As Estampas Eucalol, a Lua e a bela voz de Pádua

As estampas Eucalol fazem parte do imaginário de milhões de brasileiros. Sua história se confunde com a do crescimento da indústria no Brasil e da publicidade como instrumento de venda. Lá pelos anos 20 do século passado, os irmãos Stern não conseguiam emplacar o sabonete Eucalol, de cor esverdeada por causa da essência de eucalipto. Os sabonetes conhecidos e apreciados no Brasil eram brancos ou cor de rosa. Os consumidores não admitiam aquela cor esverdeada e o sabonete vendia pouco.

Os irmãos Paulo e Ricardo, imigrantes judeus alemães, tentaram a ajuda inclusive da poesia. Foi lançado um concurso e o primeiro colocado teve seus versos divulgados na Revista Fon-Fon, no ano de 1928. Os versos eram os seguintes:

"Banho, para uns, é de sol; 

Outros de mar o preferem; 
Uns banho de igreja querem, 
Mas eu cá todo me assanho 
Se penso em tomar um banho 
Com sabonete EUCALOL" 
... 
Fernando Reis - Rio

Não deu certo. As vendas não aconteciam. Até que um dos irmãos teve a idéia de lançar no Brasil algo semelhante às estampas Liebig, que tanto sucesso faziam na Europa. Foram lançadas as Estampas Eucalol, que garantiram um show de vendas e de marketing até o ano de 1957, quando foi lançada a última série.

Ainda peguei, quando criança, uns rescaldos das Estampas Eucalol, no início dos anos 60, pois ficava horas de ouvido colado no rádio. Muito se falava delas e cheguei a conhecer alguns exemplares com colecionadores.

A belíssima canção Estampas Eucalol, do saudoso compositor baiano Hélio Contreiras, é uma síntese do que representam as figurinhas no imaginário de uma criança. Lembrei de tudo isso ouvindo essa canção na voz cantor e compositor goiano Pádua da Silva, ou simplesmente Pádua, interpretação que está no CD Sortido, que me foi enviado pelo amigo Itaney. Logo a seguir, claro, não poderia faltar, a interpretação original feita por Xangai, e com o amigo Ocelo fazendo o acompanhamento no Violoncelo.

Essa música me faz viajar no tempo. Retorno aos anos 60, em que sentávamos e deitávamos nos bancos da casa de Tia Constância, olhando para a Lua e ouvindo dos adultos os comentários de que o homem estava preparando uma viagem ao satélite da Terra. Era difícil de acreditar, mas aconteceu, em 1969.

Pádua mostra, também, que nós goianos temos a capacidade de apreciar e até de compor um belo samba. No CD, a composição dele “De Onde Vem Esse Samba” é exultante.

É isso... Para uma noite de sexta-feira...

(PS - Esse post vai para os amigos Nélio Bastos e Vanilda, que têm um filho maravilhoso chamado Ícaro)

Estampas Eucalol

Composição de Hélio Contreiras

Canta: Pádua

Montado no meu cavalo
Libertava prometeu
Toureava o minotauro
Era amigo de teseu
Viajava o mundo inteiro
Nas estampas eucalol
A sombra de um abacateiro
Ícaro fugia do sol.

Subia o monte Olimpo
Ribanceira lá do quintal
Mergulhava até netuno
No oceano abissal
São Jorge ia prá lua
Lutar contra o dragão
São Jorge quase morria
Mas eu lhe dava a mão
E voltava trazendo a moça
Com quem ia me casar
Era minha professora
Que roubei do Rei Lear.