terça-feira, 23 de agosto de 2011

Nelson Rodrigues seria hoje um menino de 99 anos

Como ninguém é perfeito, o escritor, dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues (foto) tinha um defeito: era torcedor do Fluminense. Fora isso, era genial, e tem lugar de destaque na literatura brasileira pelo que produziu de peças teatrais, crônicas, romances e contos. Tinha uma inspiração invejável e ficou conhecido pelas frases que cunhava com engenho e arte.
Nelson Rodrigues foi um realista em plena época do modernismo, sem deixar de inovar. Sua obra criou a tragédia carioca, carregada de erotismo e sempre mostrando o lado sórdido da sociedade de sua época. Ele dizia, muito apropriadamente, que sempre foi um menino que via o amor pelo buraco da fechadura: “Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico (desde menino)”.
Tinha apenas quatro anos de idade, quando uma vizinha invadiu sua casa dizendo para sua mãe: “Todos os seus filhos podem freqüentar a minha casa, menos o Nelson”. Em seguida, explicou: Vira o Nelson aos beijos com sua filha de três anos, com ele deitado sobre ela, numa atitude assim, assim... Tarado!
Quando tinha oito anos, participou de um concurso de redação em sala de aula. O tema era livre e o melhor texto seria lido em sala de aula. Terminada a aula, as redações foram entregues. A professora quase teve um desmaio ao ler a redação de Nelson: a história era sobre um adultério. O marido chega em casa e encontra a mulher nua, na cama, e o vulto de um homem fugindo pela janela. O marido pega uma faca e liquida a mulher. Depois, ajoelha-se e pede perdão. O texto era perfeito, mas a professora inventou um empate e leu a outra redação.
Tricolor, um raro defeito de Nelson
Nelson era pernambucano de Recife e o quinto de uma família de 14 filhos. Foi para o Rio de Janeiro ainda criança e, se estivesse vivo, seria hoje, dia 23 de agosto, um menino de 99 anos de idade.
Começou sua carreira jornalística como repórter de polícia do jornal A Manhã, aos 13 anos de idade. Impressionava os colegas pela capacidade de dramatizar fatos corriqueiros. Conviveu com figuras ilustres como Apparício Torelly, o Aporelly, que mais tarde se denominaria “Barão de Itararé”, além de Danton Jobim, Orestes Barbosa e Joracy Camargo, entre outros.
No dia 27 de dezembro de 1929, com apenas 17 anos, presencia o assassinato de seu irmão Roberto Rodrigues, na redação do jornal Crítica – fato que iria marcar pra sempre sua vida de escritor. O jornal publicara no dia anterior uma matéria, escrita por Orestes Barbosa, com ilustração de Roberto, sobre a separação de Sylvia Serafim e João Thibau Júnior. Sylvia entrou na redação procurando por Mário Rodrigues. Não o encontrando, procurou Roberto e acertou um tiro em seu estômago, com uma arma que acabara de comprar.
O irmão de Nelson Rodrigues morreu alguns dias depois e seu pai, deprimido e inconformado, faleceu seis meses após a tragédia. Todos esses fatos moldaram o olho com o qual Nelson passou a enxergar a realidade, e não apenas o amor, pelo buraco da fechadura. Os ingredientes da sexualidade e da sensualidade sempre estiveram presentes em suas obras, desde a infância.
Nelson Rodrigues morreu aos 68 anos de idade, numa manhã de domingo, vítima de complicações cardíacas e respiratórias. Naquele mesmo dia, à tarde, ele faria treze pontos na Loteria Esportiva, num bolão com seu irmão Augusto. Deixou um pedido que foi prontamente atendido pela esposa. Na lápide, foi escrito o nome dele e o de Elza, com a frase: “Unidos para além da vida e da morte. E é só”.
Nelson tinha também como irmão Mário Filho, que deu nome ao Maracanã, e era flamenguista. Mas, aí é outra história... Abaixo algumas frases de Nelson Rodrigues e um vídeo baseado em um texto de sua autoria. A mininovela, de apenas dez minutos, foi produzida pela escola de atores Wolff Maia. Dá pra matar a saudade de Nelson e comemorar seus 99 anos de talento-menino.

ALGUMAS FRASES:

“Nem todas as mulheres gostam de apanhar, só as normais”.

“O brasileiro quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte”.

“Só o inimigo não trai nunca”.

O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjeto que um homem deseje a mãe de seus próprios filhos”.

“O dinheiro compra até o amor verdadeiro”.


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