domingo, 18 de dezembro de 2011

Sábado triste leva também Sérgio Britto e Joãosinho Trinta


O que têm em comum Sérgio Britto e Joãosinho Trinta, além do fato de que ambos morreram neste sábado? (Aliás, um dia muito triste porque também perdemos Cesaria Évora). Têm em comum o fato de terem dedicado intensamente suas vidas àquilo que escolheram como verdadeira paixão: o teatro e o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Sérgio Britto é sem dúvidas um dos nomes mais importantes da história do teatro brasileiro. Dedicou toda a sua vida aos palcos, desde 1945, quando participou da montagem da peça Romeu e Julieta, no Teatro Universitário. Nesses 66 anos, atuou e dirigiu 130 peças. Trabalhou no Grupo Teatro dos Doze, no Teatro de Arena, no Teatro Brasileiro de Comédias e no teatro dos Sete, que fundou com Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Ítalo Rossi e Gianni Ratto.
Em sua brilhante carreira, ganhou vários prêmios, como diretor, inclusive o Molière Especial, por Rei Lear, de Shakespeare. Dirigiu óperas importantes, como “A Traviata” e “O Guarani”. Trabalhou como crítico literário e musical, mas sua grande paixão sempre foi o teatro. Pelos palcos, deixou de exercer a Medicina, curso para o qual recebeu diploma em 1948.
Todos os amigos, colegas de profissão e de palco são unânimes em afirmar: Sérgio Britto era pessoa de inteligência, vivacidade e ironia agudas. Além de grande artista, de talento invejável e um mestre da profissão de dramaturgo, era principalmente uma grande pessoa. Sua morte é uma perda irreparável para a cultura brasileira.
Da mesma forma, Joãosinho Trinta deixa uma lacuna enorme no Carnaval das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Artista plástico de talento, o maranhense de São Luís incorporou muito cedo o espírito do carioca, dedicando-se de corpo e alma a criar, a inovar e a revolucionar o desfile das escolas,
Entre polêmicas, reconhecimentos e aplausos, foi onze vezes campeão do maior desfile de escolas de samba do Brasil. Várias vezes, Joãosinho conquistou o vice-campeonato e tinha orgulho do primeiro desfile que dirigiu, no Salgueiro, ficando em terceiro lugar, com o belo enredo “Eneida, Amor e Fantasia”.
Joãosinho Trinta, mesmo doente, participou de alguns carnavais, recebendo homenagens de escolas de sambas, inclusive da ARUC, de Brasília. Teve um AVC, em julho de 2006, e mudou-se para a capital da República, onde fez tratamento no Hospital Sarah Kubitschek. No ano passado, recebeu título de Cidadão Brasiliense.
Ambos representam uma perda significativa para a cultura, que ajudaram a enriquecer e a preservar a memória do povo brasileiro. Com a morte de Cesaria Évora, sobre quem escrevi ontem neste blog (para ler, clique aqui), as pessoas que verdadeiramente amam a cultura estão mais tristes. Mas, o legado deles nos deixa cheios de contentamento, e continuará para sempre propiciando alegrias.
(Em homenagem a quem gosta de sambas-de-enredo de qualidade, abaixo, um dos mais belos de todos os tempos: o da Vila Izabel, de 1988, ano do Centenário da Abolição).



Kizomba, Festa da Raça
Voz: Dorina e Martinália

Valeu Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terras céus e mares
Influenciando a Abolição
Zumbi valeu
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jogo e Maracatu
Vem menininha pra dançar o Caxambu
Vem menininha pra dançar o Caxambu
Ô ô nega mina
Anastácia não se deixou escravizar
Ô ô Clementina
O pagode é o partido popular
Sarcedote ergue a taça
Convocando toda a massa
Nesse evento que com graça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção
Esta Kizomba é nossa constituição
Esta Kizomba é nossa constituição
Que magia
Reza ageum e Orixá
Tem a força da Cultura
Tem a arte e a bravura
E um bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais
E a beleza pura dos seus rituais
Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede é nossa sede
De que o Apartheid se destrua
Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede é nossa sede
De que o Apartheid se destrua
Valeu
Valeu Zumbi


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