sábado, 14 de janeiro de 2012

Além dos versos, vem aí o filme sobre Florbela Espanca

Vem aí um filme que a ninguém será dado o direito de não assistir: Florbela, de Vicente Alves do Ò, cineasta português. O lançamento do filme está previsto para março. Fiquei sabendo dessa grata surpresa ao visitar o site Letra e Fel, de Renata Bonfim, poeta espírito-santense.
O treiler e making of do filme, ambos postados abaixo, foram apresentados ao público em dezembro do ano passado e emocionou a platéia. Florbela Espanca nasceu no ano de 1984, em Vila Viçosa, distrito do Porto, na região do Alentejo. Seus 36 anos de vida nesse mundo foram tumultuados, desde o nascimento até a morte, por suicídio, no ano de 1930, na pequena Vila Viçosa, onde seus restos mortais estão depositados.
Seu pai João Maria Espanca era casado com Mariana do Carmo Toscano, que não podia ter filhos. João Maria teve dois filhos – Florbela e Peles – com Antonia da Conceição Lobo, mulher de condição humilde. Ambos foram criados na casa do pai e Mariana foi madrinha dos dois.
Florbela publicou apenas dois livros em vida: Livro de Mágoas e Livro de Sóror Saudade. O terceiro livro, Chameca em Flor (uma obra prima), estava pronto quando ela morreu, mas não encontrava editora para publicação.
Suas poesias falam principalmente do amor, e de temas que o envolvem: solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo e morte. Foi uma das vozes feministas mais importantes do século XX, desafiando a conservadora sociedade portuguesa da primeira metade do século passado. Seus versos encantavam, mas assustavam a Igreja Católica, que abominou seus livros.
Os versos de Florbela Espanca mostram a dificuldade de sobrevivência do feminino numa sociedade conservadora e machista. Romanticamente, com poemas geralmente em forma de sonetos, mostrou a sensualidade, o desejo e a sedução feminina, ao lado de paixões, saudades, desilusões e tantos outros ingredientes do amor.
O filme foca uma fase específica da vida de Florbela. Foge dos estereótipos que foram sendo criados em torno do suicídio. A obra da poeta tornou-se mais conhecida e reconhecida depois de sua morte. No Brasil, seus versos já são conhecidos, lidos e cantados faz um bom tempo. No vídeo abaixo, a música Fanatismo, que Raimundo Fagner gravou, com versos de Florbela. A gravação é ao vivo, mas acho emocionante ouvir o público, em sua maior parte formado por mulheres, cantando em alto e bom som os versos dessa talentosa poetisa portuguesa.
Depois dessas três viagens pelo tempo e espaço, podemos dormir em paz. A poesia continua viva e latente.





Fanatismo
Poema de Florbela Espanca
Canta: Raimundo Fagner

Minh' alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
pois que tu és já toda minha vida

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina, fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como um deus: princípio e fim!...

Eu já te falei de tudo, mas tudo isso é pouco,
diante do que sinto.

2 comentários:

  1. OLá José Carlos, que maravilha, não? Os florbelianos esperam ansiosos pelo filme... Obrigada por ajudar a divulgar o filme, a equipe é muito boa e se empenhou em fazer algo realmente poético e bonito...
    Te desejo um ótimo domingo!
    abraços fraternos
    Renata Bomfim

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  2. Do amigo e jornalista Marco Túlio recebi o seguinte e-mail:
    "Caro Zezão,
    Chego hoje de férias paraibanas, vejo seu post sobre o filme "Florbela" e lhe conto uma coincidência:
    Em julho, viajei com a família para a Europa. Começamos por Lisboa. Chegamos num sábado de manhã e fomos à Torre de Belém. Lá estava sendo filmada a cena em que Florbela Espanca deseja acabar com a própria vida se afogando no Tejo, após a morte do irmão num acidente aéreo.
    Carros antigos, roupas idem, vários figurantes compunham a cena, cuja atriz recebeu aplausos da equipe e dos curiosos (como eu!) ao final.
    Conversei com um dos integrantes da equipe (como todo jornalista que adora perguntar!) e ele me falou das filmagens, mas que ainda não havia data para estréia. Agora, vejo que tudo deu certo, pois a película está prestes a ser lançada.
    Abraço,
    Marco Túlio"

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