Carequinha não teve desejo atendido de ser enterrado com pintura no rosto |
Palhaço é aquele sujeito que além de fazer todos rirem, não tem o direito de chorar, como bem disse Nelson Cavaquinho na bela canção “Palhaço”. Realmente, deve ser muito triste ver um palhaço chorando de verdade. Imaginem uma cena, em close, de lágrimas correndo pelo rosto de um palhaço, a borrar toda a maquiagem posta ali justamente para ser irretocável e gerar alegrias.
Quem gosta de circo - e mesmo quem não gosta - sabe que o palhaço é a grande figura do mundo circense. É quem segura as pontas quando tudo dá errado. Corre lá com suas palhaçadas e faz tudo voltar à normalidade, porque o normal no circo é a alegria.
O Brasil da virada do século XIX para o XX teve um palhaço negro, que também era malabarista, compositor e cantor. Chamava-se Benjamin Oliveira, filho de escravos que ganhou a liberdade. Por muito tempo, acreditou-se que ele teria sido o primeiro palhaço negro a se apresentar em circo no mundo. Depois, descobriu-se que, antes dele, o negro cubano Raphael Padilla já encantava plateias em Paris, no papel de Chocolat, fazendo dupla com Foottit.
Benjamim Oliveira foi o primeiro a escrever textos dramáticos para serem apresentados como parte do espetáculo circense. Na realidade, ele não criou, mas consolidou um estilo que vinha se engatinhando – o de acrescentar uma parte teatral à apresentação dos circos.
Outro tradicional palhaço brasileiro foi George Savalla Gomes, o famoso Carequinha, que fez a alegria de milhares de crianças até morrer no ano de 2006, perto de completar 91 anos de idade. Simbolicamente, Carequinha foi enterrado no mesmo cemitério onde está a maioria das 503 vítimas do incêndio no Gran Circus Norte Americano, ocorrido em 1961, em Niterói.
Carequinha queria ser enterrado com o rosto pintado para levar alegria aos mortos, mas a família não permitiu. Ele foi enterrado com a roupa de palhaço que o consagrou nos palcos, picadeiros e programas de televisão.
Ao palhaço não é dado o direito de chorar, mas é permitido a ele o direito de sorrir e de comemorar datas significativas, como a de hoje em que se celebra o Dia do Palhaço. Em defesa deles, também se pode dizer que não podemos atribuir aos palhaços o sentido pejorativo da palavra, daquele sujeito que banca o idiota e se deixa enganar pelos espertinhos da vida, principalmente os políticos.
Nesse caso, os palhaços não são os palhaços. No sentido pejorativo, os palhaços somos nós. E o pior é que sabemos muito bem disso.
José Carlos, sobre ser enterrado vestido de palhaço, me lembrou o Zezito um grande amigo que desenvolvia um trabalho nos arredores de Brasilia com crianças carentes e formou muitos palhaços. Quando faleceu ainda jovem foi enterrado vestido de palhaço e uma mulltidão de palhaços acompanhou sua ultima viagem. Parabens pelo texto.
ResponderExcluirBela lembrança, Sinvaline. Esse mundo do circo e da profissão dos palhaços é cheio de belas histórias. É um universo muito arraigado na nossa cultura. Obrigado pela sua participação aqui no blog.
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