quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Os riscos do controle de TV por comando de voz

A mais nova invenção tecnológica, o controle remoto de televisão por comando de voz, traz em seu bojo uma questão bem delicada. O comando a ser obedecido será o do marido ou o da esposa? Qual vai prevalecer? O marido fala de lá: futebol; mas, a mulher diz: novela. Futebol, novela, futebol, novela... Desliga! Liga!
Imagine aí se a sogra mora na casa do sujeito. O genro, naquele raro momento em que conseguiu convencer a mulher a deixá-lo assistir o futebol, entra a sogra: “Xiiii, já começou o Jornal Nacional!” A televisão, plim-plim, muda de canal. O genro reage a altura: Eu quero é FU-TE-BOL! A TV não muda. Não está programada pra reações violentas com palavras pronunciadas sílaba a sílaba.
A evolução tecnológica vai chegar, logo, logo, a uma televisão que não obedecerá a comando de sogra. Será a única das lojas sem desconto. Venda só a vista. “Televisão anti-sogra: mais cara, mas compensa”.
Num daqueles momentos sublimes do casal, aqueles... Alguém, por acaso, balbucia: “Meu amor, se liga”. Pronto. A televisão entra no ar, o Faustão aparece na telinha: “Ô meu, você que tá aí com sua mulherzinha, tentando alguma coisa, mas não consegue... Oferece pra ela uma TV sob comando exclusivamente de voz feminina. Conquiste o amor da sua vida! Você vai ver a encrenca que arrumou pro resto dos seus dias.”
Faustão é um chato. Por falar nisso, Galvão Bueno, narrando um ataque da Seleção Brasileira: “Bola cruzada na áááárea... Sobe Neimar, dá uma chamada bicicleta, e é...” Alguém grita: DESLIGA esse chato! A televisão apaga e todo mundo perdeu o gol do Brasil! O mais bonito da Copa das Confederações!
O controle remoto foi a maior invenção da humanidade, depois do liquidificador. Como dizia minha cunhada Vênus Mara: “Manga com leite só fez mal até inventarem o liquidificador – depois dele, todos os alimentos, misturados, passaram a fazer bem”.
Exceção apenas para o “levanta-cadáver” que meu tio Zé Fernandes fez para sua esposa, tia Enoy, no tempo em que moravam em Gurupi, então Goiás, hoje Tocantins. Ela estava trabalhando na marra, no Banco da Amazônia, muito fraca e cansada. Ele bateu tudo que tinha na geladeira no liquidificador. Minha tia só tomou metade do copo e caiu desmaiada. Acabaram se separando.
Mas o controle remoto, não. Esse uniu os casais. Marido e mulher passaram a ir mais vezes para a cama, principalmente aqueles que nunca tinham o que fazer por lá. Acharam um motivo.
Agora vem o controle remoto por comando de voz para separar o que a tecnologia ultrapassada tão romanticamente uniu. É assim... Bem dizia minha sogra, de saudosa lembrança: “As coisas antigas são melhores”. Saudades da minha sogra e dos tempos em que controle remoto não obedecia a comando de voz. Tinha mais utilidade.

3 comentários:

  1. Ótima crônica Zé! Costumo dizer que tenho a alma "velha", cheia de nostalgia e saudades das 'coisas antigas'!

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  2. Zé, irreparável a crônica. Aliás, igual a todos os seus textos.
    Alguém disse que a televisão "amolece o corpo, amolece a mente, amolece a alma" e, como gostava de dizer minha mãe: "vamos e convenhamos" a TV aberta é, por excelência, mestre nessa arte.
    Quem dera, tenhamos voz para dar o comando, e o mais importante, tenhamos o que comandar, além da triste e fútil realidade televisa.

    Nélio Morais nelio.morais@anvisa.gov.br

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  3. Adélia Barroso, minha prima e filha do casal mencionado na crônica, postou o seguinte texto no Facebook:
    "Adorei. Agora que tenho genro esse troço não entra aqui em casa. Também descobri na sua crônica o real motivo da separação dos meus pais, kkkkk. beijos lindão!"

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