sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Lago da Serra da Mesa é fonte de inspiração poética

Minha irmã, Juracema Barroso Camapum (na foto, no lago da Serra da Mesa, em Uruaçu, Goiás), é uma apaixonada pela natureza, principalmente pela água. Costumamos dizer, entre os irmãos, que para deixá-la feliz basta um rego d’água – na realidade, um filetezinho de água já é suficiente para espantar suas angústias.
É bom demais gente desse jeito. A felicidade penetra nas veias e na alma com muito mais facilidade e intensidade.
Ela também tem uma boa veia poética, que certamente herdou lá dos nossos ancestrais, da família Coelho, dos tios de nossa mãe Iracema, e um pouco também dos Barroso. O lado Camapum é mais racional, pragmático, o que não quer dizer que não tenha suas emoções e sensibilidades. Pelo contrário.
Pois é, amigos, Jurinha – como a chamamos carinhosamente – fez mais esse texto cheio de luminosidade e poesia. Compartilho a inspiração dela com os seguidores do blog para que fechemos a sexta-feira com alegria.
De quebra, um vídeo, porque sem música o fim de semana começa meio capenga. Escolhi Elis Regina cantando Uma Casa no Campo, de Zé Rodrix e Tavito, num especial gravado em 1972 para a TV alemã – vídeo do acervo de Paulo Gonçalo. 

 Um olhar para a Natureza
Juracema Barroso Camapum
 É noite, penso em muitas coisas. Medito sobre a infância, os enganos, o sol "escaldante" da minha cidade. A superioridade como deusa da Madre Superiora. As notas e deveres escolares. A chatice da minha avó sempre repetindo: “Fui filha de Senhor Dono de Engenho, casei em uma Capela na Fazenda”.
Olho para a vela que balança seu fogo tão vulnerável, e medito triste sobre a audácia humana. A petulância juvenil. A manhã é tão alegre por aqui, são tantos pássaros, cantos em diferentes ritmos, até o pica-pau vem bater na madeira. E a brisa matinal varre as folhas, o som é seco como de uma vassoura. A noite é muita escura, me perco em pensamentos. Queremos amar, sofremos por amar. Os sonhos? Temos que sonhar. A vida é tanta coisa, por que tantas importâncias sem importâncias?
Talvez agarrar ao que nos importa, deixando os pormenores, seja um caminho para a alma ardente que agora floresce. Quando encontro pessoas que amo, e vejo em seu rosto desespero, feições de rochas nas muralhas que nos acompanham na vida, sinto vontade de colocá-las no colo, levá-las para um passeio no Lago da Serra da Mesa. Aqui é o refúgio dos Deuses. Aquieta os impulsos que às vezes me invadem. 
Noites tranquilas, puras, céu de numerosas  estrelas. Esse silêncio intenso... O final de tarde tão barulhento pelas aves que se recolhem assustadas, medo dos ataques noturnos. Desordenadamente louvo a natureza. Quantas ilhas para ancorar um barco. Sinto uma paz encantada. Flores do cerrado, lindas e frágeis, não devem ser tocadas. Passam dias, meses e anos. Necessito cada vez mais dessas belezas. E de vôos, sons e sonhos. As amarras e amarguras vão cedendo e tornando a noite clara e úmida, com cheiros de longos rios. Vibro pelo clarão da lua cheia...
Só e lentamente abro a janela. Acho nobre esse prateado noturno. Sereno é o silêncio, como o ocaso na ponte do rio Maranhão... Tudo vai amarelando, até ficar só o azul da água e o escuro aproximando.
Novamente a noite.


3 comentários:

  1. Ficou muito legal, a primeira foto é do Gilberto Barcellos, a segunda é minha . Obrigada meu irmão.Com a música da Elis completou a intençao, eu amo a natureza e minha casa de Campo, beijos !

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  2. JURA, MINHA SEMPRE QUERIDA. O seu lindo texto me fez retornar a nossa Uruaçu. O sol escaldante, o colégio com a Zilda Libânio, as noites ouvindo a Mundial (860!) sentados em várias esquinas (praça da Igreja, porta do Bco do Brasil, etc...), o mixidão na casa de sua mãe e do Leo durante a madrugada, as nossas festinhas dançantes, as baraquinhas de Santana, as serenatas, nossos anseios de vida e nossas paixões infinitas, tudo me recorda um tempo maravilhoso. Lembro-me de D. Zizi, Plinio, Kubichek,das rodadas no Bar do Tonin, dos inumeros carnavais. Hoje tenho poucos amigos formados após aquele tempo. Minhas referências são todos voces e sinto-me feliz por isso. Sua casa de campo e o contato tão intimo com natureza é delicioso e cheio de emoções. Estou com saudades de voces. Um beijão do Jorge Luiz

    PS1 - É muito chique e deve ser uma lembrança inesquecivel casar na Capela da Fazenda. Não fique chateada com esta lembrança que na nossa adolescência daqueles tempos não tinha como ser compreendida.

    PS2 - Ze, o blog esta cada dia melhor

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  3. Importâncias sem importâncias...Tudo é pode não ser. Hoje damos valor a um espaço no mundo, amanhã pouco pode nos satisfazer. Um belo texto de Jura.

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