Agosto está chegando ao fim, mas não finda esse clima do cerrado brasiliense – seco e quente de dia, frio e seco de madrugada, muito vento e poeira. Os ipês amarelos estão ficando raros, já não brilham mais na imensidão do Planalto. De belo, o alvorecer, o por do sol, os últimos raios de sol na névoa seca... Enfim, agora, o canto divino do sabiá-laranjeira, a anunciar a chegada, ainda longe, da Primavera. É prenúncio de chuva? Talvez, ainda não... Mas traz uma paz pro nossos corações, alguma inspiração poética e a bela canção de Tom Jobim e Chico Buarque, vencedora do Festival Internacional da Canção, de 1968, na voz inesquecível de Elis Regina, que diz, com seu sorriso ancho: "Vou voltar, sei que ainda vou voltar..." Quem sabe, a esperança é a última que morre.
O cantar do Sabiá
(José Carlos Camapum Barroso)
Sabiá cantou no quintal,
Depois de um longo
E tenebroso inverno...
Era fim de tarde,
Ou início de manhã?
Não sei... Sei apenas
Que o mundo mudou:
Veio o ar da Primavera,
O gosto seco de chuva...
O vento de setembro
Pôs fim ao de agosto.
Sabiá-laranjeira,
Ave do peito-roxo,
Canto de primeira.
Som de Altamiro
Carrilho na flauta...
Meu sabiá, bandeira,
Brasão infinito de um
Brasil brasileiro.
Sabiá-ponga,
Sabiá-piranga,
Meu Caraxué!
O sabiá-laranja
Cantou um canto
Triste no terreiro?
Barriga-vermelha,
De um canto fino,
Um cantar sovina,
Bem brasileiro.
Sabiá, sabiá
Não me leve a mal...
Vem cantar de novo
Aqui no meu quintal.
Sabiá
Tom Jobim e Chico Buarque
Voz: Elis Regina
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De um palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor Talvez possa espantar
As noites que eu não queira
E anunciar o dia
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De um palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor Talvez possa espantar
As noites que eu não queira
E anunciar o dia
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer
Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
E é pra ficar
Sei que o amor existe
Não sou mais triste
E a nova vida já vai chegar
E a solidão vai se acabar
E a solidão vai se acabar
Sei que ainda vou voltar
E é pra ficar
Sei que o amor existe
Não sou mais triste
E a nova vida já vai chegar
E a solidão vai se acabar
E a solidão vai se acabar
Depois dessa canção genial, mais uma obra prima de Chico e Tom,na voz enfeitiçante de Elis, todos os comentários são supérfluos...fiquemos em silêncio e ouçamos, contritos, como se ouve uma oração...
ResponderExcluirZé Carlos, divido com vc um episódio que me deixou chocada: uma senhora, por volta de 70 anos, chega ao salão, senta confortavelmente (eu acho) para arrumar os cabelos, e reclama alto: "Essa droga desse passarinho incomoda todo dia na minha janela e agora tá aqui, enchendo o saco". Era o canto do sabiá (ou da sabiá?). Juro, fiquei de olhos arregalados: como é que alguém não gosta do canto de um pássaro, e deste pássaro, e ainda dá a entender que acha que é o mesmo pássaro que canta em todos os lugares? Coitada, infeliz...
ResponderExcluirBelo poema para o Sabiá, agora ele canta mais, é a chegada da primavera. Mas é sempre cantador. O poema está muito bom, o Sabiá merece, e parabéns ao poeta.
ResponderExcluirMarba, também fiquei chocado com esse episódio que você contou aqui no blog. É incrível, mas ainda existem pessoas com essa mentalidade. Quanto à dúvida sobre o canto do(a) sabiá, lembro que tanto o macho quanto a fêmea cantam. O macho mais frequentemente, até para demarcar território ou para atrair a fêmea. O canto da fêmea ocorre com menor frequência.
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