quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São Paulo: 458 anos de muitos negócios e altas boemias

Motorista de táxi em São Paulo, com 30 anos ou mais de praça, fala com a maior naturalidade que não conhece a cidade. Ninguém conhece São Paulo completamente, uma capital com as dimensões de um país. Tive a oportunidade de ir à maior cidade do Brasil e a 3ª do mundo apenas umas cinco ou seis vezes, a passeio ou a trabalho. Ou seja, não conheço absolutamente nada mesmo.
São Paulo faz hoje 458 anos e sua história se confunde com a do país. A cidade tem tudo no âmbito da indústria, comércio, diversão, artes e cultura. Os problemas também são muitos e têm a dimensão de uma megalópole. Mas, seus atrativos são grandiosos e nos deixam entusiasmados.
Estar em São Paulo é se sentir amplo, realizado. As possibilidades são tantas que nos consideramos parte delas. Nossos sonhos crescem junto com a dimensão da cidade e tudo o que ela nos oferece.
Senti isso de forma mais relevante quando conheci a Vila Madalena e suas opções de boemia tão tradicionais e admiradas. A começar pelos nomes poéticos das ruas: Paulistânia, Harmonia, Purpurina, Girassol, Original, entre outros. De repente, você se encontra na esquina da Harmonia com a Purpurina. Nomes que foram sugeridos por estudantes anarquistas que freqüentavam o bairro.
Quando andei pelas ruas da Vila Madalena, de madrugada, senti a presença forte de compositores paulistas como Paulo Vanzolini, Adoniram Barbosa (sobre os dois já escrevi aqui), Geraldo Filme (de tantos carnavais) e Jorge Costa (com suas raízes rurais).
Andar pelas ruas da boemia paulista e não se lembrar de Paulo Vanzolini é quase impossível. A boemia de São Paulo é a cara de Vanzolini. Ele desenhou de forma magistral as noites e as madrugadas paulistas. Tem músicas belíssimas sobre esse tema, porém a que mais me emociona, pela criatividade e densidade poética, é a Valsa das Três da Manhã, que reproduzo abaixo.
Pouca gente sabe que Jorge Costa é autor do samba Triste Madrugada, que ficou imortalizado na voz de Jair Rodrigues. Fez tanto sucesso que acabou sofrendo certo desgaste por ter presença inevitável nas sequências de samba, em rodas de violão. Mas Jorge fez essa música na madrugada paulista, quando freqüentava um boteco que também teria tido como freguês Chico Buarque de Holanda. O cantor e compositor perdeu um violão naquele bar: “Triste madrugada foi aquela/ em que eu perdi meu violão”.
Geraldo Filme foi um artista mais ligado aos carnavais, principalmente aos desfiles da escola Vai-Vai. Compôs sambas rurais, com temas bem populares, como o Samba de Pirapora, em áudio postado abaixo.
São Paulo é isso e muito mais. Uma cidade cheia de novidades e surpresas que podem ser vividas e descobertas diariamente, tanto no mundo dos negócios, quanto no universo das atividades culturais. Isso tudo em uma cidade que tem apenas 458 aninhos de existência... Imaginem, então, quando se tornar milenar...
Parabéns, São Paulo!


Valsa Das Três da Manhã
Eu não bebo para esquecer,
Bebo para lembrar.
Bebo e cambaleio e tenho você ao meu lado
É o meu instante de felicidade.
Vou andando na neblina das ruas
Conversando com você
Cantigas da perdida felicidade.
Seu perfume se mistura
Ao cheiro bom da madrugada.
Sua mão nem pesa no meu braço
Mas seu contato é doce, doce
E o rumor do seu passo
É música, música pura.
Só não vejo você.
Mas não faz mal.
Com você ao meu lado
Isso me basta.
E lá vou eu andando na neblina, feliz
Até cair

2 comentários:

  1. José Carlos, faltou... Premeditando o Breque, Língua de Trapo, Rita Lee e os Mutantes...
    E.. alguma coisa acontece no meu coração, quando cruzo o Ipiranga e a avenida São João... Como não existe ex-paulistano. Cá está um eterno paulistano, que sempre comemora, mesmo à distância.

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  2. Tá certo o amigo Edson. Realmente, falar sobre atividades culturais de São Paulo envolve muita gente boa... Eu centrei mais naquela turma dos boêmios, aquele pessoal que atravessava as noites e as madrugadas paulistanas cantando, compondo e declamando poesias. Foi desse pessoal que eu me lembrei na minha passagem pela Vila Madalena. Grande abraço, Edson.

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