Pronto. Era só o que faltava. Parecer do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor de Melo garante o sigilo eterno aos documentos considerados ultra-secretos. O relatório da Fênix das Alagoas – aquela figura mitológica que renasceu das cinzas dos usineiros alagoanos – foi apresentado esta semana na Comissão de Relações Exteriores do Senado e deve ser votado na semana que vem.
Para que a balança do assunto não descambe tanto para esse lado obscuro, felizmente, foi lançado na semana passado o livro Saber dos Arquivos, coordenado pelo professor da Faculdade de História e Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás (UFG), Marlon Salomon (foto). Um tema fundamental para a história e memória das sociedades, que infelizmente vem sendo discutido de forma superficial.
A proposta collorida retira poderes da Comissão que foi criada para reavaliar a classificação dos documentos. Inclusive aqueles ultra-secretos, que ficariam lacrados por 50 anos, renováveis infinitamente, o que lhes garantirá a eternidade, na versão de Collor. O parecer diz que a comissão só poderá propor as reclassificações, e não decidi-las. Pelo menos, garante o amplo acesso aos arquivos do regime militar ao proibir qualquer restrição a documentos que versem sobre violação de direitos humanos praticada por agentes públicos ou a mando de autoridades.
No final do ano de 2009, com a iniciativa do Papa Bento XVI de retomar o processo de beatificação de Pio XII, líderes israelenses pediram a abertura dos arquivos do Vaticano referentes ao período da Segunda Grande Guerra Mundial, quando Pio XII teria sido omisso na condenação ao nazismo, embora tivesse conhecimento do que ocorria nos campos de concentração com o povo judeu.
No Brasil, a luta das famílias dos mortos e desaparecidos durante a ditadura militar (1964 a 1985) vem desde os anos 70. O que se busca, neste caso, é apenas o direito das famílias realizarem os seus lutos, de legitimar a expressão pública da dor. Só agora, 26 anos depois da redemocratização, uma luz surge no fim do túnel para os familiares dos mortos e desaparecidos. Tudo indica que estamos caminhando para a abertura desses arquivos, que poderão revelar a pais e mães o que de fato aconteceu com seus filhos.
Saber dos Arquivos (capa ao lado) aprofunda a discussão sobre esse tema, tendo como colaboradores pesquisadores europeus e de Israel, que nos revelam suas opiniões e experiências vividas em seus países. Como matéria fundamental da história, os arquivos são pensados nessa obra em outra perspectiva. Na visão de Marlon Salomon “o arquivo é algo que reverbera em todo o campo do conhecimento, tornando-se uma questão social e política”.
Assinam os textos dessa obra Sonia Combe, Marlon Salomon, Antonella Salomoni, Adi Ophir e Philippe Artières. O livro chama a atenção também pela modernidade e ousadia da capa e da tipografia de Ana Laura Campos. Saber dos Arquivos é fundamental para todos que querem uma luz precisa e adequada sobre um tema tão importante para as sociedades democráticas.
Por falar em assunto importante para nós brasileiros, que tal relembrarmos Milton Nascimento e Chico Buarque cantando O Que Será Que Será (À Flor da Pele), de 1976. Ajuda a começar bem o fim de semana e a esquecer os colloridos da vida.
Que maravilha, cara! Você consegue fazer uma conexão entre um projeto de lei infame, um livro magnífico, como objeto de arte, projetado por Ana Laura, com artigos riquíssimos de pensadores múltiplos (ilustrado com a foto do prof. Marlon, um dos articulistas,que deve estar super envaidecido)e ainda, de cancha, um vídeo com uma canção do Milton, tudo com o seu texto sempre despretencioso mas preciso e alado, como deve ser todo bom texto...vale a pena seguir esse blog! Parabéns!!
ResponderExcluirParabéns aos três, ao Zé pelo bom comentário, ao Professor Marlon pelo lançamento do livro, um assunto que deve ser lembrado por muitos e muitos anos. E a querida Ana Laura pela belíssima capa, moderna e ousada, concordo com Zé Carlos.
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