Maura Charlotte Vilela, a Maurinha (essa gatinha na foto abaixo), minha sobrinha e também jornalista, fez um bonito texto sobre a passagem do tempo, seus altos e baixos, mas com um olhar atento para as grandezas que existem em cada um de nós. Um olhar feminino, de quem sabe não apenas mirar-se no espelho, diariamente; mas também ter uma visão crítica sobre o papel que cabe a cada um de nós neste mundo. Acho que ela foi feliz em suas considerações e conclusões, além de muito inspirada. Confiram abaixo e depois façam seus comentários.
Charlotte Vilela
O processo é lento, mas extremamente eficaz. Não falha, jamais! Até os 20 anos de idade, estamos em fase de crescimento. Depois... Bem, depois, começamos a dar adeus às ilusões! Mas, sinceramente, não é motivo para perder as estribeiras e vir lá das alturas, ladeira abaixo, rolando, fazendo escândalo, batendo em pedra, enroscando em arbustos, atropelando animais, pendurando em galhos... É possível, sim, caminhar com elegância rumo ao que não tem volta, traçar um roteiro mais altivo, e até apreciar a vista (altamente recomendável para quem não pretende perder a viagem!). Ah, o tempo... Assustador!
O tempo... Os anos trazem ruguinhas, levamos espetadelas, escutamos “ô, tia!”. A primeira vez que o “parente” se manifesta é sempre traumática. As seguintes descem, atravessadas, mas depois passam a ser engraçadas. Por fim, dependendo de quem for o “sobrinho”, é até desejável ser a “tia”.
A pele já não tem aquela textura acetinada. Pior, começa a sobrar. E os cabelos brancos? Os infames são fortes, sedosos, brilhantes e revolucionários. Quando chegam, é para tomar sua cabeça. O tempo passa... O tempo cobra seu preço, o tempo ensina, o tempo amolece. Ninguém pode com ele. Ah, o tempo... Implacável!
Dia desses, estava sendo atendida pelo dentista, um rapaz muito competente e bem mais jovem do que eu, quando ele comentou que determinada coisa na minha boca (calma, gente, eu não uso dentadura!) não é feita mais daquela forma. É que a tal técnica, que foi usada em mim, explicou, “só se fazia antigamente”. Num primeiro momento achei engraçado, mas depois fiquei desconcertada e, como já estava de boca aberta, permaneci naquela posição, meio embasbacada, tentando assimilando o papel de mulher antiga, preocupada se não estaria andando por aí, arrastando teias de aranha, exalando cheiro de naftalina...
Dia desses, estava sendo atendida pelo dentista, um rapaz muito competente e bem mais jovem do que eu, quando ele comentou que determinada coisa na minha boca (calma, gente, eu não uso dentadura!) não é feita mais daquela forma. É que a tal técnica, que foi usada em mim, explicou, “só se fazia antigamente”. Num primeiro momento achei engraçado, mas depois fiquei desconcertada e, como já estava de boca aberta, permaneci naquela posição, meio embasbacada, tentando assimilando o papel de mulher antiga, preocupada se não estaria andando por aí, arrastando teias de aranha, exalando cheiro de naftalina...
Tá certo que nasci no século passado. Bem, digamos, no milênio passado! Mas, “antigamente”, magoa a gente. Credo! Mas é assim mesmo. De susto em susto, e a cada surpresinha que a gente detecta no espelho, a vida vai seguindo e o jeito é dar risada, com tanta bobagem. Ah, o tempo... Sacana!
Há também sofrimento, naturalmente. Por conta de umas taxas esquisitas que mancharam a reputação dos meus exames de sangue, que foram excelentes até meus trinta e poucos, levei uma dura do médico, que me mandou para a academia aumentar o bom colesterol, porque para o mal, o tratamento seria de choque. Resignada, com medo de ficar doente, e incomodadíssima pelo fato de já apresentar taxas alteradas pela idade (o corpo da gente começa a pagar as duplicatas dos excessos), passei a acordar cedinho para malhar. Gostei! É impressionante como o corpo responde a estímulos e no meu caso ficou claro que os 12 anos de dança deixaram marcas, boas.
