Algo deveras intrigante é o tempo. Não apenas os cientistas, filósofos e pesquisadores dedicaram boa parte de seus tempos a tentar entender a passagem do tempo e a nossa passagem através dele. Também os poetas, escritores, pintores, escultores, artistas de um modo geral, apaixonam-se por esse tema e a ele dedicam-se de corpo e alma.
Costumamos refletir sobre o tempo em nossos aniversários, nas passagens de ano, quando nos sentimos mais próximos dos seus efeitos, da sua verdadeira dimensão em nossas vidas. Todos os anos, pronunciamos aquela célebre frase: “Nossa, como este ano passou rápido!”. E alguém sempre completa: “É... O tempo cada vez passa mais rápido”.
A sensação de que o tempo passa mais rápido é em virtude de estamos ficando mais velhos? Ou pela energia que temos, quando a temos, em vivê-lo tão intensamente que sua passagem escorre por entre os dedos? Se observarmos uma pessoa mais velha, sentada em um banco de praça, a olhar para o infinito, a sensação é a de que, para aquela pessoa, o tempo não passa...
Como é complexo o tempo. Ele é tão breve e ao mesmo tempo algo tão grandioso. Tanto que costumamos relacioná-lo aos deuses, à imensidão do Universo, ao infinito, à eternidade... Caetano Veloso bem disse, na canção abaixo postada, “és um dos deuses mais lindo, tempo, tempo, tempo”.
Feliz Ano Novo para todos os amigos e leitores aqui do ZecaBlog – este pequeno cantinho por onde o tempo também passa incólume.
O Tempo
José Carlos Camapum Barroso
O tempo do relógio
Não é como o dos
Sentimentos
Que passa como
Passa o vento...
Tempo de relógio
É compassado
Ritmado, perene...
O tempo da alma
Geme, resistente.
Não passa, ou passa
Tão urgentemente
Que o coração
Não pressente
O descompasso
Entre dor e lamento...
Ah... O tempo...
É o espaço entre
O momento que se foi
E o que ainda virá...
Entre o fogo aceso
E a chama apagada
Em nossa mente...
Onde o amor, presente,
E a dor, ausente,
Tocam-se suavemente.
Ah... O tempo...
Vingança divina
De deuses em ruína
Na imensidão do Universo,
Na exatidão dos versos
De um poeta qualquer...
Ah... O tempo
Quão desmedido é o tempo
Eu não Quero o Presente, Quero a Realidade
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterônimo de Fernando Pessoa
Heterônimo de Fernando Pessoa
Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
Ao Tempo
Francisco Joaquim Bingre, in 'Sonetos'
Levanta o pano, ó tragador das eras,
A cena mostra das fatais desditas,
Pois que no giro das paixões que incitas
Tragar venturas, vorazmente, esperas.
Do vário mundo que só nutre feras,
Co'a torva dextra lhe desvia as ditas.
Solta das asas as Tentações malditas,
Os filhos traga, que indolente geras.
Leva de rojo, c'o decretado gume,
Planos que traças ao profundo Averno.
Acende e apaga da Razão o lume!
Ó Tempo, ó Tempo, regedor do Inferno!
Louvem-te as Fúrias, de quem tens ciúme,
Que só adoro as decisões do Eterno.
A cena mostra das fatais desditas,
Pois que no giro das paixões que incitas
Tragar venturas, vorazmente, esperas.
Do vário mundo que só nutre feras,
Co'a torva dextra lhe desvia as ditas.
Solta das asas as Tentações malditas,
Os filhos traga, que indolente geras.
Leva de rojo, c'o decretado gume,
Planos que traças ao profundo Averno.
Acende e apaga da Razão o lume!
Ó Tempo, ó Tempo, regedor do Inferno!
Louvem-te as Fúrias, de quem tens ciúme,
Que só adoro as decisões do Eterno.
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