Dia do Samba é amanhã, mas começou ontem...

O Trem do Samba viaja carregado de bambas - Dona Ivone Lara à frente

Amanhã é sexta-feira e Dia Nacional do Samba. Essa paixão do povo brasileiro, que, como disse Cartola, “já não é samba de terreiro, vitorioso, ele partiu para o estrangeiro”. Mais sábios, os cariocas começaram as comemorações ontem mesmo, e só devem abandoná-las na segunda-feira. Os baianos devem esticá-las um pouco mais, afinal, o Carnaval já está chegando mesmo.

No Rio de Janeiro, o Trem do Samba é um espetáculo à parte. Sai da Estação da Central do Brasil para o subúrbio de Oswaldo Cruz, na Zona Norte – lá onde a Portela e sua Velha Guarda falam mais alto e mais bonito. Cada ano que passa, faz mais sucesso. Começou com um vagão, agora já são seis. O passeio de 2010 foi, e o deste ano também será, transferido para o sábado, porque, em dia de semana, criaria um problema sério para o trânsito das pessoas que trabalham.

Há quem defenda que a Prefeitura do Rio de Janeiro deveria transformar o dia 02 de dezembro em feriado municipal para se comemorar o Dia Nacional do Samba. Torço pra que isso aconteça porque, logo, logo, algum deputado vai apresentar projeto para transformá-lo em feriado nacional. Beleza!

O samba é o que é hoje graças ao talento de compositores como Sinhô, João da Baiana, Pixinguinha, Noel Rosa, Wilson Batista, Cartola, Candeia, Tom Jobim, Baden Powel, Chico Buarque, Paulinho da Viola e tantos outros. Mas, também, graças ao povo dos morros cariocas, às escolas de sambas, seus fundadores, compositores, cantores, ritmistas e aos integrantes da velha guarda dessas escolas.

Brasília não vai deixar por menos. Grande roda de samba a partir das 16h, na plataforma (isso dá samba) inferior da rodoviária. Vários sambistas vão estar presentes.

O ZecaBlog rende suas homenagens aos sambistas resgatando a inesquecível Clara Nunes – um das maiores intérpretes da música brasileira. Neste vídeo, ela canta a belíssima Nação, de João Bosco e Aldir Blanc. No outro vídeo, Cartola, de forma bem descontraída, interpreta uma música pouco conhecida Divina Dama, que ele compôs para sua esposa.

Cartola é o próprio retrato do samba brasileiro. Viveu o seu auge, sofreu com a alienação imposta ao samba pela febre do estrangeirismo. Depois, serenamente, ajudou a resgatar o samba, que hoje é o maior responsável pelo resgate da verdadeira música popular brasileira.

Como diria Dorival Caymmi: “Quem não gosta de samba/ bom sujeito não é/ é ruim da cabeça/ ou doente do pé”.

Nação

De João Bosco e Aldir Blanc

Canta: Clara Nunes

Dorival Caymmi falou para Oxum
Com Silas tô em boa companhia
O Céu abraça a Terra,
Deságua o rio na Bahia

Jêje
Minha sede é dos rios
A minha cor é o arco-íris
Minha fome é tanta
Planta flor, irmã da bandeira
A minha sina é verde-amarela
Feito a bananeira

Ouro cobre o espelho esmeralda
No berço-esplêndido
A floresta em calda
Manjedoura d´alma
Labarágua, sete quedas em chama
Cobra de ferro, Oxum-Maré
Homem e mulher na cama

Jêje
Tuas asas de pomba
Presas nas costas
Com mel e dendê
Agüentam por um fio

Sofrem
O bafio da fera
O bombardeiro de Caramuru
A sanha d'Anhanguera

Jêje
Tua boca do lixo
Escarra o sangue
De outra hemoptise
No canal do mangue

O uirapuru das cinzas chama
Rebenta a louça, Oxum-Maré
Dança em teu mar de lama

Divina Dama

Cartola

Tudo acabado
E o baile encerrado
Atordoado fiquei
Eu dancei com você
Divina dama
Com o coração
Queimando em chama

BIS 1ª parte

Fiquei louco
Pasmado por completo
Quando me vi tão perto
De quem tenho amizade
Na febre da dança
Senti tamanha emoção
Devorar-me o coração
Divina dama

BIS 1ª parte

Quando eu vi
Que a festa estava encerrada
E não restava mais nada
De felicidade
Vinguei-me nas cordas
Da lira de um trovador
Condenando o teu amor
Tudo acabado