A revista Interview Brasília, editada por Maura Charlotte, reservou a última página para os pioneiros que, bravamente, ajudaram a construir o sonho da capital da República. Charlotte solicitou que eu assinasse os artigos desse espaço, como colaborador. Aceitei o desafio, e combinamos de começar a série com um artigo sobre Luiz Cruls, o chefe da missão designada, em 1892, para demarcar o quadrilátero reservado para o futuro Distrito Federal. A revista saiu no final do ano. Abaixo, compartilho com os amigos aqui do blog o primeiro artigo sobre os pioneiros de Brasília, publicado na Interview.
Luiz Cruls
O belga de alma candanga
José Carlos Camapum Barroso
Foto da Missão Cruls, debaixo de um pé de Jaboticaba, em Pirenópolis GO |
Diz o dicionário que pioneiro é aquele que está entre os primeiros a penetrar ou colonizar uma região, “abrindo-a à ocupação e ao desenvolvimento”. Ou seja, é um desbravador. Definição que serve como uma luva para a figura de Louis Ferdinand Cruls, astrônomo belga, naturalizado brasileiro como Luiz Cruls, e que foi responsável pela delimitação do quadrilátero de 14.400 km² para onde seria transferida a capital do Brasil.
Como todos que de alguma forma ajudaram a construir Brasília, o belga era um sonhador. Começou a sonhar cedo com o Brasil, estimulado pelas histórias contadas por um amigo brasileiro. Embarcou para cá na viagem inaugural do navio a vapor Orénoque, em 1874, na companhia de dezenas de migrantes europeus e asiáticos. Viajou pelo Universo ao estudar o planeta Marte e ao observar, da cidade chilena de Punta Arenas, o trânsito de Vênus.
Pouca gente sabe que seu filho Gastão Cruls foi parceiro do Marechal Rondon nas inspeções às fronteiras brasileiras – herdeiro, portanto, do espírito desbravador e aventureiro do pai.
Mas a grande missão de Luiz Cruls viria, em junho de 1892, quando partiu do Rio de Janeiro para o Planalto Central de Goiás, como chefe da Comissão Exploradora do Distrito Federal, responsável pela demarcação do quadrilátero que abrigaria a capital dos sonhos de milhares de brasileiros: Brasília.
A Missão Cruls, como ficou conhecida, percorreu quatro mil quilômetros em trem de ferro, lombo de burro e a pé. Avaliou o clima da região, a topografia. Estudou a fauna, a flora, os cursos das águas, o modo de vida dos habitantes, os aspectos urbanos e arquitetônicos das cidades pelo caminho.
Mas, principalmente, trouxe em sua bagagem e dos seus 21 companheiros de expedição o espírito aventureiro, desbravador, conquistador e realizador da alma candanga, que iria permear os sonhos de todos os pioneiros seguintes. Luiz Cruls veio primeiro, mas não veio sozinho. Delimitou um quadrilátero, mas não impôs fronteiras a brasileiros e estrangeiros que viriam realizar o sonho de construir a capital do futuro.
Luiz Cruls não foi o único. Mas, foi com certeza o primeiro pioneiro de Brasília.
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