dia 26 do mês passado. O delegado Reinaldo Lobo disse à imprensa que o objetivo era o de propiciar uma leitura mais alegre, suave. Mas, não foi esse o entendimento da Corregedoria da Polícia Civil, que devolveu a peça para que o delegado fizesse a adequação da redação.
Em nota, a Corregedoria informou que “os documentos devem obedecer a critérios técnicos e legais da norma vigente, haja vista tratar-se de um instrumento formal das investigações da Polícia Judiciária”. Argumento mais burocrático que esse é impossível.
O juiz do caso do violão foi mais criativo, menos burocrático e não deixou de observar as exigências da Lei e de atender ao interesse da sociedade: respondeu maravilhosamente bem por meio de um texto poético. O advogado e o juiz do caso anterior, assim como o delegado da pendenga atual, todos eles não têm por hábito despachar em versos. Fizeram isso de forma extraordinária e excepcional, produzindo um documento histórico, literário, objetivo e perfeitamente aceitável.
No caso do delegado, o que precisaria ser esclarecido é se ele deixou de agregar informações vitais para a instrução da ocorrência. Se as informações não eram suficientes, a peça deveria ser devolvida para complementação de dados, e não para que a redação sofresse adequação. A meu ver, data vênia, não há nada de errado com o texto.
Publico abaixo a poesia do delegado para que os amigos do blog façam os seus julgamentos. Eu prefiro louvar o trabalho literário ao burocrático. Mas, enfim...


Delegado Poeta
Reinaldo Lobo

Já era quase madrugada
Neste querido Riacho Fundo
Cidade muito amada
Que arranca elogios de todo mundo

O plantão estava tranqüilo
Até que de longe se escuta um zunido
E todos passam a esperar
A chegada da Polícia Militar

Logo surge a viatura
Desce um policial fardado
Que sem nenhuma frescura
Traz preso um sujeito folgado

Procura pela Autoridade
Narra a ele a sua verdade
Que o prendeu sem piedade
Pois sem nenhuma autorização
Pelas ruas ermas todo tranquilão
Estava em uma motocicleta com restrição

A Autoridade desconfiada
Já iniciou o seu sermão
Mostrou ao preso a papelada
Que a sua ficha era do cão
Ia checar sua situação
O preso pediu desculpa
Disse que não tinha culpa
Pois só estava na garupa

Foi checada a situação
Ele é mesmo sem noção
Estava preso na domiciliar
Não conseguiu mais se explicar
A motocicleta era roubada
A sua boa fé era furada

Se na garupa ou no volante
Sei que fiz esse flagrante
Desse cara petulante
Que no crime não é estreante
Foi lavrado o flagrante
Pelo crime de receptação
Pois só com a polícia atuante
Protegeremos a população

A fiança foi fixada
E claro não foi paga
E enquanto não vier a cutucada
Manteremos assim preso qualquer pessoa má afamada

Já hoje aqui esteve pra testemunhar
A vítima, meu quase xará
Cuja felicidade do seu gargalho
Nos fez compensar todo o trabalho

As diligências foram concluídas
O inquérito me vem pra relatar
Mas como nesta satélite acabamos de chegar
E não trouxemos os modelos pra usar
Resta-nos apenas inovar

Resolvi fazê-lo em poesia
Pois carrego no peito a magia
De quem ama a fantasia
De lutar pela Paz ou contra qualquer covardia

Assim seguimos em mais um plantão
Esperando a próxima situação
De terno, distintivo, pistola e caneta na mão
No cumprimento da fé de nossa missão

Riacho Fundo, 26 de Julho de 2011
Del REINALDO LOBO
63.904-4

4 comentários:

  1. Parabéns ao Delegado pela escolha da linguagem poética no seu trabalho . Inovou e agradou . A poesia nunca está no lugar errado, é como o amor, tudo que fazemos com amor sai melhor. E o processo do Delegado entra para a história pela bela poesia.

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  2. Estou seguindo a linha do Delegado, vou fazer poesia pra tentar relatar minha vidá diária como diretor de escola!!!

    Quem sabe a coisa não fica tão amarga! Já fiz meu primeiro poema, depois posto aqui!
    Ao poeta delegado meu agradecimento, serviu de inspiração para registrar meus dias de tormento!!!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O poema abaixo retrata um dia de trabalho no caso sexta feira dia 02 de setembro de 2011.

    Fim do Mundo

    Na casa do Saber
    Onde a paz deveria prevalecer!
    O Circo dos Horrores
    estava formado.
    Vidros quebrados;
    mestres estressados!
    Discentes espalhados,

    Pensei! O fim do mundo chegou
    E ninguém me avisou!
    Com a briga então;
    nem funcionários
    nem pelotão de choque
    nem Tropa de Elite
    conseguia conter a multidão!

    Duas brigaram,
    Os demais se agitaram!
    Enquanto socorria
    o acidentado com braço quebrado
    outro no vidro havia se cortado!

    Protótipo de Carandirú formado!

    O desespero tomou conta de mim
    Desmaio, corro, choro, rezo!
    Agora! Chegou o meu fim!
    Forças, não sei de onde tirei
    Suspensão,
    para quem podia dar, dei!

    No caos do momento
    Faz-se o que é possível
    Pra não prolongar o tormento!

    Balanço do dia!

    Como prêmio, um B.O tomei!
    A genitora ofendida
    com minha investida
    sobre seu rebento mal criado,
    tomou partido do lado errado!

    Essa cria fica comigo,
    alguns dias.
    Com os pais,
    pelo resto da vida!
    A mim, sua educação não pertence
    Torço sinceramente
    para que dê gente!
    e não aumente a infeliz
    estatística de delinquentes!

    link: http://pfebris.blogspot.com/

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