Há também sofrimento, naturalmente. Por conta de umas taxas esquisitas que mancharam a reputação dos meus exames de sangue, que foram excelentes até meus trinta e poucos, levei uma dura do médico, que me mandou para a academia aumentar o bom colesterol, porque para o mal, o tratamento seria de choque. Resignada, com medo de ficar doente, e incomodadíssima pelo fato de já apresentar taxas alteradas pela idade (o corpo da gente começa a pagar as duplicatas dos excessos), passei a acordar cedinho para malhar. Gostei! É impressionante como o corpo responde a estímulos e no meu caso ficou claro que os 12 anos de dança deixaram marcas, boas.
Mas, uma cena que vi no espelho, na manhã de hoje, deu-me uma tristeza, um desânimo... Lá estava eu, e mais cerca de 40 mulheres na aula do Almyr Barros, famoso por esculpir corpos em Brasília. Uma barra de 30 quilos sobre as costas e uma caneleira de 10 quilos presa à cintura, parecendo uma terrorista com bombas amarradas ao corpo, fazendo agachamento. Almyr colocou uma música vibrante e berrava: Deixa arder! Deixa queimar! E as pernas e a bunda ardiam, queimavam, tremiam. Olhei no espelho, o rosto vermelho e a constatação: Meu Deus! Vai ser assim para sempre? Eu vou passar por essa tortura voluntária para o resto da minha vida? Por que a gravidade não tira férias, ó Pai? Mas, ainda que tire, chegará o momento que não vai resolver mais, e só ginástica não vai adiantar...
Será que vou encarar o bisturi, ou terei recursos menos invasivos à disposição? Muita verdade e preocupação para as 8h30 da manhã. Ainda bem que a tal da endorfina, misturada à sensação de dever cumprido, colocou-me para quietar. Mas, ficou o incomodozinho, lá no fundo, doido para me dar rugas de preocupação. Sempre rondando, esses oportunistas, pés de galinha do cão (sem ofensas aos animais, que não têm nada disso na cútis)! Ah, o tempo... Bandido!
Naturalmente que o correr dos anos não traz só desgaste. Há coisas interessantes. Você acaba se convencendo, finalmente, de que não importa o que faça (e eu não faço muita coisa mesmo), nunca terá o corpo da Elle Macpherson. E quer saber? Isso é libertador! Os peitos já não são arrogantes como no passado, mas o uso do silicone ainda não virou lei, ou virou? Aquela menina linda de 20 anos, a quem hoje você faz um elogio sincero – sem ficar dizendo a si mesma que ela teria espremido um tantão de celulite debaixo daquela sainha –, não te ameaça em nada, porque você não quer ser como ela, não quer competir com ela e, pensa bem, não trocaria de lugar com ela nunca!
Deus me livre de voltar a ter 20 anos. É estranho, porque ao mesmo tempo em que acho que o tempo poderia pegar um pouco mais leve, andar mais pianinho, não tenho a menor vontade de voltar nele, mesmo se me fosse dada essa dádiva-armadilha. É daqui para frente! Andar para trás só se for no transport da academia, uma beleza para endurecer glúteos e pernas. Ah o tempo... Inexorável!
Se vim parar no Zeca Blog é sinal de que alguma coisa certa estou fazendo com o meu tempo, rs
ResponderExcluirObrigada, tio!
Beijos!
Adorei Maura. Bem humorado e inteligente como a autora. bjs
ResponderExcluirA vantagem do tempo é que ele é democrático, passa para todos.O importante é ganhar sabedoria para vivenciar cada era.Gostei do seu artigo,leve e ao mesmo tempo reflexivo. Parabéns Maurinha !
ResponderExcluirAmiga, divertido, crítico, muito bom gosto. Me identifiquei, também não quero voltar. Conquistas e desafios, vamos lá.
ResponderExcluirMaurinha o tempo esta sendo muito bondoso com voce. Vc é linda, sempre linda. O seu texto esta ótimo, muito criativo e divertido. Parabéns, bjs tia Jane.
ResponderExcluir